Foi para proteger Bolsonaro que o presidente da Câmara, Arthur Lira, adiou a votação da PEC da reeleição. Na sessão noturna desta quinta-feira, havia número suficiente de votos para a aprovar as bondades idealizadas para atenuar a fome de votos do presidente. Os aliados de Lula ajudariam a aprovar. Mas encostariam em Bolsonaro a lâmina da guilhotina. Ao notar que o pescoço de Bolsonaro ficaria nu, Lira transferiu a votação para terça-feira.
A oposição se armou para suprimir do texto da PEC a referência ao "estado de emergência". A legislação proíbe a criação ou ampliação de benefícios sociais no ano da eleição, exceto em casos de emergência ou calamidade. Para blindar Bolsonaro, o Planalto e o centrão inventaram uma emergência. Sem ela, o presidente pode ser enquadrado na lei eleitoral por abuso de poder econômico. No limite, pode ficar inelegível por oito anos.
A tropa do Planalto precisava de 308 votos para aprovar as bondades eleitorais e rejeitar a maldade. Muitos deputados voaram para os seus Estados, no pressuposto de que votariam virtualmente. Com o plenário esvaziado, a oposição manobrava para atrasar o relógio. Lira decidiu fazer um teste de fidelidade. Colocou em votação um requerimento para encerrar a discussão. Foi aprovado por 303 votos a 91. O rei da Câmara enxergou o cabo da faca da oposição.
Ficou entendido que, com o reforço dos oposicionistas, o governo teria os 308 votos para elevar o Auxílio Brasil, dobrar o vale-gás e socorrer caminhoneiros e taxistas. Mas na hora da votação do remendo que corta do texto o "estado de emergência", a tropa do Planalto, desmobilizada, talvez não atingisse o número mágico de 308, deixando Bolsonaro com a cabeça a prêmio. Lira preferiu não arriscar. De sobrevivência o rei Arthur entende. No comando do orçamento secreto, o centrão não tem interesse em botar o pescoço de Bolsonaro na guilhotina, só o Tesouro Nacional.
Por Josias de Souza
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