sexta-feira, 8 de julho de 2022

Ataques a petistas, estrume contra juiz e a ameaça arreganhada de Bolsonaro


Carro em que estava juiz Renato Borelli, que decretou prisão preventiva de pastores, é atacado. Magistrado passou a ser alvo de ameaças depois que tomou decisão, posteriormente revogada Imagem:
Reprodução/Twitter

Uma bomba caseira explodiu nesta quinta perto do palanque em que, pouco mais tarde, Lula faria um discurso em ato na Cinelândia, no Rio. O responsável foi preso. Segundo a Polícia, tratava-se de uma garrafa PET, que continha urina, à qual, entende-se, estavam atados artefatos de festa junina.

Também nesta quinta, em Brasília, uma pessoa jogou uma mistura de ovos, fezes de animais e barro contra o para-brisa do carro do juiz Renato Borelli. É o magistrado que determinou a prisão preventiva dos pastores ligados ao escândalo no MEC, depois revertida. Ele passou, então, a receber ameaças. Borelli não se feriu.

Episódios isolados? Não é a primeira vez que um ato promovido pelo PT é alvo de um ataque incompatível com a democracia. No dia 15, em Uberlândia, um drone jogou sobre manifestantes petistas um inseticida usado para eliminar moscas de estábulos. Três homens foram presos e depois liberados. Posteriormente, um deles, o agropecuarista Rodrigo Luiz Pereira, teve a prisão decretada. Ele já foi condenado por estelionato em Minas e roubo em Goiás. Constatou-se ainda que havia falsificado documentos para comprar armamentos. Segundo o MPF, durante as buscas, o acusado tentou se livrar de provas. Um fuzil que está em seu nome não foi encontrado.

Podemos fingir que essas ocorrências não têm a menor importância ou tomá-las por aquilo que são: a consequência prática do estímulo à intolerância e ao "ataque dos cães", para lembrar o Salmo 22 da Bíblia.

A FALA DE FACHIN
O ministro do STF Edson Fachin, presidente do TSE, foi convidado para falar na quarta à noite, no Wilson Center, em Washington, sobre as eleições no Brasil. Disse: "Nós poderemos ter um episódio ainda mais agravado do 6 de janeiro daqui do Capitólio". Segundo deu a entender, concorrem para evitar o pior as respectivas atuações da Justiça Eleitoral, da sociedade civil, do Parlamento, das Forças Armadas, da imprensa e da comunidade internacional, que devem, então, se empenhar em defesa das eleições.

No programa "O É da Coisa", na BandNews FM, eu critiquei a fala. Afirmei que não caberia a ele fazer especulações dessa natureza e que há uma diferença entre apontar ocorrências que ameaçam as eleições e conjecturar sobre cenários catastrofistas. Pouco minutos depois da minha crítica, eis que o presidente Jair Bolsonaro, em sua "live" ensandecida das quintas, deu a entender, ele próprio, que "nós poderemos ter um episódio ainda agravado etc". Bolsonaro sempre se encarrega em transformar o catastrofismo em diagnóstico.

A FALA DE BOLSONARO
O presidente respondeu a Fachin. Como as palavras fazem sentido, pode-se afirmar: acenou abertamente com a não realização da própria eleição. Transcrevo o que disse:
"Você sabe o que está em jogo. Você sabe como você deve se preparar não para um novo Capitólio -- ninguém quer invadir nada --, mas nós sabemos o que temos de fazer antes das eleições".

E o que é que "nós temos de fazer antes das eleições"? Bolsonaro tentou explicar:
"Dizer a vocês que já conversei com o Ministério das Relações Exteriores (...). Vamos marcar na semana que vem eu conversar com todos os embaixadores aqui no Brasil. Será um convite para todos eles. E o assunto será um PowerPoint, nada pessoal meu, para nós mostrarmos tudo o que aconteceu nas eleições de 2014, de 2018, documentado, bem como essas participações dos nossos três ministros do TSE, que são do Supremo [ele se refere a Fachin, Alexandre de Moraes e Roberto Barroso] sobre o sistema eleitoral. Nada contra o TSE. "

Não! Bolsonaro não tem prova nenhuma de fraude. Ele anuncia, com esse discurso, ou a disposição de não respeitar o resultado das unas se derrotado ou de impedir a realização de eleições. E pretenderia, então, explicar ao mundo por quê.

Todos sabemos que o presidente teve a chance de apresentar as supostas provas de que houve fraude na eleição de 2014. Limitou-se a elencar um apanhado de teorias conspiratórias veiculadas por meliantes na Internet.

Afirmou mais adiante:
"Eu acho que não preciso concluir aqui o que está na cabeça de cada um de nós e na minha também. Eu vou nas palavras do sr. ministro da Defesa que eleição é questão de segurança nacional, e o que nós queremos é transparência. Nós queremos credibilidade, confiança. Eleições não é (sic) questão de um dos Três Poderes ou do TSE. É de interesse da nossa população. Não existe coisa mais degradante, vamos assim dizer, do que alguém votar e ter dúvidas se o voto foi ou não para aquela pessoa. Não vamos discutir eleições aqui. Apenas fatos."

Levada a fala a sério, Bolsonaro teria decretado a extinção da Justiça Eleitoral. Ele já conseguiu atrair para seus delírios o ministro da Defesa, por exemplo. Em audiência na Câmara, Paulo Sergio Nogueira teve o despropósito de comparar a sistema do TSE, que não é ligado à Internet, com o adotado por bancos, como a sugerir que o tribunal não investiria o suficiente em segurança. A fala nem faz sentido.

Informa o Estadão:
"As Forças Armadas vão pressionar novamente a Justiça Eleitoral. O Ministério da Defesa planeja remeter novo ofício cobrando respostas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a três questionamentos sobre a segurança do sistema de votação."

IDEÁRIO FASCISTA
No começo da live, o presidente deu sua agenda. Nesta sexta, participa de um evento militar. No sábado, vai a duas marchas para Jesus: uma em São Paulo e outra em Uberlândia. E, se der tempo, participa de um evento em favor do "armamento do cidadão de bem". Orgulhou-se:
"Eu sou um entusiasta, né?, do armamento para o cidadão de bem. Nós estamos chegando perto de 700 mil CACs no Brasil (colecionadores, atiradores desportivos e caçadores). Clubes de tiro: ultrapassamos a cada de 1.600 clubes de tiros no Brasil. E esse números, né?, quando nós começamos, tava na ordem de 800, passamos para 1.600. Só no meu governo, dobramos o número de clubes de tiro no Brasil".

Militarização da sociedade, Deus e armas. O ideário fascista escarrado.

ENCERRO
Uma tragédia acaba de acontecer no Japão. O ex-primeiro-ministro Shinzo Abe morreu nesta sexta-feira, depois de ser baleado em um ataque durante um ato eleitoral em Nara, oeste do país. Enquanto escrevo, não se sabe se foi atingido por dois tiros ou por um.

O assassino, Tetsuya Yamagami, de 41 anos, foi preso. Ele disse que não gostava das políticas defendidas por Abe.

É preciso ficar atento ao ataque dos cães.

Inseticida, urina, estrume, bala.

O que mata é a intolerância. E quem a estimula.

Por Reinaldo Azevedo

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