quinta-feira, 14 de julho de 2022

Aliados atribuem a Bolsonaro tarefa de converter em votos a PEC de R$ 41 bi



A aprovação da PEC da eleição forneceu 41 bilhões de motivos para que o alto-comando da campanha de Bolsonaro ficasse eufórico. Mas a autorização do Congresso para que o presidente utilize as arcas do Tesouro Nacional na compra de sua passagem para o segundo turno da corrida presidencial não fez sumir a atmosfera de apreensão que vigora no comitê da reeleição. Para aliados e conselheiros, o Sol só nascerá para Bolsonaro nas pesquisas se o presidente assumir a missão de converter as benesses sociais em votos.

Numa conversa com deputado do centrão, que telefonou para festejar o fim do processo de votação da PEC do vale-tudo, um dos operadores políticos de Bolsonaro disse que a campanha estava em ritmo de "contagem regressiva". O deputado lembrou que a promulgação da emenda constitucional seria célere. O dinheiro das benesses logo começaria a chegar ao bolso dos eleitores pobres.

O interlocutor esclareceu ao parlamentar que a preocupação da campanha era outra. Ele acabara de ser informado que a Anvisa havia liberado o uso emergencial da vacina Coronavac em crianças de 3 a 5 anos. Temia que Bolsonaro torpedeasse a decisão, desaconselhando a imunização infantil. Daí a contagem regressiva. A estratégia política esbarra na natureza errática de Bolsonaro, que não pode ver um buraco na calçada oposta sem atravessar a rua para pular dentro dele.

Presidentes costumam seguir uma regra não escrita que divide os mandatos em duas fases. Nos primeiros dois anos, atua como maestro de orquestra. De costas para a plateia, ajusta as contas públicas. Nos dois últimos anos, vira mestre de bateria de escola de samba, desfilando suas realizações pela Avenida enquanto pede votos. Ao encrencar com urnas e vacinas, tomar as dores de criminosos e industrializar o ódio, Bolsonaro soa como bumbo desafinado de uma escola que não tem o que desfilar.

A prioridade da campanha é mudar o foco do candidato, fundindo a imagem de Bolsonaro aos mimos oferecidos pela PEC: Auxílio Brasil turbinado, vale-gás dobrado, socorro a caminhoneiros e taxistas... Durante todo o mandato, o rosto de Bolsonaro foi o rosto da crise. Deseja-se agora que ele se apresente ao eleitorado com uma cara de solução. Como ainda não inventaram cirurgia plástica capaz de remodelar a personalidade, o comitê tenta moderar Bolsonaro. Muitos tentaram. Todos falharam.

Por Josias de Souza

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