segunda-feira, 4 de julho de 2022

Após tachar Globo de "lixo", Bolsonaro se socorre da audiência da "lixeira"



Antes mesmo de tomar posse, Bolsonaro avisou que criaria uma espécie de Bolsa Mídia. Ainda em 2018, na condição de presidente eleito, ele declarou que era "totalmente favorável à liberdade de imprensa". Mas teve o cuidado de explicar que seu governo serviria o pão que o Tinhoso amassou aos veículos de comunicação que se comportassem de "maneira indigna". Bolsonaro soou claro: a imprensa que o imprensasse não teria "recurso do governo federal".

Hoje, às voltas com o risco de derrota, Bolsonaro redescobriu a importância da audiência. Continua chamando a Rede Globo de "lixo", mas o Planalto despejou na lixeira, nos seis primeiros meses deste ano, quase o dobro do que gastou em publicidade oficial no mesmo período em 2021. A Globo recebeu R$ 11,4 milhões até junho, contra R$ 6,5 milhões no primeiro semestre do ano passado. Um salto de 75%. A TV odiada ultrapassou concorrentes como SBT e Record, emissoras de estimação do presidente.

Bolsonaro privilegia a publicidade institucional, que trombeteia as hipotéticas realizações do governo, em detrimento das campanhas de utilidade pública. O problema das inserções que celebram feitos oficiais é que na maioria delas o governo costuma contar mentidas completas a partir de meias verdades. Mas isso sempre foi assim. Não é exclusividade da gestão Bolsonaro.

A diferença é que o presidente atual demorou a perceber que anunciar sem observar a audiência do veículo pode ser algo tão inútil quando piscar para o eleitorado no escuro. Candidato à reeleição, Bolsonaro sabe o que está fazendo. Mas o eleitor ignora a tentativa de sedução.

A conjuntura não ajuda Bolsonaro: inflação alta, crescimento mixuruca, corrupção no MEC, Petrobras no liquidificador, ameaças institucionais... Mas ficou claro desde a eleição de Fernando Collor que, com boa propaganda, parte do eleitorado pode acreditar até em ovo sem casca.

Por Josias de Souza

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