Especialista avalia que eleitores de Dória que tinham Moro como segunda opção migrariam naturalmente para Bolsonaro |
A decisão vem depois de uma série de crises internas do PSDB, da dificuldade de Doria em subir nas pesquisas de intenção de voto e da articulação do nome da senadora Simone Tebet (MDB-MS) como opção da chamada "terceira via", grupo formado por partidos de centro-direita que tenta se contrapor ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
Apesar de Doria não aparecer entre os primeiros colocados nas principais pesquisas de intenção de voto, a saída do tucano aumenta as chances de que as eleições sejam resolvidas no primeiro turno, conforme os especialistas em pesquisas de opinião pública ouvidos pela BBC News Brasil.
Para eles, pré-candidatos como Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet também podem se beneficiar, ainda que em menor grau, da retirada do ex-governador de São Paulo da disputa.
De acordo com as principais pesquisas de intenção de voto mais recentes, Doria tinha entre 2% e 5% da preferência dos entrevistados.
Em março, segundo o Datafolha, ele aparecia com 2% das intenções de voto, considerando uma margem de erro de dois pontos percentuais. Pesquisa da Quaest divulgada na primeira quinzena de maio, por sua vez, dava-lhe entre 3% e 5%, considerando uma margem de erro também de dois pontos percentuais.
De acordo com o diretor da Quaest, Felipe Nunes, dados coletados em março projetavam que uma saída de Doria do páreo beneficiaria de forma mais ou menos igual os dois líderes das pesquisas: Lula e Bolsonaro.
Dos entrevistados que afirmaram que votariam em Doria, 25% deles disseram que sua segunda opção de voto era Lula. Bolsonaro herdaria 7%, Ciro Gomes ficaria com 14% e Sergio Moro, que ainda figurava como pré-candidato, obteria 19%.
Nunes afirma que, considerando a semelhança do eleitorado de Moro com Bolsonaro, ele estima que os eleitores de Doria que tinham Moro como segunda opção migrariam naturalmente para Bolsonaro.
"A gente percebe que a distribuição das intenções de voto de Doria fica razoavelmente dividida entre Lula e Bolsonaro. Na prática, isso favorece mais o Lula, uma vez que não há uma migração significativa de votos para o seu principal adversário. Quem está na frente, continua na frente", explica Nunes.
"Quando você diminui as opções em uma eleição que está tão concentrada em dois nomes, aumentam as chances de você ter uma eleição em primeiro turno", explica.
No Brasil, a eleição termina no primeiro turno se algum candidato tiver a maioria absoluta dos votos, excluindo os brancos e nulos - ou seja, mais de 50% dos votos válidos.
O cientista político e presidente do conselho científico do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), Antonio Lavareda, concorda com a avaliação de Felipe Nunes.
"É uma questão aritmética. Com menos candidatos, há mais chances de a eleição ser resolvida ainda no primeiro turno. A saída de Doria consolida essa tendência de redução no número de pré-candidatos. O eleitorado terá menos opções e isso favorece quem está liderando as pesquisas", explicou Lavareda.
De acordo com as pesquisas de intenção de voto mais recentes, Lula lidera a corrida eleitoral. Segundo pesquisa do Datafolha em março, ele tem 42% e 43% das intenções de voto, contra 26% de Bolsonaro. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
Segundo pesquisa de maio da Quaest, Lula aparece com 45% das intenções de voto e Bolsonaro, com 28%.
Lavareda e Nunes pontuam que Ciro Gomes e Simone Tebet também podem se beneficiar com a desistência de Doria.
"Não estamos falando de um número grande de votos, mas é possível que Simone e Ciro possam subir nas pesquisas. Não será uma subida significativa, mas eles podem, sim, herdar parte desse eleitorado", destacou Lavareda.
"Simone e Ciro aparecem, agora, como os principais nomes da disputa tirando Lula e Bolsonaro. Ainda temos o André Janones (Avante), mas a tendência é que haja uma migração, ainda que pequena, para esses dois candidatos. Mesmo assim, estamos falando de um número pequeno de votos", explicou Felipe Nunes.
BBC News
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