Todo presidente no exercício do mandato tem o direito de reivindicar a reeleição, desde que disponha de desempenho para isso. Economia desaquecida, desemprego, inflação e miséria atormentam a vida dos brasileiros. Mas Bolsonaro, no poder há três anos e meio, não tem nada a dizer sobre essas ruínas, exceto que seu governo não tem culpa por nenhuma delas. O problema dos governantes que recorrem à meia verdade é que poucos conseguem resistir à tentação de valorizar exatamente a metade que é mentira.
Há um componente externo na crise brasileira. Mas a inação do governo e o estado crônico de tumulto em que vive o presidente agravam a crise. No momento, Bolsonaro deveria levar à vitrine as realizações que o credenciam para um novo mandato de quatro anos. Na falta de soluções, o presidente decidiu fabricar uma ação judicial contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, que irá assumir a presidência do Tribunal Superior Eleitoral em agosto.
A manobra de Bolsonaro é clara como água de bica: Moraes conduz no Supremo inquéritos estrelados pelo presidente. Acusando o magistrado de violar direitos e cometer abusos, o investigado cria uma atmosfera de animosidade que servirá de pretexto para contestar o resultado a ser apurado em outubro pela Justiça Eleitoral se as urnas não lhe sorrirem. Sorteado relator da encrenca no Supremo, Dias Toffoli farejou o cheiro de queimado. Arquivou a notícia-crime de Bolsonaro contra Moraes com a velocidade de um raio.
Com a mesma ligeireza, Bolsonaro protocolou sua petição contra Moraes na Procuradoria-Geral da República. Sabe que a iniciativa é natimorta. Se estivesse interessado em rever abusos hipoteticamente cometidos por Moraes encostaria pedidos de habeas corpus nos processos relatados por ele no Supremo, exigindo que fossem levados ao plenário da Corte. O que Bolsonaro busca é o conflito pelo conflito.
Nos últimos dias, Bolsonaro caprichou nos gritos, disse palavrões, estimulou a população a ser armar contra o fantasma de uma hipoitética "comunização" do país, investiu contra instituições, ameaçou contratar uma empresa privada para auditar as eleições... É como se o presidente e o candidato quisessem demonstar que não lhes faltam um rumo. A sete meses do fim do mandato, o presidente conduz o governo para a crise. A cinco meses da eleição, o candidato leva suas frustrações para a confusão.
Por Josias de Souza
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