A intenção de Bolsonaro na Petrobras não tem pretensões estruturais. Zero de discussão conceitual sobre o papel da companhia. Zero de consciência social. O objetivo principal não é mexer na política de preços. Isso daria trabalho. E este é um governo que não gosta de trabalhar.
A mão grande é para efeito circunstancial, de olho nas eleições. O presidente e seus guedes interventores querem represar o preço dos combustíveis - a chegada do aumento às bombas - até as eleições. Ponto.
Tentarão driblar a Lei das Estatais. Não enfrentá-la diretamente. Até podem tentar mexer no estatuto da Petrobras, de modo a garantir a licença para segurar preço artificialmente sem compensar os prejuízos da companhia. Mas essa, operosa, não é a prioridade.
A preocupação não é com a formação do preço. É com o preço até as eleições. Repita-se. Tiro curto. Precário.
A definição dos preços dos combustíveis continuaria submetida às regras do mercado internacional. O que o governo quer é radicalizar, no tranco, na embromação, jogando com prazos, comprando o risco de desabastecimento, o intervalo para que o aumento morda o consumidor. E qual seria o intervalo? Aquele até outubro, alcançada ou não a reeleição.
Depois, cobre-se. Dane-se. Nenhuma novidade, Paulo Guedes fortalecido exatamente no momento em que sua atuação - de interventor em empresa com capital aberto - contraria as décadas de palestrinha liberal. Nenhuma novidade.
O arranjo terá a estrutura da gambiarra. Petrobras paralisada. Convoca-se Assembleia Geral Extraordinária, para cuja preparação talvez se leve 45 dias. Dias preciosos; em que não se mexerá em preço. E então, passando o trator, forma-se novo Conselho de Administração. E nova diretoria, sob baixa independência, lembre-se, com gestão sobre o comitê que regula a mudança - também o represamento - nos preços. Jornada em cujo curso - repito - nada ocorreria. Essa é a estratégia. Intervenção que ocorreu quando a empresa se preparava para reajustar o preço da gasolina.
Ganha-se tempo. Tudo parado - inclusive o plano de investimentos - sob incerteza. Composta a nova direção, rola-se, no jeitinho, o represamento até as eleições. Driblando, contornando, explorando as margens. Esse é o programa. Intervenção pelas bordas. Para isso vêm o interventor Guedes e seus caios.
Carlos Andreazza em O Globo
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