A três meses do início formal da campanha, marcado para 16 de agosto, Lula e Bolsonaro travam uma disputa com aparência de guerra em campo aberto. De passagem por Maringá, Bolsonaro incluiu na sua receita de caos um ingrediente novo: a guerra civil. Insinuou que brasileiros armados devem se preparar para atuar como "um reforço" às Forças Armadas contra a "comunização" do Brasil. Discursando em Juiz de Fora, Lula declarou que seu adversário sofrerá nas urnas de outubro "um golpe sem fuzil, sem metralhadora".
O mundo ainda nem saiu da pandemia e já sofre os efeitos inflacionários e recessivos da guerra produzida por Vladimir Putin na Ucrânia. No Brasil, juntou-se ao padecimento econômico a opção preferencial de Bolsonaro pelo caos.
Num instante em que a inflação rosna para os brasileiros, o presidente adicionou mais raiva no seu pudim apocalíptico. Disse que a "arma de fogo é uma defesa" para a "família brasileira", pois "o povo armado jamais será escravizado."
Para Bolsonaro, "a pior ameaça não é externa, é interna". Nada a ver com juros, câmbio, dólar, descontrole fiscal ou a carestia. O inimigo é a "comunização" do Brasil.
A fórmula de Bolsonaro para evitar que o Brasil vire uma Venezuela é a formação de milícias populares nos moldes dos aparatos paramilitares armados por Hugo Chávez e Nicolás Maduro, os autocratas venezuelanos. Quer dizer: o paraíso de Bolsonaro é uma Venezuela com o sinal trocado.
Coisa ruim é um presidente que precisa preparar o país para o caos. Coisa pior é um presidente que deseja o caos. Coisa bem pior é um presidente como Bolsonaro, que fabrica o caos para camuflar sua inépcia administrativa.
Num cenário assim, Lula pode passar os dias repetindo que, se for eleito, colocará as Forças Armadas no seu lugar, respeitará as instituições e levará paz e amor aos brasileiros.
No discurso de Juiz de Fora, em meio à previsão sobre o "golpe democrático" das urnas, Lula disse que vai acabar com o teto de gastos, já destelhado por Bolsonaro. Não disse como pretende lidar com a ruína fiscal. E fica por isso mesmo. O caos de Bolsonaro tornou o debate de 2022 monotemático. Tudo parece secundário quando a democracia está sob risco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário