A mesma lógica que levou Alexandre de Moraes a passar Roberto Jefferson na tranca justificaria a expedição de uma ordem de prisão contra Sergio Reis. Assim como Jefferson, um aspirante aos palcos de ópera, o cantor sertanejo sentou praça no pelotão dos adeptos de uma intervenção militar com o capitão no comando. Tornou-se uma ordem de prisão esperando para acontecer na fila do inquérito sobre milícias digitais relatado por Moraes no Supremo Tribunal Federal.
Ex-deputado federal, Sérgio Reis pendurou vídeos radioativos nas redes sociais. Apresentou-se como líder hipotético de uma manifestação de caminhoneiros a favor de Bolsonaro. Coisa programada os três dias que antecedem o feriado de 7 de Setembro. "Queremos dar um jeito de movimentar esse país e salvar o nosso povo", disse o cantor num dos vídeos. Deseja-se, segundo ele, respaldar o presidente "para que o governo tome uma posição e o Exército tome uma posição".
Tomado pelas palavras, Sérgio Reis virou uma versão retrô daquilo que o marechal Castello Branco chamou em agosto de 1964, nos primórdios da ditadura militar, de "vivandeiras de quartel." Eram civis que se dirigiam aos quarteis para pedir extravagâncias aos militares. Sob Bolsonaro, surgiram as vivandeiras de farda. Chegam ao palácio com ares de moderação e, de repente, passam a estimular as extravagâncias do capitão. Agora, há as neovivandeiras civis.
Num segundo vídeo, que já circula nos celulares de alguns ministros da Suprema Corte, Sérgio Reis menciona a intenção de entregar ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, uma "intimação" aos senadores para "aprovar o voto impresso e tirar todos os ministros do Supremo." Na mesma peça, o cantor entoa frases assim: "Se em 30 dias eles não tirarem aqueles caras [do STF], nós vamos invadir, quebrar tudo e tirar os caras na marra."
É como se Sérgio Reis intimasse o ministro Alexandre de Moraes a tratá-lo como Roberto Jefferson. Alega-se que Reis e Jefferson apenas exercitam o direito à liberdade de expressão. O caso da dupla é diferente. Eles têm dificuldade de se exprimir. Ou, por outra, não tendo nada a dizer, os apoiadores de Bolsonaro insistem em traduzir o seu vazio retórico com palavras.
Por Josias de Souza
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