A novíssima política da República bolsonarista ganhou um símbolo para sua inconsequência: Roberto Jefferson. A prisão do aliado irritou Bolsonaro. Em privado, o presidente chamou de "atentado contra a liberdade de expressão" a ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo.
Os filhos de Bolsonaro são investigados no âmbito do mesmo inquérito que fisgou Jefferson. O capitão recebeu a detenção como uma "afronta pessoal". Avalia que o alvo de Moraes é ele, não o mandarim do PTB. O caso roça as fronteiras do surrealismo. Um político cuja biografia se confunde com uma folha corrida, ex-presidiário do mensalão, foi convertido em modelo do bolsonarismo.
Jefferson é um político flexível. Recompensado, pode ser a favor de tudo ou contra qualquer outra coisa. Integrou a milícia congressual de Collor. Sob Lula, interessou-se pelos negócios dos Correios. Pilhado, virou delator. Ainda não contou como distribuiu o mimo de R$ 4 milhões que recebeu de Delúbio Soares, então gestor das arcas do PT.
Sob Dilma, o PTB de Jefferson foi apanhado plantando bananeira na Casa da Moeda. Sob Temer, assumiu o balcão em que se vendiam no Ministério do Trabalho registros de sindicatos por cifras que também roçaram os R$ 4 milhões. Agora, Jefferson retorna à cadeia como herói da resistência do bolsonarismo.
No despacho em que mandou prender Jefferson, Moraes disse ter encaminhado ofício ao Tribunal Superior Eleitoral. Determinou que fosse investigada a suspeita de uso do fundo partidário do PTB para financiar ações criminosas contra a democracia.
O PTB é um cartório travestido de partido político, que Jefferson preside como dono. O fundo partidário é abastecido com dinheiro público. Os arquivos do TSE informam que o Tesouro pingou R$ 18,8 milhões nas arcas do PTB em 2020. Em 2021, já foram gotejados mais R$ 11,7 milhões.
É o cúmulo da desfaçatez: dinheiro arrancado do bolso do contribuinte e destinado ao financiamento da democracia pode ter sido usado para bancar atividades antidemocráticas.
Segundo Alexandre de Moraes, Jefferson integra o "núcleo político" de uma organização criminosa que age para "desestabilizar as instituições republicanas". Percorria a conjuntura incitando a prática de crimes em entrevistas e nas redes sociais.
Pregou a intervenção militar sob o comando de Bolsonaro, a invasão do Senado, a destituição dos ministros do Supremo. É graças a esse tipo de pregação que o Brasil se consolida na Era Bolsonaro como o mais antigo país do futuro do mundo.
Por Josias de Sousa
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