quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Bolsonaro submete André Mendonça a um metódico processo de encolhimento



Já se sabia que o pastor André Mendonça prometera a Bolsonaro começar com uma oração toda primeira sessão da semana no Supremo Tribunal Federal. O presidente informa agora que o indicado à vaga do ministro Marco Aurélio Mello assumiu um segundo compromisso com ele. Vai "almoçar uma vez por semana comigo", contou Bolsonaro aos seus devotos, no cercadinho do Alvorada.

Depois de emplacar Nunes Marques, escolhido para a poltrona de Celso de Mello menos pelo currículo do que pelas doses de "tubaína" que dividiu com o capitão no Alvorada, Bolsonaro deseja dispor de uma toga do tipo "prato feito". Alguém que mastigue na mesa do palácio residencial as decisões que tomará nos julgamentos da Suprema Corte.

A Comissão de Constituição e Justiça do Senado demora a sabatinar Mendonça. Julgando-se maltratado pelo Planalto, Davi Alcolumbre, presidente da comissão, usa os insultos de Bolsonaro a ministros do Supremo como pretexto para manter o preferido do presidente no freezer. Se não for aprovado rapidamente pelo Senado, Mendonça será uma pequena criatura depois do descongelamento.

Até outro dia, Mendonça era apenas um sujeito "terrivelmente evangélico" que Bolsonaro usava para fazer média com um pedaço do seu eleitorado. Com o acréscimo do almoço semanal no rol de serviços que terá de prestar, ficou claro que o quase-ex-futuro-magistrado amarga um metódico processo de encolhimento. Tornou-se um personagem terrivelmente vassalo.

No sistema feudal, vassalo é o indivíduo que, mediante juramento de fidelidade a um suserano, passa a lhe render tributos. A conta pode ser alta, pois Bolsonaro, o senhor do feudo, é estrela de inquéritos no Supremo, tem um filho denunciado por peculato e lavagem de dinheiro, tem outro filho investigado por liderar a milícia digital do gabinete do ódio e está cercado de aliados sub judice. Nesse ambiente, Mendonça logo estará dormindo numa caixa de fósforos.

Por Josias de Souza

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