Sob Bolsonaro, as tentativas de conciliação estão a um milímetro do tédio. A despeito disso, os governadores decidiram pedir um encontro com o presidente. Desejam abrir um diálogo para negociar um armistício que restabeleça a harmonia entre os Poderes. No mesmo dia, Bolsonaro concedeu mais uma de suas entrevistas radioativas.
Em conversa com uma emissora de rádio, o presidente reiterou as críticas ao sistema eleitoral. Cobrou novamente o voto impresso. O povo "não quer que, num quartinho secreto, meia dúzia de pessoas conte os seus votos", disse, ridicularizando urnas eletrônicas que lhe asseguraram 28 anos de mandato parlamentar e um mandato presidencial.
Bolsonaro atacou decisões dos ministros Luís Felipe Salomão, corregedor do TSE, e Alexandre de Moraes, do Supremo. Acusou-os de promover uma "caça às bruxas" ao suspender a remuneração de sites bolsonaristas que difundem mentiras nas redes sociais e mandar prender apologistas do mito como o ex-deputado Roberto Jefferson e o deputado Daniel Silveira, que insultaram magistrados, esculacharam o Supremo e defenderam uma intervenção militar com Bolsonaro.
Movido a ideias fixas, Bolsonaro revelou que cobrará ainda nesta segunda-feira do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a fixação de uma data para o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras. Aproveitou para alfinetar os governadores que desejam dialogar com ele. Lamentou que o Supremo tenha dado aos Estados poderes para continuar impondo as máscaras mesmo depois de o governo federal tornar o apetrecho facultativo, à revelia da recomendação de 11 em cada dez infectologistas.
As tentativas de conciliação com Bolsonaro vão se tornando encenações enfadonhas. Virou fumaça o pacto firmado há cinco meses para criar um comitê de gerenciamento da crise sanitária integrado pelos presidentes da República, do Senado e da Câmara.
Virou pó a ideia do presidente do Supremo de promover um encontro pacificador entre os presidentes dos três Poderes.
Era lorota o compromisso que Bolsonaro assumiu com Arthur Lira de aceitar o resultado da votação que enterrou na Câmara a proposta que criava o voto impresso.
Revelou-se conversa mole o lero-lero de Ciro Nogueira segundo o qual seria um "amortecedor" na Casa Civil, "estabilizando" o governo e "diminuindo as tensões."
A nova tentativa dos governadores de firmar algum tipo de entendimento com Bolsonaro é o triunfo da esperança sobre a experiência. Há um limite depois do qual a tolerância deixa de ser uma virtude.
Está entendido que, para Bolsonaro, o único diálogo admissível é quando ele manda os interlocutores calarem a boca. Portanto, se não quiser cansar esperando pela pacificação, puxe uma cadeira. Ou um ronco.
Por Josias de Souza
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