Sob Bolsonaro, o governo gasta mais tempo e energia discutindo os problemas do que enfrentando as dificuldades. Muitos não conseguem vislumbrar uma solução. O caso de Paulo Guedes é mais grave. O ministro da Economia ainda não enxergou nem o problema.
"Qual o problema agora que a energia vai ficar um pouco mais cara?", pergunta o ministro. "O problema agora é que está tendo uma exacerbação por que anteciparam as eleições?, ele acrescenta.
A má notícia é que Guedes está no mundo da Lua. A péssima notícia é que não será fácil recolocar os pés do ministro na Terra. Sua alienação atingiu um grau que roça o delírio.
O ministro já chamou servidores de parasitas e implicou com domésticas que conseguiam ir à Disney. Bolsonaro reivindica reajuste salarial para os "parasitas". E a alta do dólar impede as empregadas de continuar visitando Mickey Mouse. Tudo muda, exceto a habilidade de Guedes de tropeçar na própria língua.
Guedes está brigado com o bom senso. Segundo a superstição que vigorava na campanha de 2018, ele seria um moderador de Bolsonaro. Preferiu bolsonarizar-se. Ignora a lei da oferta e da procura. Mas se respeitasse a lei da gravidade perceberia que as encrencas sempre caem na cabeça de quem se coloca embaixo delas.
O ministro exagera quando se abstém de notar que a alta da energia é um drama para as famílias. O drama é maior nas casas onde não há dinheiro nem para comprar um botijão de gás. São agora obrigadas a lidar com uma conta de luz mais salgada e com uma inflação que faz sobrar mês no fim do salário. Isso, naturalmente, para os que ainda dispõem de salário.
Guedes ofende a inteligência alheia quando fala de antecipação das eleições sem apontar o dedo para o chefe. Em abril de 2019, quando o governo acabara de fazer aniversário de 100 dias, Bolsonaro declarou que sofria uma "pressão muito grande" para que se candidatasse à reeleição. Sinalizou gostosamente a intenção de ceder à pressão.
Desde então, Bolsonaro não faz senão campanha eleitoral. Está sempre em pleno calor da batalha, no centro de uma arena sanguinolenta, trocando caneladas com aliados e rivais, metendo o governo em constrangedoras exibições de insegurança e raiva. Esqueceu de governar.
Guedes também esqueceu o seu papel no governo. No último mês de maio, o ministro escalou o palanque de Bolsonaro numa entrevista à Folha: "Agora, vamos para o ataque". Num entusiasmo que destoou da ruína fiscal do governo, o ministro trombeteou projetos como o novo Bolsa Família. Por ora, o governo entrega aumento na conta de luz, não reajuste no benefício social.
Por Josias de Souza
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