É gravíssima a notícia que traz à luz o sedativo aplicado no inquérito sobre atos antidemocráticos no instante em que a delegada Denisse Dias Rosas Ribeiro quis realizar buscas na cozinha do Planalto. Mais grave ainda é o anestésico que o Supremo Tribunal Federal injeta no processo que deveria apurar a suspeita de que Bolsonaro deseja converter a PF num aparelho político-familiar.
O inquérito que apura a acusação do ex-ministro Sergio Moro sobre os planos intervencionistas de Bolsonaro está paralisado há mais de oito meses, desde setembro do ano passado. O Supremo não consegue decidir se o presidente da República vai depor à PF por escrito ou presencialmente. A demora turva as investigações e compromete a busca de provas. Favorece, portanto, o investigado.
Por ora, a única coisa que avança no setor investigativo é o incômodo provocado pela sensação de que Bolsonaro vai conseguindo realizar o sonho que expôs na célebre reunião ministerial de 22 de abril do ano passado. Aquela reunião cuja gravação ganhou as manchetes por ordem de Celso de Mello, então decano do Supremo Tribunal Federal.
No fatídico encontro, Bolsonaro esboçou o desejo de interferir na Polícia Federal. "Não vou esperar foder minha família toda de sacanagem, ou amigo meu" para agir, disse o presidente na ocasião. Convém acomodar as coisas em pratos asseados. Sob pena de descobrir que já é tarde demais.
Por Josias de Souza
Nenhum comentário:
Postar um comentário