Ao empurrar a CPI para dentro do gabinete de Bolsonaro, o deputado bolsonarista Luis Miranda (DEM-DF) alargou os horizontes da investigação legislativa e encurtou a margem de manobra do capitão.
A Comissão Parlamentar de Inquérito adicionou à sua pauta um tema radioativo: corrupção. E Bolsonaro logo se dará por satisfeito se conseguir cumprir dois objetivos estratégicos: não cair e continuar dando a impressão de que comanda.
"Foi o Ricardo Barros que o presidente falou, foi o Ricardo Barros", disse Luis Miranda ao admitir que ouviu Bolsonaro dizer que sabia do envolvimento do líder do governo na Câmara no suspeitíssimo processo de compra da vacina indiana Covaxin.
Em 20 de março, Luis Miranda levara à presença do capitão o seu irmão Luis Ricardo Miranda, chefe do setor de importação da pasta da Saúde. Servidor concursado, ele contou ao presidente que não cheirava bem a pressão que recebia dos seus superiores para aprovar o pagamento antecipado de uma fatura de US$ 45 milhões por vacinas caras, não avalizadas pela Anvisa e indisponíveis.
Três dias antes, o presidente da Câmara, Arthur Lira, correligionário de Ricardo Barros no PP e no centrão, afirmara numa entrevista que "a CPI não trará efeito algum", pois "falta circunstância" para o impeachment.
No comando de um gavetão onde há mais de uma centena de pedidos de impedimento, Lira deu de ombros para o "Fora, Bolsonaro" que soara nos protestos de sábado passado. Menosprezara a ultrapassagem da marca de mais de 500 mil mortos por Covid.
No momento, há três coisas certas na vida dos brasileiros: as mortes por Covid, as crises do Bolsonaro e os imprevistos da CPI. Depois de se recusar a presidir o vírus, o capitão passou a ser presidido por ele.
Bolsonaro gosta de dizer "minhas Forças Armadas". Precisa começar a proclamar "meu centrão". A CPI da Covid dá à aliança do capitão com o centrão de Lira e Barros uma aparência de abraço de afogados.
No momento, Bolsonaro dissimula sua falta de rumo fingindo que faz e acontece. Pode continuar até o final de 2022. Mas terá de fazer algo mais além de xingar jornalistas. O centrão já caiu na água outras vezes. O problema é que o grupo não costuma ficar molhado por muito tempo.
Por Josias de Souza
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