quarta-feira, 30 de junho de 2021

Denúncia de propina de R$ 1 bi na Saúde; AstraZeneca nega ter intermediário



Cesse tudo o que antiga musa canta. Ou não?

Caso se confirme a denúncia feita à Folha por um executivo de uma empresa da área de medicamentos, não temos um Ministério da Saúde propriamente, mas uma gangue de larápios e assassinos em massa.

Primeira consequência da matéria publicada pelo jornal: Roberto Ferreira Dias, diretor de Logística do Ministério da Saúde, acaba de ser exonerado. Ele também era um dos principais alvos das acusações feitas pelo deputado Luís Mirada (DEM-DF). Qual é o caso?

1: Luiz Paulo Dominguetti Pereira, representante da empresa Davati Medical Supply, disse ter oferecido ao Ministério da Saúde, em fevereiro, a venda de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca a US$ 3,50 cada uma.

2: Afirma Dominguetti sobre Dias:
"Aí ele me disse que não avançava dentro do ministério se a gente não compusesse com o grupo, que existe um grupo que só trabalhava dentro do ministério, se a gente conseguisse algo a mais tinha que majorar o valor da vacina, que a vacina teria que ter um valor diferente do que a proposta que a gente estava propondo".

3: E em que consistira "compor com o grupo"? Acrescentar o sobrepreço de US$ 1 por dose. Como o interesse manifesto foi o de comprar 200 milhões, estamos falando, em valores de hoje, na módica quantia de R$ 1 bilhão.

4: Dias é tido na pasta e em toda parte como homem de confiança do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR), o homem que aparece ligado à compra da Covaxin e também às negociações para a aquisição da vacina chinesa Convidecia. O advogado que cuidou da questão junto à Anvisa, por exemplo, é sócio de seu genro.

5: Quando, segundo o denunciante, a oferta foi feita, estavam à mesa o próprio Dias, um militar do Exército e um empresário de Brasília.

6: A reportagem quis saber se ele tinha certeza de que o interlocutor da suposta safadeza era mesmo Dias. Ele, então, respondeu:
"Claro, tenho certeza. Se pegar a telemetria do meu celular, as câmeras do shopping, do restaurante, qualquer coisa, vai ver que eu estava lá com ele e era ele mesmo". Isso certamente será feito.

7: Dominguetti afirma que a proposta de propina foi feita em um jantar no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, região central da capital federal, no dia 25 de fevereiro.

Um dia antes, o país havia atingido a marca de 250 mil mortos.

Em seu relato, Dominguetti diz ter ido ao Ministério da Saúde e ter recebido ligações para tratar da venda das doses de vacina, que não se concretizou — e tudo isso, claro!, pode ser confirmado pela quebra de sigilo telefônico e de localização.

É evidente que é preciso fazer uma investigação rigorosa.

Por que a denúncia só aparece agora e não antes? Essa pergunta não vale. Empresas querem fazer negócios, não comprar uma pendenga judicial. Obviamente, existe também o medo — e, afinal de contas, esse era o governo incorruptível, não é mesmo?

E, ao mesmo tempo, é preciso tomar cuidado. Já digo por quê.

É claro que Dominguetti tem de ser convocado pela CPI e também Cristiano Alberto Carvalho, que se apresenta como procurador da Davati no Brasil.

SEM INTERMEDIÁRIOS?
Há uma questão intrigante adicional nisso tudo. Não se conheciam intermediários na venda de vacinas da AstraZeneca até agora, o que foi reiterado ao blog do jornalista Octavio Guedes por representantes do imunizante. O representante assegura que as negociações são feitas diretamente com os governos dos países. E, como se vê, o representante da empresa Davatti Medical Suplly afirma ter ofertado a enormidade de 400 milhões de doses.

Há a hipótese estrambótica de ter havido uma real proposta de propina para uma oferta irreal de vacina?

Não temos o direito de duvidar de mais nada.

Por Reinaldo Azevedo

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