Jair Bolsonaro se relaciona com a ruína fiscal do governo sem método. Nesta sexta-feira, abalroado por uma pergunta sobre o corte de bolsas de estudo do CNPq, teve um surto de sinceridade: "O Brasil inteiro está sem dinheiro… Em casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão."
Dias antes, o capitão ironizara a decisão da Alemanha de suspender o repasse de R$ 150 milhões para projetos de proteção ambiental na Amazônia: "Podem fazer bom uso dessa grana, o Brasil não precisa disso".
Na véspera, o presidente fizera piada ao comentar a suspensão de outros R$ 133 milhões que o governo norueguês aplicaria no Fundo Amazônia. "A Noruega não é aquela que mata baleia no Polo Norte? Explora petróleo também lá? Não tem nada a dar exemplo para nós. Pega a grana e ajude a Angela Merkel a reflorestar a Alemanha".
Há dois presidentes em cena. Um deles rende-se à realidade da política de cintos apertados. O outro, empenhado em transformar o Brasil num pária ambiental, soa desconexo. As verbas internacionais que Bolsonaro refugou viriam como doações, não como empréstimos. Em uma década, o Fundo Amazônia recebeu R$ 3,4 bilhões, 93% dos quais provenientes da Noruega.
A loucura ambiental do governo entrou naquela perigosa fase em que os malucos costumam rasgar dinheiro. Para justificar os cortes em programas essenciais, Bolsonaro aponta para o abismo fiscal. Ao desdenhar de países que firmam parcerias monetárias com um Brasil quebrado, ele dança na beirada do desfiladeiro.
"Os ministros estão apavorados", disse o Bolsonaro que reconhece o abismo. Eles "tentam fazer milagre", ele enfatiza. Nem o Exército escapou da tesoura: "Vai entrar em meio expediente. Não tem comida para o recruta, que é filho de pobre."
Com menos de oito meses de mandato, o capitão ainda pode apontar os culpados pela ruína no retrovisor: "Essa situação em que nos encontramos é grave, não é maldade da minha parte, não tem dinheiro. Só isso".
No setor ambiental, porém, a situação é outra. Nessa área, o desastre é obra 100% construída no atual governo. E a encrenca está apenas começando. O desdém de Bolsonaro com a preservação da floresta amazônica não demora a produzir interdições à venda de produtos do agronegócio brasileiro no exterior. Os bloqueios são certos como o nascer do sol a cada manhã.
O pedaço mais arcaico do país, habitado por desmatadores vorazes, trogloditas rurais e toupeiras climáticas, aplaude a loucura presidencial. A turma do agronegócio moderno preocupa-se com a existência de dois presidentes no Planalto —um rendido ao cenário de pindaíba, outro jogando dinheiro doado pela janela.
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