Ao retornar ao asfalto neste domingo, apologistas e simpatizantes de Jair Bolsonaro vivem uma experiência inédita: pela primeira vez, trafegam na contramão do "mito".
Exposta na vitrine das redes sociais, a pauta da manifestação transforma o presidente numa espécie de conto do vigário no qual seus admiradores caíram.
A rua volta a ronronar para Sergio Moro num instante em que Bolsonaro rosna para o seu ministro da Justiça, carbonizando-o.
O meio-fio faz coro pela ascensão de Deltan Dallagnol ao posto de procurador-geral da República. Mas o capitão agora avaliza no Twitter a tese segundo a qual o chefe da força-tarefa de Curitiba é "um esquerdista estilo PSOL".
Os manifestantes exigem o impeachment de ministros do Supremo. Entre eles o presidente da Corte, Dias Toffoli. Que virou amigo de infância de Bolsonaro desde que suspendeu inquérito contra o filho 01 do presidente.
Antes, os bolsonaristas jogavam pedras nos telhados de vidro dos outros. Agora, se arriscam a atingir Bolsonaro, que tem não só o telhado, mas o paletó, a camisa, a gravata e a família de vidro.
Na campanha eleitoral, Bolsonaro surfou a onda da Lava Jato, camuflando os vícios que adquirira em 28 anos de exercício patrimonialista do mandato de deputado.
Decorridos apenas oito meses de sua Presidência, o capitão age para neutralizar as engrenagens que potencializaram o esforço anticorrupção: Receita, PF, Coaf…
Em manifestações anteriores, os devotos de Bolsonaro pegaram em lanças pela transferência do Coaf do Ministério da Economia para a pasta de Moro.
Agora, Bolsonaro esconde o Coaf nos fundões do Banco Central. E rasga a carta branca que dera a Moro, afastou do comando do órgão Roberto Leonel, um auditor que o ex-juiz trouxera da Lava Jato.
Nas outras incursões ao asfalto, a tropa bolsonarista recebera estímulos do capitão para espancar o centrão, acusando-o de travar as reformas. Isso mudou.
No momento, a intenção de Bolsonaro de indicar o filho 03 para a embaixada do Brasil em Washington virou uma oportunidade que o centrão aproveita.
O centrão mistura sobre o mesmo balcão a votação do nome de Eduardo Bolsonaro no Senado e a sanção do presidente ao projeto de lei sobre abuso de autoridade.
Enquanto Bolsonaro exerce o privilégio de escolher seu próprio caminho para o inferno, os bolsonaristas retornam ao asfalto examinando suas consciências para verificar se não confundiram um certo político com o político certo.
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