sábado, 17 de agosto de 2019

Aos 50 anos, Embraer escreve novo capítulo em sua história



Fazia calor naquele início de 1965 quando um encontro definiria os rumos de São José dos Campos que, até a década de 1950, era conhecida por ser território aprazível para tratar tuberculose, a "cidade sanatório".

Eis que dois entusiastas da aviação se encontrariam e mudariam, ao lado de outros profissionais, o rumo da história de São José.

O jovem militar da Força Aérea Ozires Silva, aos 34 anos e recém-formado no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), conheceu o engenheiro francês Max Holste, famoso construtor de aviões em passagem pelo Brasil.

Ozires contou seus planos de construir um avião bimotor nacional. Meio desconfiado da capacidade dos brasileiros, Holste engajou-se no projeto e um time de alto gabarito foi criado ao redor do sonho de levantar as asas do Brasil.

Na manhã chuvosa de 22 de outubro de 1968, para uma "torcida" de engenheiros e militares, o primeiro protótipo do Bandeirante decolou da pista de terra batida do aeroporto de São José. "Não dá para descrever a emoção", lembra Ozires Silva.

Para produzir o avião em série, foi criada a empresa de economia mista Embraer, em 1969, companhia aeronáutica que colocou São José no mapa mundial da aviação.

A fabricante comemora seus 50 anos na próxima segunda-feira, com uma solenidade em sua sede, na unidade Faria Lima, região sudeste de São José. Também será uma despedida do local, que passará a abrigar a Boeing Brasil Commercial, empresa criada pela gigante norte-americana com a compra de 80% da Aviação Comercial da Embraer, que terá 20% do negócio.

Se de um lado destaca-se o orgulho pela história da Embraer, por outro fica a expectativa de um novo capítulo na vida da companhia, uma "refundação" tanto para a fabricante quanto para a cidade.

A Embraer se dividirá, com a Aviação Comercial nas "asas" da Boeing e os demais setores permanecendo sob o nome Embraer. Ambas terão unidades em São José e poderão escrever, juntas, mais 50 anos da história da aviação mundial.



Aviação executiva. O Phenom 300, um dos modelos da Embraer
Foto: Mike Fizer/Divulgação

Embraer prepara 'voo' para mais 50 anos sem a aviação comercial

A venda de 80% da Aviação Comercial da Embraer para a norte-americana Boeing deixou duas dúvidas no ar.

Primeira: os aviões comerciais da fabricante brasileira terão um mercado maior com a parceira americana?

E segunda: qual o futuro da Embraer sem a Aviação Comercial, ficando com as áreas de Aviação Executiva, Defesa e Segurança, Serviços e outros negócios?

Para os executivos da empresa, o futuro é de otimismo em ambos os cenários. Tanto para a nova companhia ao lado da Boeing --aBoeing Brasil Commercial-- quanto para a Embraer S.A, que completa 50 anos na próxima semana.

"Vamos nos readequar para focar em iniciativas inovadoras e trazer mais rápido para o mercado", disse Daniel Moczydlower, vice-presidente de Engenharia e Tecnologia.

"A Aviação Executiva está preparada para ser a principal área da Embraer", diz Gustavo Teixeira, diretor de Vendas da Aviação Executiva para a América Latina.

Embraer e Boeing manterão parcerias tecnológicas mesmo após a separação da Aviação Comercial do restante da fabricante brasileira. O setor será comprado pela companhia norte-americana.

Segundo executivos da Embraer, um dos pontos da transação foi deixar o caminho livre para parcerias tecnológicas entre as duas empresas, que serão vizinhas.

A Boeing Brasil Commercial ocupará a atual sede da Embraer (Faria Lima), região sudeste de São José. E a Embraer S.A terá sua principal sede na unidade de Eugênio de Melo, na zona leste. "Desenhamos o acordo de tal maneira que possa existir cooperação tecnológica entre as duas empresas e que elas possam desenvolver tecnologia em parceria. Isso é uma mitigação da separação e maneira de continuar trabalhando. E faz todo sentido", diz Daniel Moczydlower, vice-presidente de Engenharia e Tecnologia da Embraer. "Além disso, cada uma das duas empresas será a maior fornecedora de peças e partes para a outra. Uma depende muito do sucesso da outra e, nesse contexto, faz todo sentido que a gente coopere e desenvolva tecnologias em conjunto".


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