Fazia calor naquele início de 1965 quando um encontro definiria os rumos de São José dos Campos que, até a década de 1950, era conhecida por ser território aprazível para tratar tuberculose, a "cidade sanatório".
Eis que dois entusiastas da aviação se encontrariam e mudariam, ao lado de outros profissionais, o rumo da história de São José.
O jovem militar da Força Aérea Ozires Silva, aos 34 anos e recém-formado no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), conheceu o engenheiro francês Max Holste, famoso construtor de aviões em passagem pelo Brasil.
Ozires contou seus planos de construir um avião bimotor nacional. Meio desconfiado da capacidade dos brasileiros, Holste engajou-se no projeto e um time de alto gabarito foi criado ao redor do sonho de levantar as asas do Brasil.
Na manhã chuvosa de 22 de outubro de 1968, para uma "torcida" de engenheiros e militares, o primeiro protótipo do Bandeirante decolou da pista de terra batida do aeroporto de São José. "Não dá para descrever a emoção", lembra Ozires Silva.
Para produzir o avião em série, foi criada a empresa de economia mista Embraer, em 1969, companhia aeronáutica que colocou São José no mapa mundial da aviação.
A fabricante comemora seus 50 anos na próxima segunda-feira, com uma solenidade em sua sede, na unidade Faria Lima, região sudeste de São José. Também será uma despedida do local, que passará a abrigar a Boeing Brasil Commercial, empresa criada pela gigante norte-americana com a compra de 80% da Aviação Comercial da Embraer, que terá 20% do negócio.
Se de um lado destaca-se o orgulho pela história da Embraer, por outro fica a expectativa de um novo capítulo na vida da companhia, uma "refundação" tanto para a fabricante quanto para a cidade.
A Embraer se dividirá, com a Aviação Comercial nas "asas" da Boeing e os demais setores permanecendo sob o nome Embraer. Ambas terão unidades em São José e poderão escrever, juntas, mais 50 anos da história da aviação mundial.
Aviação executiva. O Phenom 300, um dos modelos da Embraer Foto: Mike Fizer/Divulgação |
Embraer prepara 'voo' para mais 50 anos sem a aviação comercial
A venda de 80% da Aviação Comercial da Embraer para a norte-americana Boeing deixou duas dúvidas no ar.
Primeira: os aviões comerciais da fabricante brasileira terão um mercado maior com a parceira americana?
E segunda: qual o futuro da Embraer sem a Aviação Comercial, ficando com as áreas de Aviação Executiva, Defesa e Segurança, Serviços e outros negócios?
Para os executivos da empresa, o futuro é de otimismo em ambos os cenários. Tanto para a nova companhia ao lado da Boeing --aBoeing Brasil Commercial-- quanto para a Embraer S.A, que completa 50 anos na próxima semana.
"Vamos nos readequar para focar em iniciativas inovadoras e trazer mais rápido para o mercado", disse Daniel Moczydlower, vice-presidente de Engenharia e Tecnologia.
"A Aviação Executiva está preparada para ser a principal área da Embraer", diz Gustavo Teixeira, diretor de Vendas da Aviação Executiva para a América Latina.
Embraer e Boeing manterão parcerias tecnológicas mesmo após a separação da Aviação Comercial do restante da fabricante brasileira. O setor será comprado pela companhia norte-americana.
Segundo executivos da Embraer, um dos pontos da transação foi deixar o caminho livre para parcerias tecnológicas entre as duas empresas, que serão vizinhas.
A Boeing Brasil Commercial ocupará a atual sede da Embraer (Faria Lima), região sudeste de São José. E a Embraer S.A terá sua principal sede na unidade de Eugênio de Melo, na zona leste. "Desenhamos o acordo de tal maneira que possa existir cooperação tecnológica entre as duas empresas e que elas possam desenvolver tecnologia em parceria. Isso é uma mitigação da separação e maneira de continuar trabalhando. E faz todo sentido", diz Daniel Moczydlower, vice-presidente de Engenharia e Tecnologia da Embraer. "Além disso, cada uma das duas empresas será a maior fornecedora de peças e partes para a outra. Uma depende muito do sucesso da outra e, nesse contexto, faz todo sentido que a gente coopere e desenvolva tecnologias em conjunto".
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