quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Visto por rivais como anticristo, Dino se compara a ícone cristão


O ministro da Justiça, Flávio Dino, será sabatinado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado para a vaga de ministro do STF na quartaFoto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Convencido de que já dispõe de mais votos do que precisa, Flávio Dino dedicou as últimas horas de sua campanha pela toga às conversas com senadores de nariz torcido. Aos que o enxergam como um anticristo comunista, citou o Evangelho. Recorreu à mais famosa e teatral de todas as conversões.

Dino comparou sua caminhada rumo ao Supremo à passagem do soldado Saulo, um perseguidor de cristãos, pela estrada de Damasco. Aconteceu no século 1º do nosso calendário. De repente, Saulo foi paralisado por uma luz ofuscante. Caiu do cavalo. Ouviu uma voz do céu: "Saulo, por que me persegues?" Por algum tempo, ele ficou cego, tal a claridade que o arrebatou. Converteu-se em São Paulo, um dos pilares do cristianismo.

Em timbre de ex-vingador, Dino disse aos mais céticos: "As pessoas mudam". Ele já havia trocado 12 anos de magistratura pela carreira política. Agora, assegura que esquecerá os trajes ideológicos assim que vestir a toga. Para bolsonaristas e congêneres, um lobo continuará camuflado sob a pele do cordeiro autoproclamado.

Toda conversão assemelha-se a uma revolução pessoal. Os rivais enxergam Dino não como santo na trilha de Damasco, mas como um bolchevique prestes a ingressar no mais importante tribunal de Brasília como se invadisse o Palácio de Inverno, em São Petersburgo.

Em tempos de polarização, a fé nem sempre remove obstáculos. Mas enquanto Dino articula e reza, Lula cuida de empurrar as montanhas com emendas orçamentárias. Estima-se que a crença nas verbas levará o placar pró-Dino a patamares próximos de 50 votos.

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