quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Lula força Tarcisio a oscilar entre o bolsonarismo e o pragmatismo


Lula e Alckmin com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, em cerimônia no Planalto

Submetido às oscilações da conjuntura, Tarcísio de Freitas rodopia como biruta de aeroporto. Em menos de uma semana, o governador de São Paulo esteve duas vezes em Brasília. Nesta terça-feira, ele discursou como coadjuvante numa solenidade protagonizada por Lula, no Planalto. Na quarta-feira da semana passada, Tarcísio dividira o microfone com o padrinho Bolsonaro, num ato político na Câmara.

No Planalto, Tarcísio discursou em nome de 16 estados e 805 municípios brindados com liberações de R$ 56,4 bilhões do BNDES para obras do PAC. Desse total, R$ 32,1 bilhões foram para os governos estaduais e R$ 24,3 bilhões para as prefeituras. "O presidente me escolheu porque estou levando o maior cheque", disse Tarcísio, beneficiado com um repasse de R$ 10 bilhões.

Ocupando o microfone na sequência, Lula alfinetou Bolsonaro, sem mencionar-lhe o nome. Evocando o fato de que o padrinho de Tarcísio vivia às turras com João Doria, o anfitrião declarou: "Eu nunca concebi alguém querer administrar um país do tamanho do Brasil sem levar em conta a existência destes entes federados". A foto ao lado de Lula rendeu a Tarcísio ataques instantâneos. O governador foi chamado nas redes sociais bolsonaristas de "traidor".

Na semana passada, a atmosfera era outra. No ato da Câmara, Tarcísio chamara Bolsonaro, a quem servira como ministro da Infraestrutura, de "eterno presidente". E recebera afagos do ex-chefe. Numa estocada em Doria, Bolsonaro dissera que Tarcísio, "excelente governador e gestor", "nos orgulha em São Paulo", pois "está realmente dando uma noção bem diferente do que era há pouco tempo aquele estado". A lua de mel estendeu-se pelo final de semana, quando Tarcísio compôs a caravana de Bolsonaro na posse de Javier Milei, em Buenos Aires.

As circunstâncias impõem a Tarcísio o incômodo exercício de equilibrista ideológico. Para conservar a imagem e bom gestor que Bolsonaro lhe atribui, não pode dispensar as verbas federais. Com os R$ 10 bilhões do velho e bom BNDES, o governador custeará as obras do trem ligando a capital paulista a Campinas e comprará 44 novos vagões para expandir a Linha-2 Verde do metrô paulistano. Lula como que força Tarcísio a oscilar entre o bolsonarismo e o pragmatismo. A pecha de "traidor" é o custo que o afilhado do capitão paga para se manter como um político competitivo da direita para 2026.

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