sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Maduro fornece para Lula chance real de ser mediador de conflito




Favorecido pelo opção de Bolsonaro de ostentar a posição de pária internacional orgulhoso, Lula anunciou ao mundo, no alvorecer do novo governo, que "o Brasil voltou". Não fez segredo do desejo de converter a política externa num dos destaques de sua administração. Tentou sem sucesso atuar como um interlocutor neutro, capaz de anestesiar duas guerras que a conjuntura encostou em seu mandato. Deu em nada.

De repente, o companheiro Nicolas Maduro fabricou uma ameaça bélica que oferece ao presidente brasileiro uma oportunidade real de exibir-se ao mundo como mediador de conflitos. Nesta quinta-feira, discursando como anfitrião de uma esvaziada cúpula dos chefes de Estado do Mercosul, Lula colocou o Brasil "à disposição para sediar reuniões" entre Venezuela e Guiana.

Lula já havia se descredenciado para interferir na guerra provocada pela Rússia na Ucrânia ao igualar a nação invadida ao país invasor. No enfrentamento entre Israel e Hamas, iniciado num instante em que o Brasil ocupava a presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU, o Itamaraty portou-se adequadamente. Mas teve sua resolução humanitária barrada por um veto dos Estados Unidos.

A coisa mudou de figura com a ameaça de Nicolás Maduro de incorporar ao mapa da Venezuela a região petrolífera de Essequibo, que corresponde a 70% do território da Guiana. Agora, não é Lula que se oferece como intermediário. O mundo e, sobretudo, os vizinhos é que esperam dele o exercício da liderança natural de um presidente do Brasil, visto como potência regional.

A afinidade ideológica com Caracas eleva a responsabilidade de Lula. Em maio, estendeu o tapete vermelho do Planalto para o presidente venezuelano. Criticado, respondeu que a ditadura na Venezuela não passa de "narrativa" de adversários. Declarou que "o conceito de democracia é relativo".

Hoje, Lula já não pode lançar mão da retórica de que há dois culpados pelo conflito. O nome da encrenca é Nicolás Maduro. A menos que consiga aplicar um sedativo no companheiro, Lula se arrisca a ouvir uma pergunta incômoda sempre que repetir o slogan segundo o qual "o Brasil voltou". Voltou para quê?, eis a indagação inevitável.

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