Vídeo mostra apreensão das joias
Vídeo mostra momento em que enviado de Bolsonaro tenta retirar joias de aeroporto em SP
Bolsonaro considera-se protagonista de um filme épico. Nele, um político intrépido recebe a missão divina de presidir o Brasil acorrentado a quatro valores: Deus, pátria, família e liberdade. Os vídeos da alfândega do aeroporto de Guarulhos exibem cenas de um filme classe B. Nesse roteiro alternativo, Bolsonaro aparece como um messias picareta que mobiliza militares das "minhas Forças Armadas" para surrupiar joias avaliadas em R$ 16,5 milhões.
Dá para imaginar o almirante Bento Albuquerque telefonando para o capitão desde a Arábia Saudita, para receber as instruções. Os presentes do presidente, de menor valor, seriam escondidos na bagagem do ministro. Passaram despercebidos. E foram privatizados por Bolsonaro, sem o pagamento do imposto de importação. As joias de madame, enfiadas na mochila do tenente Marcos André dos Santos Soeiro, foram fisgadas pelo raio-X da Receita. É para a primeira-dama, disse o ministro-almirante, antes de ser enquadrado pelos fiscais.
É possível imaginar outra cena: antevéspera da posse de Lula, pés sobre a mesa, lata de leite condensado na mão, Bolsonaro ordena ao coronel Mauro Cid, seu ajudante de ordens, que providencie um avião da FAB. Era preciso enviar o sargento Jairo Moreira da Silva a São Paulo, para resgatar as joias. "É de urgência", disse o sargento ao fiscal da alfândega. "Isso aqui faz parte da passagem [de governo], não pode ter nada do antigo para o próximo. Tem que tirar tudo, tem que levar". O auditor fiscal deu de ombros.
No enredo épico, Bolsonaro e os bolsonaristas se enganam mutuamente. Bolsonaro reivindica para si um figurino de idealista perseguido. E o pró-bolsonarismo inocente engole todas as presunções do mito a seu próprio respeito. No filme B, escancarado nas filmagens da alfândega, o idealismo de Bolsonaro é reduzido a uma reles vigarice.
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