segunda-feira, 20 de março de 2023

Jato Embraer Phenom estolou na aproximação final após piloto não ver gelo acumulado na asa



Investigadores franceses da BEA determinaram que um Embraer Phenom 100 foi destruído durante um pouso em Paris-Le Bourget após seu piloto persistir em aterrissar em condições de gelo, mas com uma sequência de ações em não-conformidade com tal situação. O relatório da agência também aponta que a configuração da aeronave teria impossibilitado o pouso da aeronave no local.

Embora as informações meteorológicas para Le Bourget indicassem a presença de gelo severo entre 3.000-5.000 pés, o piloto optou por realizar procedimentos para uma aproximação à pista 27 em condições sem gelo, mas tomando medidas para verificar se o gelo não estava acumulando na aeronave.

Com isso, selecionou uma velocidade de referência de aproximação de 97kt – próxima à velocidade de estol em caso de acúmulo de gelo na asa – em vez dos 119kt que seriam necessários com os sistemas de degelo ativados. Isso se mostrou preponderante para o acidente.

Quando chegou a 3.000 pés (900 metros) de altitude, o piloto ativou o antigelo da asa e dos estabilizadores por 21 segundos, perfazendo assim um ciclo de degelo do sistema. Quando achou que estava tudo bem, o piloto desligou o sistema e não ligou mais. Posteriormente, os investigadores determinaram que o julgamento do piloto foi equivocado.



Depois disso, já na aproximação final, o ângulo de ataque da aeronave aumentou de 10° para 28°, enquanto sua velocidade caiu para 90 nós. A BEA diz que o jato “afundou abruptamente” e sua taxa de descida aumentou para 960 pés/min. Um alarme de estol soou no cockpit e a aeronave estolou em uma final muito curta, entrando em contato com a pista com força e seu trem de pouso direito quebrou, perfurando o tanque de combustível da asa direita.

O fogo começou na raiz da asa e perto dos motores, o trem de pouso dianteiro foi danificado e a aeronave deslizou ao longo da pista por mais de 1.000 metros antes de guinar cerca de 110° e parar na borda esquerda.

Nem o piloto, nem o único passageiro a bordo da aeronave, operada pela Luxwing (de matrícula 9H-FAM), ficaram feridos no acidente de 8 de fevereiro de 2021. O comandante explicou que a estratégia de aproximação era uma “adaptação padrão” do procedimento e indicou que observou, através da janela da cabine, que o gelo que se formava nas pontas das asas havia se quebrado.

A BEA diz que o gelo se formou claramente na aeronave durante a descida, mas o piloto não percebeu a extensão da contaminação – possivelmente devido às condições de luz e nuvens – ou parou de monitorar ativamente a situação, ou simplesmente subestimou o gelo.

Para os investigadores, a desativação do sistema de degelo pode significar que o gelo permaneceu no estabilizador horizontal ou se acumulou na aeronave no final da aproximação. Pouco antes do impacto, a aeronave estava voando em envelopes de baixa velocidade e alto ângulo de ataque, onde era provável que a aeronave estolasse em caso de contaminação por gelo.

Além disso, a análise da BEA descobriu que a ativação total dos sistemas de degelo, como mandava o manual da Embraer, teria exigido uma distância de pouso 450m maior do que a disponível para a pista 27. Ela também diz que a pista 25 de Le Bourget também teria sido 200m mais curta. Com isso, ainda que estivesse com a configuração correta para a ocasião, o piloto deveria ter alternado para outro aeroporto.


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