segunda-feira, 13 de março de 2023

No tal Posto Ipiranga, Fisco era lojinha de conveniências de Jair Bolsonaro



Já se sabia que o superministério da Economia era uma marquetagem chinfrim. Na ficção do papel, Paulo Guedes comandava uma estrutura com três pastas. Na vida real, mal controlava uma deles. Consolida-se agora a percepção de que, no tal Posto Ipiranga, a Receita Federal era a lojinha de conveniências de Bolsonaro. Nesse apêndice, aproveitava-se de Guedes apenas o vocabulário.

No térreo da lojinha, coletavam-se os impostos que financiavam as emendas das "criaturas do pântano político" e as isenções dos "piratas privados". No subsolo, utilizava-se a mão de obra daqueles que Guedes denominava de "burocratas corruptos" para a execução de serviços variados —da garimpagem de diamantes à quebra de sigilos fiscais.

Numa mesma repartição, materializaram-se a virtude e a infâmia. Funcionários honestos guardavam as joias da coroa na alfândega de Guarulhos. Resistiram às pressões de Brasília. Mas os dados fiscais sigilosos de desafetos do rei foram arrancados das máquinas no setor de inteligência da Receita.

Dados obtidos pela Folha com base na Lei de Acesso à Informação indicam que o chefe da inteligência [sic] do Fisco, operador dos vazamentos, deixou suas pegadas impressas no mármore do Planalto na época da violação criminosa. Visitou o gabinete do general bolsonarista faz-tudo Augusto Heleno.

Varejaram-se os sigilos do então procurador-geral de Justiça do Rio, Eduardo Gussem, que coordenava a investigação das rachadinhas de Flávio Bolsonaro; do empresário Paulo Marinho, um ex-bolsonarista que caiu em si; e do ex-ministro Gustavo Bebianno. Logo Bebianno, que apresentou Paulo Guedes a Bolsonaro na campanha de 2018, quando o capitão o apelidou de Posto Ipiranga.

Sempre tão loquaz, Guedes assiste calado ao noticiário sobre a perversão que tisna sua antiga gestão. Há enorme curiosidade para saber quanto melado ainda terá que escorrer até que o ex-superministro quebre o silêncio.

Nenhum comentário: