sexta-feira, 10 de março de 2023

Caso das joias esbarra em Guedes e Sachsida



Estrelado pelo casal Bolsonaro e ornamentado por coadjuvantes militares, o escândalo das joias inclui dois figurantes com potencial para roubar a cena durante as investigações: os ex-ministros Paulo Guedes (Economia) e Adolfo Sachsida (Minas e Energia). Uma autoridade que acompanha o trabalho da Polícia Federal informa que é grande a possibilidade de a dupla ser intimada a depor.

Paulo Guedes era superior hierárquico do então chefe da Receita, Julio Cesar Vieira Gomes, que pressionou auditores fiscais para liberar as joias de R$ 16,5 milhões presenteadas pela Arábia Saudita à então primeira-dama Michelle Bolsonaro. A PF quer saber se Guedes avalizou a pressão do subordinado. Pressão ilegal e infrutífera, pois as joias apreendidas em 21 de outubro de 2021, no desembarque do então ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque e de sua comitiva, permaneceram no cofre do Fisco, em São Paulo.

Adolfo Sachsida sucedeu Bento Albuquerque, o portador dos mimos sauditas, na pasta de Minas e Energia. Assumiu o cargo em maio de 2022, sete meses depois do flagrante do aeroporto. Em missão oficial à Arábia Saudita, Bento Albuquerque recebera dois presentes —as joias para Michelle, captadas pelo raio-x da Receita, e um pacote para o presidente, que escapou à fiscalização. Foi na gestão de Sachsida que o ministério documentou, com 13 meses de atraso, o repasse do segundo embrulho para Bolsonaro.

Os investigadores descreem da informação segundo a qual o embrulho destinado a Bolsonaro — com relógio, caneta, abotoaduras, anel e um rosário islâmico — permaneceu de outubro de 2021 a novembro de 2022 num cofre do ministério. Suspeitam que Bolsonaro recebeu o pacote assim que ele chegou ao país. Nessa versão, o ofício elaborado sob Adolfo Sachsida seria apenas um álibi para formalizar o ingresso da mercadoria no Planalto e a posterior incorporação dos itens ao patrimônio pessoal de Bolsonaro.

Bolsonaro se apropriou dos objetos à revelia da legislação e de acórdão do TCU, que obrigam a incorporação de presentes valiosos ao patrimônio do Estado. Como se fosse pouco, levou o pacote que entrou clandestinamente no país sem recolher um mísero tostão de imposto de importação.

Adolfo Sachsida e Paulo Guedes são bolsonaristas de vitrine. No 7 de Setembro de 2021, Sachsida chegou a comparecer à Esplanada dos Ministérios, para ecoar o chefe em protesto contra o Supremo Tribunal Federal. Ironicamente, além de ser doutor em economia, Sachsida é advogado, com especialização na área de direito tributário.

Guedes chegou à Esplanada com pose de superministro. Soou peremptório no discurso de estreia, em janeiro de 2019. Disse que associaram-se na "pilhagem do Estado" brasileiro "criaturas do pântano político, piratas privados e burocratas corruptos." Faltou antever o garimpo ilegal de diamantes que surgiria no lodaçal.

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