quarta-feira, 29 de março de 2023

Cerco a Dino vira exposição grotesca da mediocridade do bolsonarismo viral


Ministro Flávio Dino

Se fosse possível levar à balança o conteúdo da audiência de Flávio Dino na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, não haveria nas quatro horas de debate um mísero miligrama de interesse público. Mas a presença do ministro da Justiça no Legislativo teve algo de positivo. Serviu para iluminar o pus no fim do túnel em que o bolsonarismo insiste em enfiar a política brasileira.

O objetivo da milícia legislativa de Bolsonaro era constranger o ministro, fabricando vídeos para exibir no picadeiro das redes sociais. Dino virou o jogo. Com informação, humor refinado e ironia cáustica, transformou uma sessão em que seria massacrado numa exposição grotesca da mediocridade do bolsonarismo viral.

Acusado de cercear com uma notícia-crime no Supremo a opinião de deputados que enxergaram um pacto com criminosos na sua visita ao Complexo da Maré, Dino disse que liberdade de expressão não é camisa de força para maluquices. Apontado como réu em mais de 200 processos, situou o autor da mentira "no mesmo continente mental de quem acha que a Terra é plana".

No lance mais patético da sessão, o deputado Nikolas Ferreira, incomodado com o sorriso do ministro, cobrou "respeito" com o Congresso. "Aqui não tem palhaço nem circo", disse o bolsonarista que, no Dia Internacional da Mulher, fez da tribuna da Câmara picadeiro para um discurso transfóbico. Ouviram-se gritos de "moleque", "palhaço" e "chupetinha". Parece jardim de infância, disse Orlando Silva. Engano. Parecia um boteco. A diferença é que no bar os bêbados pagam a própria conta. Na Câmara, a conta do horror é paga pelo contribuinte.

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