sábado, 26 de março de 2022

Tática do C dá folego a Bolsonaro: coleira e cofre



Com a língua submetida à coleira do centrão, Bolsonaro trocou a crítica às vacinas pela tese segundo a qual o governo ofereceu doses a todos os que quiseram se imunizar. Com os cofres abertos, o presidente leva o populismo às fronteiras da irresponsabilidade fiscal. Esses são os dois fatores que explicam o fôlego exibido por Bolsonaro no Datafolha: coleira e cofre. Seu desempenho não eliminou o favoritismo de Lula. Mas a distância entre os dois diminuiu. E aumentou a nuvem de poeira que sufoca os candidatos da terceira via e de outras vielas.

Apenas oito pontos percentuais separariam Bolsonaro de Lula se o primeiro turno fosse realizado hoje. Como o rol de candidatos mudou desde dezembro, quando o Datafolha divulgara sua pesquisa anterior, não é possível fazer comparações exatas. Entretanto, num cenário de segundo turno, Lula prevaleceria hoje sobre Bolsonaro com 21 pontos de vantagem. Essa dianteira era de 29 pontos em dezembro. Quer dizer: a queda de oito pontos se repetiria num hipotético segundo round.

A impopularidade de Bolsonaro havia atingido o pico de 53% em setembro do ano passado, quando ardiam no noticiário os depoimentos da CPI da Covid e as ameaças do presidente à democracia. O índice se repetiu em dezembro. Agora, caiu sete pontos, recuando para 46%. Deve-se o feito ao Plano C, que combina a coleira que o centrão colocou no discurso antissanitário de Bolsonaro e o cofre escancarado.

Entre os eleitores que ganham até dois salários mínimos —R$ 2.424— o percentual de votos atribuídos a Bolsonaro subiu de 16% para 19%. Os de Lula oscilaram de 56% para 51%. A diferença entre eles caiu sete pontos nesse nicho, que responde por 53% do número total de eleitores.

É nesse universo que está a clientela do Auxílio Brasil, que acaba de receber a terceira parcela do beneficio de R$ 400; a rapaziada pobre do Fies, beneficiada com o abatimento de suas dívidas no financiamento estudantil; os aposentados brindados com a antecipação do 13º dos seus benefícios; os trabalhadores que poderão sacar até R$ 1 mil e os consumidores que dividirão com a classe média o estímulo ao consumo propiciado pela redução do IPI.

O resultado estampado na pesquisa deve impulsionar a sanha populista de Bolsonaro, envenenando a herança fiscal de 2023.

Por Josias de Souza

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