Sempre que Lula se apropria do enredo de corrupção que marcou os governos do PT, os fatos se perdem para sempre —até para os protagonistas. Num encontro com petroleiros, no Rio de Janeiro, o presidenciável do PT animou-se a falar sobre a Petrobras. A pretexto de atacar a política de preços de combustíveis, chamou de "narrativa falaciosa" o histórico de roubalheira que marcou a companhia nos governos do PT.
A certa altura, Lula construiu uma analogia celestial: "Eu fico imaginando Jesus Cristo carregando aquela cruz", disse ele. "[...] Qual foi o mal que ele tinha feito? Ele defendia que as pessoas fossem tratadas com decência e com dignidade. E crucificaram. O que fizeram com a Petrobras foi isso. O que fizeram com a Petrobras foi crucificar a mais importante empresa que nós tínhamos no Brasil..."
Mesmo sabendo que os fatos demonstram que os dois maiores escândalos da República —o mensalão e o petrolão— têm origem no seu reinado, Lula acredita que pode dizer o que bem entender. Confunde memória fraca com consciência limpa. Na Era petista, a Petrobras foi saqueada por um cartel de empreiteiras. Coisa confessada e documentada.
A própria estatal anotou no balanço de 2014 o rombo produzido pelos aditivos contratuais: R$ 6,2 bilhões em valores da época. A peça foi publicada em 2015, na gestão de Dilma Rousseff. Anota que o dinheiro foi desviado entre 2004 e 2012, "para financiar pagamentos indevidos a partidos políticos, políticos, [...] empregados de empreiteiras e fornecedores, ex-empregados da Petrobras..."
Lula costuma desqualificar a Lava Jato. Mas não é preciso folhear os processos da operação para atestar o saque à Petrobras. A lama transbordou para documentos oficiais da estatal, do Cade, do TCU, de órgãos internacionais... Ao negar o inegável, o líder petista escala uma espécie de cume do cinismo. Lula mistura Jesus com a lama e cria um negacionismo da petrocorrupção.
Por Josias de Souza
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