Vocês notaram que não aparece ninguém em defesa dos pastores Arílton Moura e Gilmar Santos? Também o ministro Milton Ribeiro ficou ao relento. O único que ainda defende a sua permanência no governo é o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o filho do seu pai. Também a elite da bancada evangélica quer que o trio arda no fogo do inferno. O Brasil acima de tudo; Deus acima de todos; e o Bezerro de Ouro acima de Deus.
Cadê Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira — aquele que falou como um verdadeiro Schopenhauer da reação em entrevista a Pedro Bial —, para dizer que as coisas não são bem assim e que, ora, ora, Ribeiro seria um homem decente, eventualmente equivocado etc. e tal? Fogo morro acima, água morro abaixo e centrão quando quer defender o indefensável ninguém segura. E, no entanto, estão todos calados. Na surdina, o espírito é "Taca-lhe pau".
Augusto Aras — viva! — decidiu pedir autorização ao Supremo para investigar Ribeiro. Não é só Ribeiro. Também Bolsonaro, não? O ministro disse com todas as letras que tem duas prioridades: a) liberar recursos para os municípios que mais precisam; b) liberar recursos para as indicações feitas pelo pastor Gilmar (e também Arilton). E não deixou dúvida: obedece a ordens do presidente.
Não percam o fio do raciocínio. Como estamos vendo, não se trata apenas de mercancia do divino. Quer dizer: também é isso. Mas os pagamentos são bastante terrenos, não é mesmo? O prefeito de Luís Domingues (MA), Gilberto Braga (PSDB), foi bastante claro: paga-se uma taxa de R$ 15 mil para que o pedido seja entregue ao Ministério da Educação. E, depois, há o pagamento pra valer em caso de liberação dos recursos. Arilton pediu um quilo de ouro.
E, insista-se, não aparece ninguém, exceto Flávio — o filho de seu pai — para dizer que não é bem assim. Pergunta: desde quando o bolsonarismo tem receio de defender o indefensável?
Sabem qual é o ponto?
Os dois pastores, em companhia de Milton Ribeiro e de Bolsonaro, o suposto presidente, foram se meter com um feudo do centrão: o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que é uma das áreas dos recursos públicos que ficam preservadas de cortes e contingenciamentos. Ali está o dinheiro. O mesmo acontece com a Saúde. A elite da bancada evangélica — que pede a cabeça de Ribeiro — não é apenas sócia do centrão: ela FAZ PARTE do centrão.
E eis que os dois pastores, que não pertencem ao establishment que sequestrou o Orçamento e os recursos das verbas carimbadas, resolveram fazer tráfico de influência por conta própria, ignorando quem manda no pedaço, entenderam? E atuaram em parceria com o ministro da Educação — que ainda é um novato no ramo. Segundo o próprio, o chefe é Bolsonaro.
E, aí, os sequestradores bem-sucedidos dos recursos públicos, que desprezam o presidente, mas o seguram no cargo, estão a lhe dizer:
"Quem você pensa que é para ter o seu próprio esquema no nosso governo? Fique no seu lugar! Você é nosso boneco de mamulengo. Finja que governa, e nós fingimos que o toleramos. Diga as bobagens que quiser. Nós seguramos a onda. Tentaremos até aprovar garimpo em terra indígena -- até porque atende a interesses de alguns dos nossos pistoleiros --, mas não ouse mexer com coisa que, para nós, é sagrada: dinheiro! Não sem pedir autorização".
É claro que o pastor Milton Ribeiro pode se dar muito mal. Flávio quer preservá-lo para que ele mantenha a versão de que Bolsonaro não tem nada com isso. O doutor é bom para engrolar reacionarismos, mas ainda é novato na política. É provável que deixe o ministério antes — se Bolsonaro não for reeleito — de chegar à fase em que a PGR vai decidir se pede ou não abertura de ação penal contra ele. Em acontecendo, o caso vai para a primeira instância.
Ainda que venha a se livrar na esfera penal, há as ações de improbidade administrativa. Não vai se livrar. Convém que fale com advogados privados, da sua confiança, para saber o que o espera. A fidelidade a Bolsonaro pode custar caro a seu bolso. E não o vejo repetindo Deltan Dallagnol, fazendo vaquinha na Internet.
Já assistimos a muitos filmes em que um grupinho, dentro de uma organização criminosa, resolve fazer a sua própria gangue e acaba se dando mal.
Cuidado com a cadeia, Miltão!
Por Reinaldo Azevedo
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