A disparada do preço do petróleo em razão da guerra deflagrada na Ucrânia pela Rússia explodiu no Brasil o tabu segundo o qual a política de preços da Petrobras seria intocável. Bolsonaro decidiu frear a alta dos combustíveis a toque de caixa. Motivada pela eleição, a pressa leva à improvisação.
Há sobre a mesa ideias que vão do congelamento temporário de preços ao subsídio. Na primeira hipótese, o prejuízo é espetado no balanço da Petrobras. Na segunda, o Tesouro Nacional (pode me chamar de contribuinte) paga a conta. Coisa de R$ 37 bilhões.
A discussão não é despropositada. O mundo inteiro debate a encrenca dos combustíveis. O que espanta no caso brasileiro é o improviso.
Há mais de um ano, em fevereiro de 2021, Bolsonaro promoveu uma intervenção militar na presidência da Petrobras. Destituiu Roberto Castello Branco, afilhado de Paulo Guedes. Colocou no comando da companhia o general Joaquim Silva e Luna.
O cheiro de queimado levou a Petrobras a perder quase R$ 100 bilhões em valor de mercado. Imaginou-se que o general Silva e Luna levaria à vitrine propostas para modificar a política que gruda o preço dos combustíveis à variação do câmbio e à cotação do óleo no mercado internacional.
Entretanto, Bolsonaro e seu governo ficaram à toa na vida durante um ano. Estavam vendo a banda passar, cantando coisas que não se pareciam com coisas de amor. Enviaram-se propostas desconexas ao Congresso. De repente, Bolsonaro decidiu agir. E o governo esboça um plano em cima do joelho.
Além de prejuízos, o rompante de um ano atrás havia produzido o destravamento da língua de ex-auxiliares de Paulo Guedes. O economista Paulo Uebel, que havia desembarcado do Ministério da Economia silenciando os seus rancores, disse na ocasião que "nunca o governo Bolsonaro foi tão parecido com o governo Dilma."
Ex-secretário de Desburocratização, Uebel escreveu numa rede social que o ex-ministro petista da Fazenda "Guido Mantega faria absolutamente o mesmo que Paulo Guedes está fazendo."
No passado, Guedes criticava Dilma por segurar artificialmente os preços dos combustíveis, empurrando prejuízos para dentro do balanço da Petrobras. Reduzido novamente pelo chefe à sua insignificância, Guedes também deve achar que o improviso dá a Bolsonaro uma aparência de Dilmo. A diferença em relação a Uebel é que o ex-Posto Ipiranga resiste à ideia de chamar o caminhão de mudança.
Por Josias de Souza
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