segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Turismo eleitoral de Jair Bolsonaro é caro e inútil



Bolsonaro foi aos funerais da rainha Elizabeth, em Londres, mesmo não sendo coveiro. Viajou como chefe de Estado. Mas comportou-se como candidato aloprado. Se o presidente acha que pode conquistar a reeleição fazendo comício para inglês ver e filmando o preço da gasolina num posto londrino, problema dele. O Itamaraty e a rainha não dão votos nos fundões do Nordeste nem nas periferias do Sudeste. A questão é que o turismo eleitoral, além de violar a legislação, fere o decoro, macula a imagem do Brasil e golpeia o Tesouro Nacional.

Há excesso de bagagem na comitiva de Bolsonaro. Enfiou-se no avião presidencial até um Malafaia. O pastor, um padre, o filho Eduardo, o maquiador influencer de Michelle... A viagem foi adornada com todas as extravagâncias que o déficit público pode pagar. Incorporou-se à caravana Fabio Wajgarten, o chefe da Comunicação do comitê de campanha. Ele despejou imagens das aventuras londrinas do "mito" nas redes sociais em tempo real.

Encerrados os rituais fúnebres da rainha, Bolsonaro levará sua candidatura para passear em Nova York. Depois de antever na sacada da embaixada em Londres sua vitória no primeiro turno, fará comício nas Nações Unidas. Assim que Bolsonaro se apropriar da notícia, como primeiro orador da cerimônia de abertura da Assembleia-Geral da ONU, os fatos se perderão para sempre. No gogó do candidato, o Brasil será convertido num portento econômico, comandado por um presidente ambientalista —defensor do hidrogênio verde e da energia eólica.

No ano passado, a visita de Bolsonaro a Nova York foi um espetáculo burlesco. Um presidente sem vacina e seus acompanhantes tiveram de comer na calçada a pizza que o Diabo amassou. Infectado pelo coronavírus e pelo bolsovírus, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga mostrou o dedo médio em riste para um grupo de manifestantes. O chanceler Carlos França foi filmado reproduzindo o gesto da arminha.

Neste ano, a viagem continua sendo uma dispendiosa inutilidade. A diferença é o fator eleitoral. Bolsonaro agora tem a ilusão de que o novo vexame pode ajudá-lo a obter do eleitor um passaporte para continuar envergonhando o Brasil no exterior por mais quatro anos.

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