quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Bolsonaro pede anistia porque sabe que não escapa de condenação no STF


Ao pregar "borracha no passado", ex-presidente tenta barganhar acordão para proteger aliados e salvar a própria pele no STF

Jair Bolsonaro ao lado da mulher, Michelle Bolsonaro, durante ato na Paulista — Foto: Maria Isabel Oliveira

Jair Bolsonaro convocou sua tropa para mostrar força e tentar barganhar uma anistia. Três dias depois de silenciar na Polícia Federal, o capitão abriu o bico na Avenida Paulista.

Seu apelo foi explícito: “O que eu busco é a pacificação. É passar uma borracha no passado. É buscar maneiras de nós vivermos em paz. É não continuarmos sobressaltados”.

De volta ao palanque, o ex-presidente falou em “conciliação” e “anistia para aqueles pobres coitados que estão presos”. Na prática, quer um acordão para proteger aliados e salvar a própria pele.

O comício de domingo provou que Bolsonaro ainda tem capacidade de mobilização. Derrotado nas urnas e declarado inelegível, ele mantém a condição de líder inconteste da direita.

Isso explica a presença dos governadores de São Paulo, Minas e Goiás, todos interessados em herdar seus votos em 2026. O governador do Rio, mais preocupado em fugir da polícia, escapuliu para Portugal.

O capitão conseguiu a foto que buscava. Para seu azar, a imagem não deve comover os ministros do Supremo. Na tentativa de se defender, ele ainda se complicou ao citar a minuta de golpe que escondia na gaveta.

Alegou que o estado de sítio está previsto na Constituição, o que é uma meia-verdade. A Carta só autoriza a medida em casos extremos: declaração de guerra, agressão armada estrangeira ou “comoção grave de repercussão nacional”. O presidente não pode fechar o regime porque o povo resolveu votar em outro candidato.

Ao clamar por anistia, Bolsonaro deixou claro que não tem muita esperança de ser absolvido. Quer que a Justiça ignore os autos e esqueça o que ele fez. “Nós já anistiamos no passado quem fez barbaridade no Brasil”, afirmou.

Desde a proclamação da República, o país se especializou em perdoar militares que se envolveram em quarteladas. O professor Paulo Ribeiro da Cunha contabilizou 48 anistias a partir de 1895, quando o presidente Prudente de Morais indultou os rebeldes da Revolução Federalista.

Em nome da conciliação, estimulou-se a permanência do golpismo na caserna. Ao pregar a “borracha no passado”, o capitão tenta restaurar essa cultura de impunidade fardada. Em causa própria.

STF cria espécie de 'desenrola' para os corruptores confessos



A Justiça, como se sabe, é cega. Mas tem dispositivos de escuta terrivelmente sofisticados. Em audiência de conciliação, o ministro do Supremo André Mendonça deu ouvidos a grandes empresas que corromperam agentes públicos para obter contratos com o Estado. Autorizou-as a renegociar acordos de leniência nos quais confessaram seus crimes e toparam pagar multas bilionárias. Serão reabertos 11 acordos. Subiram no telhado multas que somam R$ 17 bilhões.

Mendonça diz considerar os acordos de leniência valiosos no combate à corrupção. Assegura que sua decisão não visa promover um "revisionismo histórico" da Lava Jato. Alega que concedeu 60 dias para a revisão das multas escorado no princípio da "boa-fé".

Ironicamente, a revisão não foi solicitada pelas empresas, mas por três partidos. PCdoB, PSOL e Solidariedade socorreram logomarcas como Braskem, Samsung, Nova Engevix, Camargo Corrêa, a antiga Odebrecht e J&F.

A velha Odebrecht, agora rebatizada de Novonor, e a J&F já haviam obtido de outro ministro do Supremo, Dias Toffoli, a suspensão de multas estimadas em R$ 3,8 bilhões e R$ 10,3 bilhões respectivamente. Insatisfeitas com tudo, querem um pouco mais.

A decisão de Toffoli envolve apenas os crimes confessados ao Ministério Público. A renegociação determinada por Mendonça engloba também acordos firmados com a Controladoria-Geral da União e Advocacia-Geral da União. Alega-se que foram celebrados antes de uma regulamentação editada em 2020.

Toffoli anotou num dos seus despachos que as confissões empresariais foram obtidas sob coação. Referiu-se à Lava Jato como "pau de arara do século 21". Na audiência com Mendonça, não se falou em coação.

Normalmente, não haveria dois relatores tratando do mesmo assunto na Corte. Mas a audição do Supremo é mesmo terrivelmente sofisticada. Alguns direitos às vezes são iguais. Os deveres são sempre muito diferentes.

Criou-se na Suprema Corte uma espécie de "desenrola" para corruptores confessos. Abençoado seja o contribuinte brasileiro, porque ele sempre herdará as grandes dívidas nacionais.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Bolsonaristas usam vídeo falso para denunciar exploração sexual infantil na Ilha do Marajó

Imagens de crianças em um carro no Uzbequistão foram usadas em montagem compartilhada nas redes


A guerra cultural sobre exploração sexual infantil na Ilha do Marajó, travada nas redes entre bolsonaristas e governo federal, resultou no uso de vídeos falsos. Uma das imagens bastante compartilhadas em montagens que tratam do tema trazem um caso fora de contexto, que ocorreu, na verdade, no Uzbequistão, quando uma professora foi presa após transportar dezenas de crianças em um carro. O deputado federal Carlos Jordy (PL) foi uma das pessoas que compartilhou a publicação.

O vídeo traz uma narração de uma mulher falando dos problemas sociais locais, até chegar ao tema do "desaparecimento e comercialização das crianças". Nesse momento, a publicação usa como imagem de fundo cenas de dezenas de crianças dentro de um carro, com expressões tristes. Essas cenas, na realidade, foram publicadas em setembro de 2023 e se tratam de um caso em Bukhara, no Uzbequistão, quando uma professora de ensino infantil foi flagrada transportando irregularmente 25 alunos em seu carro, e acusada de direção perigosa. O caso foi noticiado, inclusive, no GLOBO.

As cenas se alternam com trechos da apresentação de Aymeê Rocha no programa "Dom reality", quando cantou a sua música "Evangelho de fariseus", em que faz referências ao tema de exploração sexual infantil na Ilha do Marajó. A narradora diz que as famílias marajoaras, por falta de renda, enviam seus filhos às embarcações turísticas, para fins de prostituição infantil. Depois, diz que as acusações feitas pela ex-ministra Damares Alves geraram a pecha de "loucos" sobre os bolsonaristas que denunciavam o caso.

Ao final, o vídeo resgata o discurso de 2022 de Damares, quando disse que os dentes das crianças marajoaras eram arrancados para facilitar sexo oral. Por causa dessas declarações sem provas, o MPF pediu a indenização de R$5 milhões a hoje senadora, pelos danos sociais e morais coletivos supostamente causados à população da ilha.

Na quinta, o deputado federal Carlos Jordy, investigado no inquérito que apura responsáveis por financiar e organizar atos antidemocráticos de 8 de janeiro, compartilhou o vídeo com essa montagem. Na publicação, ele reclamou que Damares foi acusada de "fake news" na época das denúncias.

O mesmo vídeo teve bastante compartilhamento nas redes sociais, através de perfis e páginas ligadas a Jair Bolsonaro.

Entenda a polêmica

Cinco anos depois da então ministra Damares Alves falar da existência de uma suposta rede de mutilação e tráfico de crianças para exploração sexual na Ilha de Marajó (PA), o tema voltou à tona nesta semana e levantou uma guerra cultural entre bolsonaristas, artistas, ONGs e o governo federal nas redes, além de gerar conteúdos com desinformação. A performance de uma cantora evangélica marajoara com uma música sobre o tema foi compartilhada pela própria Damares, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL) e diversos artistas, como Angélica, Juliette, Luisa Sonza e Rafa Kalimann. Nesta sexta, em resposta, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, criticou as "ideias preconceituosas" na campanha e o Ministério dos Direitos Humanos publicou um "alerta de fake news", para desmentir a informação de que o governo teria cancelado programas sociais para o Marajó.

O assunto ganhou tração nas redes nos últimos dois dias, graças à participação da cantora Aymeê Rocha no programa "Dom reality", competição musical entre artistas do universo gospel. Na sua apresentação, ela cantou a sua música "Evangelho de fariseus", em que faz referências ao tema de exploração sexual infantil na Ilha do Marajó. Depois, aos jurados do programa, ela disse que o local, onde mora, sofre com problemas de tráfico de órgãos e "pedofilia em nível hard”: "

Bolsonaristas defendem Damares

O vídeo, então, passou a ser muito compartilhado por artistas, sensibilizados pela causa. Mas também por apoiadores de Bolsonaro, que aproveitaram o retorno do assunto para lembrarem das denúncias de Damares Alves. O discurso bolsonarista é de que a acusação teria sido silenciada e que não houve engajamento de artistas e autoridades. A volta do tema, por uma moradora local, seria uma "prova", na visão de parlamentares e eleitores bolsonaristas, de que Damares estaria certa.

Em 2019, a ex-ministra da Família e dos Direitos Humanos citou a ideia do programa "Abrace o Marajó", para combater o problema de prostituição infantil, lançado oficialmente em 2020. Mas, como O GLOBO mostrou em 2022, nenhum centavo foi gasto pelo projeto. No ano passado, o governo Lula revogou o programa e o substituiu pelo "Cidadania Marajó", para levar políticas sociais à região.

Depois de não ter apresentado provas de que crianças marajoaras tinham seus dentes removidos para facilitar o sexo oral, como afirmou em 2022, Damares foi denunciada pelo MPF por danos sociais e morais coletivos supostamente causados à população da ilha, com um pedido de R$ 5 milhões de indenização. Na quinta, a hoje senadora voltou a se manifestar sobre o assunto, na esteira do vídeo de Aymeé:

"Espero, sinceramente, que esta música acorde nossa sociedade, acorde o Brasil. Para que quem denuncia os abusos na região não seja silenciado. O Marajó pede socorro e não é de hoje. Que dessa vez as pessoas sejam verdadeiramente compelidas a agir ao ouvir o choro silencioso das crianças" escreveu a senadora, que disse que o Abrace o Marajó não teve êxito por causa da pandemia.

O deputado Nikolas Ferreira também vem se manifestando sobre o assunto. Em um vídeo de sete minutos, com 1,9 milhão de curtidas, ele disse que acha "excelente" a repercussão e relembrou o programa de Damares, ao dizer que "basicamente toda internet fez chacota com as denúncias da Damares". Ainda destacou postagens irônicas do deputado André Janones e afirmou que a deputada Erika Hilton pediu investigações sobre as acusações da Damares. Também mencionou que Xuxa iniciou um abaixo assinado pedindo sua cassação na época, com apoio de outros artistas.

ONGs rebatem campanha

Artistas como Angélica, Ludmilla, Juliette, Ludmilla e Thayla Ayala também se manifestaram, em favor da denúncia contra a exploração sexual. Por outro lado, ONGs que atuam na região entraram em cena para desmentir propagandas que teriam associado Marajó à exploração sexual infantil.

"A propaganda que associa o Marajó à exploração e o abuso sexual não é verdadeira: a população marajoara não normaliza violências contra crianças e adolescentes. Insiste nessa narrativa quem quer propagá-la e desonrar o povo marajoara. Enquanto ministra de Estado, Damares Alves não destinou os recursos milionários que por diversas vezes prometeu para a região, para fortalecer comunidades escolares. Ao invés disso, atentou contra a honra da população diversas vezes, espalhando mentiras, e abriu tais políticas públicas para grupos privados de São Paulo que defendem a privatização da educação pública" escreveu, em nota, o Observatório do Marajó

Já a Cooperação da Juventude Amazônida para o Desenvolvimento Sustentável (Cojovem) publicou: ''Não precisamos de um olhar estigmatizado e cheio de preconceito. O Marajó é símbolo de resistência, encanto e cultura da Amazônia".

Planalto se manifesta

Diante da campanha nas redes, o Planalto resolveu entrar no assunto. Na manhã desta sexta, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, publicou um vídeo de mais de cinco minutos, em que critica as acusações generalizadas. Na sua fala, ele admite os problemas da região, mas critica o antigo programa de Damares e diz que muitos vídeos sobre a situação são falsos.

— Chega a ser chocante gente dizer que faz parte da cultura do povo do Marajó ser pedófilo, vender seus filhos. Isso não faz parte da cultura do povo do Marajó. Isso muitas vezes são situações de exclusão. Geradas muitas vezes inclusive por muita gente que ganha muito dinheiro a partir das dificuldades do Mrajó, mas que nunca se dignou a ouvir para construir junto com ela as soluções - afirmou o ministro, que desferiu uma indireta a "influenciadores" ao dizer que é preciso se influenciar por quem vive no Marajó. — Há ideias muitas vezes preconceituosas de quem nunca pisou lá, ou que só conheceu aquela região através de vídeos muito suspeitos.

Horas depois, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania publicou um "alerta de fake news" no X. Na publicação, a pasta diz que é falsa que o "governo cancelou as ações, políticas e projetos voltados ao Marajó". O ministério explica que o Abrace Marajó foi revogado após ser alvo de críticas e que o governo criou o Cidadania Marajó, "um novo marco em políticas públicas na região":

"Essa retórica, que visava apenas à estigmatização do povo marajoara, foi justamente o motivo que fez com que o programa anterior fosse descontinuado, sem nenhuma entrega ou ação concreta", escreveu o ministério. A publicação foi compartilhada pelo ministro Silvio Almeida.

A presidente do PT, Gleisi Hoffman, também se manifestou, na tarde desta sexta, ao citar "fake" de Damares. Ela destacou que um dos vídeos compartilhados pela base bolsonarista mostra uma imagem que na verdade aconteceu no Uzbequistão.

"A extrema-direita é tão falsa que começou a circular um vídeo com crianças dentro de um carro, mas que não tem nada a ver a história e nem foi feito no Brasil", escreveu.

Pior IDH do país

No Brasil, o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) — indicador composto por dados acerca de expectativa de vida, educação e renda per capita — está numa ilha do arquipélago do Marajó. Melgaço (PA) tem pouco mais de 26 mil moradores e índice de 0,418. A título de comparação, o município na melhor posição, São Caetano do Sul (SP), é 0,862, o dobro. A lista mais recente dos IDHs municipais, feita pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), é de 2013. Quanto mais perto de 1, maior o desenvolvimento.

Ilha de Marajó já tem ação itinerante contra abuso sexual — Foto: reprodução

Embraer e CAE inauguram em Singapura o primeiro simulador de voo completo do E2 na região Ásia – Pacífico



A Embraer e a CAE inauguraram oficialmente hoje o primeiro simulador de voo completo para aeronaves E-Jets E2 na região da Ásia Pacífico. O treinamento desenvolvido para os jatos comerciais da Embraer faz parte do mais novo programa oferecido em Singapura pela recém ampliada joint-venture Embraer-CAE Training Services (ECTS).

O programa de capacitação do E2 contará com material didático de avaliação de treinamento baseado em competências (o CBTA, da CAE), instruções interativas em sala de aula com o simulador virtual CAE Simfinity (VSIM) e treinamento prático imersivo em um novo simulador de última geração da série CAE 7000XR. O equipamento está localizado no Centro de Treinamento de Voo CAE, em Singapura, próximo ao Aeroporto de Changi, e dará apoio aos operadores de E2 na região.

Pilotos da Scoot, uma subsidiária da Singapore Airlines, já começaram o treinamento como parte da preparação para o início das operações com o E190-E2 este ano. Eles irão ser avaliados em todos os aspectos e em diferentes cenários de voo, utilizando o simulador de última geração, com o objetivo de aprimorar as habilidades e o preparo antes do início da operação comercial dos jatos.

O simulador foi certificado pela autoridade de aviação civil de Singapura em dezembro de 2023.

Em complemento ao simulador de voo do E2 estão sessões em sala de aula que incluem treinamento interativo em tela touchscreen para acelerar o aprendizado. O VSIM, poderosa ferramenta para familiarização dos pilotos com todos os sistemas da aeronave, apresenta um aprimoramento significativo em relação à preparação típica dos profissionais. O VSIM pode ser usado por um instrutor para simular todos os tipos de funções do sistema, tanto em sala de aula ou como em briefings. Além disso, a ferramenta pode ser utilizada por pilotos para treinamentos individualizados.

As soluções de treinamento da ECTS são um dos destaques da plataforma Embraer Serviços & Suporte, que reúne um portfólio completo de produtos e soluções, potencializando a experiência de pós-venda e aprimorando o suporte constantemente para maior geração de valor aos clientes.

Dados do simulador de voo:
· Modelo: Série CAE 7000XR
· Sistema visual: CAE Tropos™ 6000XR
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Bolsonaro cria 'xandismo' e trata Xandão como novo Sergio Moro



Acuado pela delação de Mauro Cid e pelas provas que a Polícia Federal colecionou, Bolsonaro recorre a um expediente usado por onze em cada dez investigados indefesos. Em vez de se defender, libera seus advogados para atacar Alexandre de Moraes, crivando-o de questionamentos formais.

Na penúltima investida, a defesa de Bolsonaro recorreu contra decisão do presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, que indeferiu pedido para afastar Moraes da relatoria do inquérito sobre o golpe. Bolsonaro pede a Barroso que submeta sua decisão ao aval do plenário do Supremo.

Na semana passada, a defesa de Bolsonaro já havia protocolado três recursos, tentando protelar o seu interrogatório na Polícia Federal. Moraes indeferiu todos, forçando o investigado a silenciar diante de um delegado para não se autoincriminar.

Na prática, Bolsonaro tenta criar um 'xandismo', movimento análogo ao que se convencionou chamar de lavatismo. A defesa e o investigado tratam Xandão como um novo Sergio Moro, no pressuposto de que, depois da condenação, poderão alegar a parcialidade dos jugadores. O diabo é que, no caso de Bolsonaro, o julgamento ocorre no Supremo. E a maioria dos ministro da Corte vem referendando os atos de Moraes.

'Se pacificador da Paulista fosse real, ele talvez estivesse reeleito'



Um ministro do Supremo Tribunal Federal ironizou o discurso feito por Bolsonaro a milhares de devotos, na tarde de domingo: "Se o pacificador da Avenida Paulista fosse real, ele talvez estivesse reeleito", disse ele à coluna. "Não haveria 8 de janeiro, muito menos pedido de anistia."

O senador-general Hamilton Mourão protocolou no Senado, há quatro meses, proposta que concede anistia aos condenados por invadir as sedes dos Três Poderes. Rodrigo Pacheco e Arthur Lira, presidentes do Senado e da Câmara, sinalizam nos bastidores que não cogitam levar à pauta de votação nenhum projeto de anistia.

Os primeiros sinais estimulam a percepção de que a nova agenda de Bolsonaro começou a enferrujar menos de 24 horas depois de ser lançada. Consiste basicamente no seguinte: 1) "Pacificação"; 2) "Anistia para os pobres coitados" do 8 de janeiro; e 3) "Passar uma borracha no passado".

A certa altura, Bolsonaro insinuou que, no limite, a anistia e a borracha poderiam beneficiá-lo. Numa evidente autoreferência, declarou: "Nós não podemos concordar que um poder tire do palco político quem quer que seja."

Bolsonaro obteve a foto que tanto desejava. Encheu sete quadras da Avenida Paulista. Foi um notável feito político. Derrotado na sucessão, declarado inelegível pelo TSE e acossado por meia dúzia de inquéritos criminais no Supremo, o capitão mostrou que ainda respira. Do ponto de vista jurídico, porém, a façanha política não teve grande serventia.

O asfalto voltou para casa e os crimes atribuídos a Bolsonaro não sumiram dos processos. Para piorar, a Polícia Federal enxergou num trecho da fala de domingo uma admissão da existência de minuta de golpe. Para os investigadores, o orador da Paulista merece interrogatório, não anistia.

Golpe sem tanque? Bolsonaro ironiza, mas plano envolvia, sim, tanque na rua… ( Com Reinaldo Azevedo)

 

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Airbus e Boeing em apuros para entregar seus aviões nos prazos



A Boeing e Airbus receberam encomendas bilionárias no salão aeronáutico de Singapura (Singapore Airshow) nesta semana, mas podem enfrentar sérios problemas para cumprir prazos devido às dificuldades nas redes de abastecimento, alertam analistas.

Os dois fabricantes atribuem os atrasos à falta de peças e de mão-de-obra, consequência do choque sofrido pelo setor durante a pandemia de covid-19.

De motores a cintos de segurança, passando por cabos e parafusos, a fabricação de um avião depende de milhões de peças procedentes de milhares de fornecedores em todo o mundo, o que significa que qualquer problema na rede de abastecimento tem um efeito multiplicador.

Entre os principais contratos anunciados no maior salão aeronáutico da Ásia, que termina neste domingo, está uma encomenda de 45 boeings 787 Dreamliners feita pela Thai Airways, com um valor de mercado superior a 13 bilhões de dólares (64 bilhões de reais na cotação atual). A Royal Brunei Airlines também encomendou quatro aeronaves deste modelo.

O consórcio europeu Airbus assinou um acordo com a companhia aérea vietnamita Vietjet Air que inclui 20 aeronaves A330-900 de grande capacidade, com as primeiras entregas previstas para 2026.

Mas o cumprimento dos contratos na data inicialmente estipulada se anuncia complicado.
O especialista do setor, Shukor Yusof, lembra que a Boeing e a Airbus já alertaram que alguns dos seus modelos mais requisitados não estarão disponíveis antes de 2030.

"Será difícil entregar novos pedidos, devido à persistente escassez de mão de obra e de matérias-primas, aos problemas logísticos e ao custo da energia", explica Shukor, fundador da consultoria Endau Analytics.

"Será muito difícil aumentar o ritmo de produção. Não estamos falando de celulares", acrescenta.

- "Gargalo" -

Para as companhias aéreas, os atrasos nas entregas implicam uma menor oferta de assentos e a necessidade de operar aviões mais antigos e que consomem mais combustível, o que pode pesar nos seus lucros, estima este analista.

O setor tem enfrentado problemas desde a pandemia, que gerou restrições de circulação e fechamento de fronteiras e, por extensão, uma interrupção nas entregas de matérias-primas.

Além disso, a guerra na Ucrânia, que começou com a invasão russa há dois anos, provocou um aumento nos preços da energia, promovendo assim uma inflação nos bens e serviços.

Com o fim da pandemia, o tráfego aéreo se recuperou e os fabricantes, companhias aéreas, aeroportos e fornecedores tentam acompanhá-lo.

A tensão, de um lado por problemas herdados da pandemia e a guerra da Ucrânia e do outro, a nova demanda, fez a rede de abastecimento "entrar em um gargalo", resume Brendan Sobie, analista da consultora Sobie Aviation.

A título de ilustração, para fabricar cada 787 Dreamliner a Boeing necessita em torno de 2,3 milhões de peças. O grupo americano fabrica algumas delas, mas as demais vêm de fornecedores de todo o mundo.

- "Déficit de capacidade" -

Willie Walsh, diretor-geral da IATA, a associação de transporte aéreo internacional, disse em um seminário anterior ao salão de Singapura que os problemas relacionados à rede de abastecimento podem "durar vários anos".

A isto se acrescenta uma falta de mão-de-obra igualmente problemática.

A Boeing calculou no ano passado que o setor necessitaria 649.000 pilotos, 690.000 técnicos de manutenção e 938.000 tripulantes nos próximos vinte anos.

Shukor destaca que algumas companhias, que demitiram pilotos durante a pandemia, enfrentam dificuldades para contratar e que os fabricantes não encontram mecânicos e técnicos suficientes.

Inclusive, há profissionais que "não têm vontade de voltar", diante da fragilidade da atividade e conjuntura econômica geral.

"Nunca foi tão difícil colocar uma frota no ar", disse à AFP o diretor-geral da companhia filipina Cebu Pacific, Michael Szucs.

"Temos um déficit de capacidade, ou porque há aviões no solo ou porque não são entregues no prazo", explicou.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Embraer é menos afetada por problemas com motores Pratt, mas não está imune, diz executivo



Embraer está sendo menos afetada do que algumas outras fabricantes de aeronaves pelos problemas com os motores Pratt & Whitney, mas não está imune, disse um executivo sênior da companhia brasileira nesta terça-feira.

A Embraer tem confiança na Pratt & Whitney e tem um "relacionamento próximo e conectado" que ajudará as partes a resolverem os problemas com os motores, disse o diretor comercial da Embraer Aviação Comercial, Martyn Holmes, durante a feira de aviação de Cingapura.

"Somos menos afetados, não estamos imunes. E tendo passado por essas coisas no meu próprio passado, com motores e outras coisas, tenho que dizer que acho que a Pratt & Whitney está lidando bem com isso", disse o executivo a jornalistas.

Os clientes com quem ele conversou nos últimos meses elogiaram a Pratt & Whitney por seu engajamento, acrescentou.

"O que estamos vendo é que a Pratt & Whitney tem uma linha de visão clara... A Pratt & Whitney arregaçou as mangas, está conversando com os clientes e trabalhando em soluções", disse ele.

Os comentários de Holmes reiteraram a confiança que a Embraer expressou em maio em relação à fabricante de motores norte-americana, quando disse que não via nenhum impacto nas vendas de seus aviões decorrente dos problemas da Pratt & Whitney. Naquela ocasião, a Embraer afirmou que havia enfrentado apenas um quarto dos problemas observados em outros lugares, com 12 de suas aeronaves com voos suspensos.

Os motores GTF da Pratt & Whitney, subsidiária da RTX, que são usados nos jatos E2 da Embraer, Airbus A220 e Airbus A320, estão sendo submetidos a uma inspeção para verificar a existência de componentes potencialmente defeituosos que forçaram as companhias aéreas a suspenderem temporariamente voos com essas aeronaves.

Os jatos E190-E2 e E195-E2 receberam certificação de tipo do órgão regulador de aviação da China em 2022 e 2023. O presidente-executivo da Embraer disse estar "trabalhando arduamente" para conquistar encomendas no país, onde tem buscado novos negócios desde o fechamento de uma joint venture em 2016.

"Na China, estamos trabalhando em três frentes: estamos trabalhando com clientes potenciais para vender alguns E2s, estamos trabalhando com parceiros potenciais e estamos trabalhando com autoridades governamentais", disse Francisco Gomes Neto.

Na feira de Cingapura, a Embraer também anunciou que assinou um contrato com a Scoot, subsidiária de baixo custo da Singapore Airlines, para um programa de gerenciamento de estoque de peças sobressalentes destinado a ajudar clientes a reduzirem custos operacionais por meio da otimização dos níveis de inventários.

sábado, 17 de fevereiro de 2024

Eve fará estreia no Singapore Air Show com maquete de cabine e realidade virtual




A Eve Air Mobility, subsidiária da Embraer (BOV:EMBR3) para eVTOLs, fará sua primeira participação no Singapore Air Show na próxima semana, com uma maquete de cabine em escala real e uma experiência de voo em realidade virtual.

A ação faz parte de uma turnê mundial que começou em 2022 no Farnborough Air Show. A maquete mostra o design de um eVTOL silencioso, eficiente e sustentável com emissão zero, e explora seus recursos internos, afirma a empresa.

Segundo a Eve, 2023 foi um ano “de sucesso”, que contou com o início da produção de seu primeiro protótipo em escala real, seleção de vários fornecedores e o anúncio de sua primeira unidade de produção.

O homem dos seis dedos numa mão faz Lula rir à toa



Uma vez, nos anos de 1980, quando as máquinas de escrever ainda moviam ruidosamente as redações de jornais e revistas, a VEJA pisou feio no tomateiro. Foi no tempo que se celebrava universalmente o 1º de abril como Dia da Mentira. Hoje, na era das redes sociais, Dia da Mentira é todo dia, e a cada minuto.

A revista inglesa New Scientist, por costume e brincadeira, publicara a notícia da descoberta do “boimate”, resultado da combinação do gene do boi com o tomate. A VEJA levou a notícia a sério e republicou-a como verdade em sua edição 764, de 27 de abril de 1983. Desculpou-se depois, mas o estrago já estava feito.

A edição desta semana da revista, que foi ontem para as bancas e está no seu site à disposição dos assinantes, trouxe algo capaz de rivalizar com o boimate. Na capa, em chamada para a reportagem “O exagero da patrulha”, aparece a fotografia de um homem com seis dedos na mão direita e cara de indignado.

A indignação tem a ver com o conteúdo da reportagem sobre os excessos do politicamente correto. Os seis dedos do homem só podem ter a ver com o mal uso da Inteligência Artificial. Chamado pelos desafetos de “Nine” por ter perdido um dedo em um acidente, e tantas vezes alvo de críticas da VEJA, Lula deve estar rindo à toa.

Montanha da agressão a Moraes em Roma pariu um grande fiasco



Ao operar para que corresse no Supremo a investigação sobre a agressão que sofreu com sua família no aeroporto de Roma, Alexandre de Moraes usou um canhão para atirar numa formiga. Decorridos sete meses, a Polícia Federal concluiu o inquérito. A montanha deu à luz um grande fiasco.

Apuravam-se os crimes de lesão corporal, injúria e tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito. A PF concluiu que as imagens das câmeras mostram que o empresário Roberto Mantovani Filho atingiu o rosto de Alexandre Barci de Moraes, o filho do ministro, e foi empurrado em seguida pelo rapaz.

Para a PF, Mantovani cometeu "injúria real" —quando a ofensa envolve o uso de violência, mas não provoca lesão corporal. Como o crime tem potencial ofensivo mixuruca e foi cometido no exterior, o agressor não foi sequer indiciado.

Concluiu-se também que a ausência de áudio nas filmagens impede a comprovação de outras acusações feitas por Moraes —como a de que a mulher de Mantovani, Andreia Munarão, xingou-o de "bandido, comunista e comprado."

Nas pegadas da divulgação do relatório da PF, o Supremo iniciou a apreciação de dois recursos. A Procuradoria-Geral da República e a defesa da família Mantovani requisitaram cópia do vídeo captado em Roma, uma peça até hoje sonegada à opinião pública.

Questionaram, de resto, a inclusão de Alexandre de Moraes como assistente de acusação no inquérito. O julgamento ocorre em plenário virtual, longe dos refletores da TV Justiça. Dias Toffoli, relator do caso, indeferiu os recursos. Moraes declarou-se impedido de votar.

Caberá à Procuradoria-Geral da República decidir se arquiva o inquérito, como sinaliza a PF. Antes mesmo do desfecho, cristaliza-se a percepção segundo a qual o caso não deveria estar na Suprema Corte.

O empresário agressor e o filho do ministro não dispõem de prerrogativa de foro. Não exercem mandatos nem funções públicas. Até quem deseja solidarizar-se com Alexandre de Moraes percebe que o exagero, quando é muito, acaba virando uma verdade que perdeu a calma.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Resistência silenciosa ao golpe não é um atestado de inocência



No inquérito sobre a tentativa de golpe, a Polícia Federal identificou nas Forças Armadas dois tipos de oficiais. Há os golpistas escancarados e os legalistas envergonhados. O primeiro grupo ajudou Bolsonaro a infectar a democracia. O segundo se opôs ao golpe sem denunciar ao país que viram pus no fim do túnel. Restou a impressão de que não há inocentes no enredo golpe, apenas golpistas e cúmplices por omissão.

Chamado de "cagão" pelo colega de armas Braga Netto, o general Freire Gomes, então chefe do Exército, alega em privado que preferiu agir contra o golpe em silêncio para não jogor lenha na ruptura que Bolsonaro tentava acender. Se for repetida no depoimento que a Polícia Federal cogita realizar, a alegação do general valerá apenas até certo ponto. Um ponto de interrogação, pendente de investigação.

Ao deflagrar a Operação Hora da Verdade, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes autorizou batidas da PF nas residências de cinco generais e um almirante. Todos golpistas escancarados. Três comandaram escrivaninhas ministeriais. Três chefiaram tropas. O general Freire Gomes não recebeu a visita dos rapazes da PF. Mas sua resistência, por envergonhada, não o livrou da suspeita de omissão.

O próprio Freire Gomes empurrou a interrogação para dentro de sua biografia ao assinar junto com os outros comandantes militares, após a vitória de Lula, uma nota com insinuações dirigidas ao Judiciário. Esse texto, lido em voz alta em acampamentos que pediam intervenção militar na porta dos quarteis, ajudou a engrossar o caldo que entornou na intentona de 8 de janeiro.

Tentativa de golpe de Estado é crime. Atentado contra o estado democrático de direito também é tipificado como delinquência grave. A Constituição não confere aos militares, mesmo aos mais virtuosos, o direito ao exercício de uma autolegalidade. No caso de Freire Fomes, a resistência calada pode ser uma atenuante. Mas não se confunde com atestado de inocência.

Defesa de Bolsonaro faz chicana ao tentar afastar Moraes do caso


O colunista do UOL Reinaldo Azevedo afirmou durante o programa Olha Aqui! que a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) faz chicana ao pedir para que Alexandre de Moraes seja retirado das investigações sobre a suposta tentativa de golpe de Estado.

"Isso é chicana. Defensor é defensor e tem que fazer a defesa, advogado de defesa é um dos pilares da democracia. Mas há determinadas ações que apenas buscam difamar uma das partes ou o juiz. Sabe-se que é sem causa de pedido, mas ainda assim fazem o pedido para gerar mal-estar e desinformação. O nome disso é chicana e é lamentável."

Por Reinaldo Azevedo 



domingo, 11 de fevereiro de 2024

Embraer assina acordo com grupo indiano para adaptar C-390 Millenium ao mercado do país




Embraer e Mahindra Defence Systems anunciaram a assinatura de um Memorando de Entendimento (MoU) envolvendo o C-390 Millennium.

O comunicado foi feito pela companhia (BOV:EMBR3) nesta sexta-feira (09).

O objetivo do acordo é de cumprir os requisitos da Força Aérea Indiana para a aquisição de aeronaves de transporte médio multimissão em seu próximo projeto de aquisição de Aeronaves de Transporte Médio (MTA). O MoU foi assinado na Embaixada do Brasil em Nova Déli.

“Estamos honrados em anunciar esse MoU com a Mahindra Defence System. A Índia tem uma indústria de defesa e aeroespacial diversa e forte e escolhemos a Mahindra como nosso parceiro para competirmos em conjunto no programa MTA” , afirma Bosco da Costa Junior, Presidente & CEO da Embraer Defesa & Segurança. “A Índia é um mercado-chave para a Embraer e nós apoiamos totalmente a visão da Índia para se tornar autossuficiente (Atmanirbhar Bharat). Vemos essa parceria como símbolo de fortalecimento das relações entre Brasil e Índia e uma forma de promover a cooperação global Sul-Sul.”

Embraer e Mahindra Defense Systems irão trabalhar com a Força Aérea da Índia para identificar os próximos passos do Programa MTA, assim como em meios para colaborar com a indústria aeroespacial e de defesa indianas para iniciar o desenvolvimento do plano de industrialização local do projeto.

“Estamos orgulhosos em iniciar essa parceria com a Embraer, uma companhia conhecida por sua excelência em engenharia e um portfólio único de aeronaves e sistemas. O C-390 Millenium é a aeronave militar mais avançada do mercado e acreditamos que essa parceria vai não apenas reforçar a habilidade operacional da Força Aérea Indiana, mas também proporcionar uma solução de industrialização eficiente completamente alinhada com os objetivos do ‘Make in India’”, afirma Vinod Sahay, Presidente do Setor Aeroespacial e de Defesa e Membro do Conselho Executivo do Grupo – M&M.

O Memorando de Entendimento foi assinado pela Embraer Defense & Security e pela Mahindra Defense Systems, uma subsidiária 100% controlada pela Mahindra, que se concentra em veículos blindados e produtos relacionados à segurança, incluindo eletrônicos.

A Embraer tem uma presença estabelecida na Índia nas áreas de defesa, aviação comercial e aviação executiva. Em agosto de 2023, a Embraer realizou o C-390 Millennium Day em Nova Déli, para aprofundar o engajamento com a indústria aeroespacial local, evento que contou com grande participação da cadeia de produção indiana.


O C-390 Millenium é a nova geração de aeronave militar de transporte multimissão que traz mobilidade incomparável, alta produtividade e flexibilidade de operação a baixos custos operacionais, em uma combinação imbatível.

Desde a entrada em operação na Força Aérea Brasileira, em 2019, e mais recentemente na Força Aérea Portuguesa, em 2023, o C-390 comprovou sua capacidade, confiabilidade e desempenho. A atual frota de aeronaves em operação acumula mais de 11.500 horas de voo, com disponibilidade operacional em torno de 80% e taxas de conclusão de missão acima de 99%, demonstrando excepcional produtividade na categoria. O C-390 Millenium alcançou a Capacidade Operacional Completa (Full Operacional Capability – FOC na sigla em inglês) pela Força Aérea Brasileira em 2023, que endossa a capacidade da plataforma de realizar todas as missões para as quais foi projetada.


Até o momento o C-390 Millenium foi selecionado pelo Brasil, Portugal, Hungria, Holanda, Áustria, República Tcheca e, mais recentemente, Coreia do Sul.

O C-390, a aeronave militar mais moderna do mercado, pode transportar mais carga útil (26 toneladas) em comparação com outras aeronaves de transporte militar de médio porte e voa a 870 km/h (470 nós). É capaz de realizar uma ampla gama de missões, como transporte e lançamento de cargas e tropas, evacuação aeromédica, busca e salvamento, combate a incêndios e missões humanitárias, operando inclusive em pistas não pavimentadas, em superfícies como terra compactada e cascalho. A aeronave configurada para reabastecimento aéreo, com a designação KC-390, já comprovou sua capacidade tanto como tanque quanto como receptor, neste caso recebendo combustível de outro KC-390 utilizando cápsulas (pods) instaladas sob as asas.

A colaboração em torno do C-390 Millennium trará a mais recente tecnologia em termos de aeronaves aeroespaciais e de transporte militar para a Índia. Tanto a Embraer quanto a Mahindra Defence explorarão o potencial de transformar a Índia em um futuro centro da aeronave C-390 para a região.

A nova paranoia de Bolsonaro



Jair Bolsonaro anda cada vez mais preocupado com sua segurança. O temor agora, relatam aliados, é de que pode ser novamente vítima de um atentado, como a facada que levou em Juiz de Fora durante a campanha de 2018.

Vídeo assombra pela banalidade que revestiu a reunião do golpe



Nada foi mais assombroso na reunião de 5 de julho de 2022 do que a normalidade que revestiu o debate sobre o golpe. Escândalos costumam brotar de acontecimentos que provocam espanto, ferindo a rotina como uma lâmina afiada. Na conversa do Palácio do Planalto, o que feriu foi a normalidade. Bolsonaro expôs ao ministério sua estratégia para subverter o resultado das urnas. E o absurdo foi recebido pelo primeiro escalão do governo com uma doce, persuasiva, admirável naturalidade.

Todos os brasileiros deveriam reservar um naco do recesso carnavalesco para assistir ao vídeo, que está disponível acima. Sugere-se ao espectador um exercício singelo: percorrer a filmagem abstraindo as declarações antidemocráticas de Bolsonaro e os flertes dos seus auxiliares mais notáveis com a ilegalidade.

Ignorem-se as vulgaridades do capitão, ou o strip-tease moral dos generais Augusto Heleno (GSI), Paulo Sérgio Nogueira (Defesa) e Mário Fernandes (número 2 da Secretaria-Geral da Presidência), ou o apagão ético de Anderson Torres (Justiça) e Wagner Rosário (CGU). Fixe-se a atenção no que acontece entre uma barbaridade e outra. Estava sobre a mesa o golpe. E nenhum dos presentes esboçou surpresa.

Se o encontro ministerial fosse um banquete e Bolsonaro servisse uma ratazana ensopada, nenhum dos ministros faria a concessão de um ponto de exclamação. O cardápio é golpe? Pois que seja antes da abertura das urnas, sugeriu o general Heleno. "Se tiver que virar a mesa, é antes das eleições". Ninguém se opôs.

O alvo é o TSE? Pois convém intensificar a "guerra", movimentando as Forças Armadas da "linha de contato" para o início da "operação" de contestação às urnas, sugeriu o general Paulo Sérgio. Nenhuma contestação.

O objetivo é deter Lula? Pois "a gente precisa atuar agora", insuflou Anderson Torres, "porque todos vamos se foder (sic)". Nem sinal de objeção.

Há o risco de repetir 64? "É muito melhor assumir um pequeno risco de conturbar o país, para que aconteça antes, do que assumir um risco muito maior da conturbação no 'the day after', deu de ombros o general Mário Fernandes. De novo, não se ouviu uma reles contradita.

"O TCU já soltou o relatório dizendo que as urnas são seguras", avisou Wagner Rosário, levantando a bola para Bolsonaro cortar a cabeça de Bruno Dantas, autor do documento: "Olhem pra minha cara, por favor. Todo mundo olhou pra minha cara? Acho que não tem bobo aqui."

A atmosfera de normalidade que permeou o encontro instilou nas cenas uma impressão perturbadora: se Bolsonaro mandasse servir o ensopado de ratazana entre uma aberração retórica e outra, alguém talvez erguesse a voz: "Capricha na pimenta!"

No limite, o ambiente capturado pelo vídeo do Planalto evoca uma expressão cunhada pela filósofa alemã Hannah Arendet. Ao analisar a história do criminoso nazista Adolf Eichmann, ela enxergou no comportamento do personagem traços de uma "banalidade do mal".

Assim como os auxiliares de Bolsonaro, Eichmann era tido como bom funcionário, um exemplar cumpridor de ordens. Durante o seu julgamento, em Jerusalém, Eichmann contou que, quando os chefes da SS, a polícia nazista, foram convocados para planejar a implementação da "solução final" —a execução dos judeus— realizaram uma reunião de trabalho de uma hora e meia.

Ao final do fatídico encontro, disse Eichmann no banco dos réus, foram servidos aperitivos e um almoço. Nas palavras do servidor de mostruário do regime nazista, foi "uma pequena e íntima reunião social". Nada mais normal.

O encontro do Planalto durou uma hora e 33 minutos. Paulo Guedes, o Posto Ipiranga, entrou mudo e saiu calado. Suponha-se que, ao retornar ao Ministério da Economia, um assessor lhe perguntasse: "Como foi a reunião?" Guedes talvez respondesse: "Nada de novo".

Não seria despropositado supor que Marcelo Queiroga, então ministro da Saúde, tenha engolido um antiácido, para evitar os efeitos gástricos dos cafezinhos que sorveu enquanto silenciou para o absurdo. Ou que Joaquim Álvaro Pereira Leite, então titular do Meio Ambiente, tenha retornado impassível à pasta do Meio Ambiente após testemunhar as tramoias palacianas para subverter o ambiente inteiro. Ou que José Carlos Oliveira (Trabalho), tenha parado numa padaria para se abastecer pão e leite antes de se entregar ao repouso doméstico. Ou...

Nenhum espelho reflete melhor a imagem de um homem do que as suas palavras. Durante a reunião ministerial do golpe, houve dois momentos em que os oradores pressentiram que não conspiravam apenas contra a democracia, mas contra a própria autoimagem.

O general Paulo Sérgio, titular da Defesa, disse a alturas tantas considerar conveniente que "os comentários fiquem entre a gente". Wagner Rosário, o chefe da Controladoria, teve a ilusão de que poderia fugir ao controle social impunemente: "A reunião está sendo gravada?", indagou.

O general Braga Netto acenou negativamente com o dedo. Bolsonaro assegurou a Rosário que mandara gravar apenas sua exposição inicial. Graças a uma cilada do destino, o delator Mauro Cid guardou no seu computador a íntegra das imagens. Capturada pela Polícia Federal, a peça foi jogada no ventilador por Alexandre de Moraes.

Presenteado com a possibilidade de comprovar a normalidade que permeou o ocaso de Bolsonaro, o brasileiro é empurrado, por assim dizer, para a conclusão de que algo de muito anormal precisa ocorrer para restabelecer a sanidade nacional. A imposição de um lote de sentenças criminais que interrompam o ciclo de impunidade de Bolsonaro e dos seus cúmplices seria um bom começo.

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Acróstico feito por Anibal Hercules Tosetto

 Caçapava (SP), final dos anos 50, um grupo de ciganos chegou

e acampou num canto da área onde ficava um campo de futebol

(campo da Juta).


O GOLPE DA CIGANA NO SINHÔ


O Sinhô Monteiro residia na Rua Marques de Herval.


Grande quintal da casa dele ia até a Rua da Cadeia.*

O Sinhô não tinha familiares morando com ele.

Lida da casa ficava por conta de uma senhora,

Pessoa discreta e mãe do saudoso Zé das Calças.

Ela e seu filho também residiam na casa do Sinhô.


De um grupo de ciganos recém acampado por perto,

A cigana mais bela saiu oferecendo ler a sorte e outras


Ciganices. Casualmente, ou não, chegou ao Sinhô.

Idílio relâmpago começou, a cigana encantou o Sinhô.

Ganhou a confiança e o interesse dele, prometeu-lhe

A felicidade do casamento, se ele dobrasse a riqueza!

Na verdade ele já era rico, emprestava dinheiro a juros.

Atraído e hipnotizado ele ficou, cegamente acreditando


Na proposta da bela cigana: enterrar dinheiro hoje e no

Outro dia, com as rezas dela, desenterrar o dobro!


Sinhô topou, mas impôs colocar pouco dinheiro.

Inebriado ficou no dia seguinte, lá estava o dobro!

Novas e mais fortes rezas, topou. Botou a sua fortuna.

Hoje seria uma milionária quantia. O final? Sinhô zerou.

Ônus e decepção pra ele; e, felizes, ciganos deram no pé!


AHT

31/10/2023

Nota*: A atual Rua Comendador João Lopes também

era chamada de Rua da Cadeia

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Apreensão de discurso golpista adorna o Waterloo de Bolsonaro



A Polícia Federal apalpou na batida de busca e apreensão que realizou na sede do Partido Liberal, em Brasília, um presente inesperado. Os agentes recolheram na sala reservada a Bolsonaro um documento com aparência de discurso. Contém o anúncio de um estado de sítio e de um decreto instituindo uma Operação de Garantia da Lei e da Ordem, a GLO. A peça deu ao provável dono a aparência de uma espécie de Napoleão suicida, que oferece aos investigadores as pistas que levarão ao seu Waterloo criminal.

O estado de sítio é um remédio constitucional reservado a situações excepcionais. Entre elas uma "comoção grave de repercussão nacional". Permite a adoção de medidas extremas. Coisas como suspensão da liberdade de reunião, restrições à liberdade de imprensa e requisição de bens. A GLO autoriza o uso das Forças Armadas para conter perturbações da ordem pública. Só um Napoleão de hospício, protagonista de múltiplos inquéritos na Suprema Corte, presentearia a PF com um documento desse teor.

Um dos elementos que fundamentaram a decisão de Alexandre de Moraes de enviar a PF às ruas nesta quarta-feira foi um vídeo inusitado. Nele, há imagens de uma reunião em que Bolsonaro traçou com cúmplices civis e militares a estratégia de difusão de mentiras sobre o sistema eleitoral. É nessa peça que soam as propostas vadias do general Augusto Heleno de "virar a mesa antes da eleição" e infiltrar espiões da Abin nas campanhas rivais. É como se Bolsonaro tivesse planejado com esmero sua própria imolação.

Noutra reunião esquadrinhada pela PF, adotando o mesmo comportamento de um Napoleão se descoroando, Bolsonaro imprimiu as digitais num decreto golpista. Encomendou a edição do texto. Aprovou-o na sequência. Fez tudo isso na frente do faz-tudo Mauro Cid, hoje convertido em delator. Nesse contexto, a declaração recolhida na sede do PL reforça o caráter didático do golpismo. Ficou entendido que o discurso seria lido na sequência do golpe.

Diz o texto: "Afinal, diante de todo o exposto e para assegurar a necessária restauração do Estado Democrático de Direito no Brasil, jogando de forma incondicional dentro das quatro linhas, com base em disposições expressas da Constituição Federal de 1988, declaro o estado de sítio; e, como ato contínuo, decreto Operação de Garantia da Lei e da Ordem."

Na prática, embora faça pose de vítima de perseguição, Bolsonaro tornou-se um imperador autossuficiente. Ele mesmo conspira, ele mesmo documenta a trama, ele mesmo produz o rastro que leva os investigadores às provas. Ao meter-se no hospício do golpismo, o capitão virou um duque de Wellington de si mesmo. Alexandre de Moraes e a Polícia Federal apenas surfam na onda de evidências que invade o inquérito.