quinta-feira, 22 de setembro de 2022

No Brasil de Bolsonaro, Datafolha é apenas mais um comunista a ser abatido



Na aparência, Rafael Bianchini é um brasileiro convencional que mora na cidade paulista de Ariranha. Eis senão quando, de repente, salta de dentro da alma de Bianchini um espírito miliciano a serviço do bolsonarismo.

Com o aval tácito de Bolsonaro, um presidente cultor da arma e do extermínio, o sujeito agride a socos e pontapés um pesquisador do Datafolha. Ele entra em casa. Volta armado de faca. Se não fosse contido, assassinaria um trabalhador.

Os otimistas acham que os intolerantes políticos são perigosos. Os pessimistas preferem achar que eles são mesmo. O direito ao otimismo foi revogado num país em que o presidente faz da distribuição de armas um projeto social e expõe em comício o plano de "extirpar" opositores.

Num país assim, a morte surge do nada nas circunstâncias mais improváveis —numa festa de aniversário no Paraná ou num papo entre colegas de trabalho no Mato Grosso. Nesse Brasil rupestre de Bolsonaro, o Datafolha é apenas mais um comunista a ser abatido —ou extirpado.

Se Bolsonaro não fosse o conto do vigário no qual os bolsonaristas caíram, haveria na Presidência um personagem que valoriza Deus, pátria, família e liberdade. Nessa hipótese, ninguém seria cínico o bastante para lutar pela vida em gestação e, simultaneamente, tramar a morte de vivos incômodos.

O governo não cobraria patriotismo antes de melhorar a pátria. A família presidencial não seria uma pessoa jurídica do ramo imobiliário. E ninguém cometeria crimes em nome da liberdade.

O Brasil tem saudades do tempo em que a liberdade era o direito de fazer tudo o que as leis permitem.

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