quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Bolsonaro atira com caneta para matar, acusa instituto Sou da Paz em vídeo



Num instante em que Bolsonaro pega em armas pelo direito dos brasileiros de se armar, o instituto Sou da Paz veiculou um vídeo que acusa o presidente de atirar para matar os brasileiros com sua caneta. "A mão que que assina é a mesma que puxa o gatilho", anota a ONG na legenda do vídeo.

As imagens exibem o vaivém de uma bala. Primeiro, o projétil faz o caminho inverso —da cabeça de uma criança até a caneta presidencial. Depois, o retorno. No trajeto, a bala percorre várias cenas que podem resultar em morte se houver uma pistola por perto: a briga de casal, a discussão no trânsito, a loja de roupas e a sala de aula na rota do tiroteio e, finalmente, a menina postada no quarto, ao lado da cama, segurando um urso de pelúcia.

Junto com o vídeo, a entidade divulgou um texto. Nele, recordou que, sob Bolsonaro, implementou-se uma política armamentista por decreto, à margem do Legislativo. Foram editados mais de quatro dezenas de decretos.

"Eles permitiram que cidadãos comuns possuam armas antes restritas às polícias, tenham permissão para adquirir um número muito maior de armas e munições, e possam andar armados em lugares públicos", anotou a ONG. "Os decretos também armaram o crime, já que diminuíram a fiscalização para impedir que armas e munições sejam desviadas."

Segundo o instituto Sou da Paz, "a cada dia são mais de 1.300 novas armas compradas por civis" no faroeste em que se converteu o Brasil. "Mais de 855 milhões de munições foram vendidas nos últimos três anos e meio."

Batizado de "Caneta Gatilho", o vídeo vem à luz às vésperas do 7 de Setembro, em meio a uma polêmica que opõe Bolsonaro ao ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin. Na véspera, Fachin suspendeu trechos de decretos do presidente que facilitaram a posse e a compra de armas de fogo e de munições.

Fachin atropelou o colega Nunes Marques. Chamado por Bolsonaro de "10% de mim no Supremo", Marques interrompera o julgamento sobre armas há um ano. Relator da encrenca, Fachin arrancou o tema da gaveta por meio de uma liminares. Agiu a pedido de PT e PSB, partidos que encabeçam a coligação Lula- Alckmin. A decisão enfureceu Bolsonaro.

Na época em que era apenas um deputado do baixíssimo clero, Bolsonaro apresentou um projeto de lei polêmico. Propunha alterar o artigo 6º do Estatuto do Desarmamento. Esse artigo restringe o porte de armas. Bolsonaro queria flexibilizar, para que mais pessoas pudessem andar armadas. Submetida a debate, a ideia não prosperou no Congresso.

Guindado ao Planalto, Bolsonaro resolveu agir por conta própria, como se não existisse um Poder Legislativo. Impôs sua vontade armamentista em conta-gotas, por decreto. Na prática, o capitão editou sorrateiramente o seu estatuto pessoal do armamento.

Bolsonaro costuma alegar que está apenas cumprindo uma promessa de campanha. Como de hábito, serve-se de uma meia verdade, privilegiando a parte que é mentirosa. O candidato prometia não o porte, mas a posse de armas dentro de casa. Na ocasião, mesmo essa ideia era controversa. O Datafolha constatou que 64% dos brasileiros achavam que mesmo a posse de armas deveria ser proibida.

Por Josias de Souza

Nenhum comentário: