terça-feira, 27 de setembro de 2022

O apoio de Joaquim Barbosa a Lula, a Frente Ampla e os números do IPEC


Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF, apoia a candidatura de Lula, o que tem um peso além do simbólico. E os novos números do IPEC Imagem: Evaristo Sá/AFP; Ipec/G1

Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ontem um importante apoio na corrida presidencial. Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo e relator do mensalão, gravou um vídeo em apoio à sua candidatura. "Quantos votos têm Barbosa?" Ninguém sabe. Se eu respondesse que o peso é, antes de mais nada, simbólico, a importância já estaria dada. Mas penso que vai além. Pesquisa Ipec divulgada ontem acena com a possibilidade de uma onda em favor do petista nestes cinco dias até a eleição. A ver.

O próprio Barbosa já frequentou a lista de presidenciáveis e chegou, no passado, a ter seu nome testado em algumas pesquisas. Pontuou acima dos atuais postulantes, exceção feita, claro, a Lula e a Jair Bolsonaro. O ex-ministro, por razões óbvias, é identificado com a luta contra a corrupção, e o PT foi um dos partidos fustigados por aquele processo, que atingiu também o MDB e todos os partidos que se alinham com o atual presidente.

A que fundamento atende o apoio de Barbosa, que gravou um vídeo em favor da postulação de Lula? Ora, justamente ao de uma frente ampla, que busca ir além das legendas que se alinharam ao ex-presidente desde o início da corrida. Ela conta com a adesão de personalidades e de correntes de opinião e valores, evidenciando a busca por pluralidade e diversidade, que é, desde sempre, o ponto mais vulnerável da candidatura de Bolsonaro.

Se Barbosa está dizendo que vai votar em Lula e que apoia o seu nome, está a anunciar que, no pleito deste ano, um valor mais alto se alevanta: a defesa do regime democrático.

Mas isso faz sentido? A democracia corre mesmo riscos, como NÃO RECONHECE Ciro Gomes em seu "Manifesto à Nação" caso Bolsonaro vença a disputa? Bem, ninguém precisa fazer exercício de adivinhação. É o próprio presidente quem sugere que, se vencedor, pretende proceder a uma espécie de ajuste de contas com o Supremo, por exemplo.

E, para surpresa de ninguém, se derrotado, ele não assegura o que seria o óbvio a um candidato: aceitar o resultado. Em sabatina na TV Record ontem à noite, afirmou esta aberração:
"Assim como você não tem hoje em dia como comprovar um processo eleitoral, o outro lado não tem como comprovar que ele foi sério também. A história é muito longa".

É mentira. O sistema é comprovadamente seguro. Eis aí anunciada a disposição para a arruaça. Está claro que Jair Bolsonaro pretende assustar os eleitores com o discurso do medo. Releiam a sua frase estúpida: ele acha que o sistema eleitoral tem de apresentar provas de que as fantasias de sua cabeça não aconteceram. Ocorre que estas são em número infinito porque, a qualquer momento, ele pode inventar um novo disparate. Ademais, estou certo de que não acredita no que diz. O papo-furado serve apenas para manter a sua turma mobilizada.

IPEC
É claro que o presidente percebe que as coisas se complicam para ele. Pesquisa Ipec divulgada ontem à noite acena, mais uma vez, com a possibilidade Lula vencer no primeiro turno. Está com 52% dos votos válidos. Se a eleição fosse hoje, o petista teria 48% dos votos, oscilando um ponto para cima. Bolsonaro ficou estacionado nos 31%. Não cresce desde 15 de agosto, quando marcou 32%. Ciro Gomes (PDT) oscilou de 7% para 6%. Empatada, vem Simone Tebet (MDB), que conservou seus 5%. Soraya Thronicke (UB) manteve 1%.

Os paredões que se levantaram contra Bolsonaro nessa disputa pouco se mexeram ou se mostram ainda mais elevados. Lula variou de 50% para 51% entre as mulheres (53% do eleitorado), e o presidente, de 27% para 26%. Uma diferença de 16 pontos há um mês é agora de 25. O presidente até se aproxima um tantinho do principal oponente entre os que recebem até um mínimo, mas são 34 pontos de diferença: 57% a 23%. Na faixa de mais de um até dois, 53% a 29%.

No Nordeste (27% do eleitorado), mesmo com uma discreta melhora para o atual mandatário, a vantagem do petista segue acachapante: 62% a 23%. Entre os pretos e pardos (56%), outra lavada: 51% a 28%. E agora o dado que deve deixar abúlico um Ciro Nogueira, aquele do Centrão que vivia a anunciar a virada: entre os que recebem algum benefício social ou que residem em casa em que alguém recebe, o ex-presidente vence por 55% a 26%.

EFEITO
Muito se especula se pesquisa interfere no resultado das eleições. Parte dos políticos deve acreditar que sim. Tanto é que gastam dinheiro com alguns picaretas para que produzam números fantasiosos que animem a militância. Minha convicção é um tantinho diferente.

Parece-me que à medida que uma candidatura vai se espraiando, recebendo adesões, se impondo como uma espécie de imperativo — a depender do caso, moral —, muita gente perde o receio e acaba engrossando as fileiras. E o processo é tanto mais eficaz se tal nome consegue superar o que divide em nome do valor a ser preservado. Vejo nesse contexto o apoio de Barbosa.

Nenhum comentário: