sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Bolsonaro ganha do eleitor 28 dias de prorrogação para exercitar vale-tudo



Evangélicos não cultivam o hábito de venerar imagens. Mas Bolsonaro deveria rogar a Michelle que acendesse um par de velas para Simone Tebet e Ciro Gomes. O Datafolha revela que, graças ao desempenho dessa dupla e de uma trinca de nanicos da terceira via, Bolsonaro praticamente carimbou o passaporte para o segundo turno. Com isso, embora tenha estacionado em 32%, o presidente ganhou 28 dias de prorrogação —de 2 a 30 de outubro— para transformar a polarização com Lula (45%) num vale-tudo, modalidade de luta livre em que os golpes abaixo da linha da cintura são admitidos.

A chance de um triunfo petista no primeiro turno virou fumaça porque Lula caiu de 51% para 48% na soma dos votos válidos. Hoje, ele dependeria da desistência de outros candidatos para voltar a sonhar com a maioria absoluta dos votos. O cálculo dos votos válidos é usado pela Justiça Eleitoral para definir o resultado dar urnas. São excluídos os votos brancos e nulos. Nessa conta, Bolsonaro deslizou um ponto para baixo, de 35% para 34%. Mas Ciro, graças ao bom desempenho no debate presidencial de domingo, oscilou de 8% para 10%. E Simone, vencedora do debate, subiu de 2% para 5%.

Os nanicos Soraya Thronicke e Luiz Felipe D'Ávila, que registravam traço em pesquisas anteriores, migraram da absoluta insignificância para a inanição de 1%. A essa altura, qualquer pontuação que caia fora do cesto de Lula conta a favor da passagem de Bolsonaro para o segundo turno. Lula mantém o favoritismo. Mas terá de retirar o seu cavalo da sombra.

Os números que se escondem nas dobras das planilhas do Datafolha prenunciam um jogo bruto.

Num cenário de segundo turno, Lula saboreava em 26 de maio uma vantagem de 25 pontos sobre Bolsonaro. A diferença caiu para 15 pontos nesta nova rodada do Datafolha. Uma queda de dez pontos em três meses.

Faltam 30 dias para o primeiro turno. A ascensão em conta-gotas não permite a Bolsonaro realizar o sonho de chegar à segunda fase na liderança. Mas a prorrogação por mais 28 dias oferece ao capitão a perspectiva de transformar o segundo turno de Lula num pesadelo.

A taxa de rejeição de Bolsonaro é de 52%. A de Lula, 39%. Mantidos esses índices, a reeleição é uma impossibilidade estatística. A rejeição do mito é vista pelo bolsonarismo como um convite para o jogo bruto. O petismo já se equipa para a reação.

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