terça-feira, 6 de setembro de 2022

Ao brecar armas, Fachin engatilha língua de Bolsonaro para Sete de Setembro



Virou pó a alegada articulação de auxiliares do Planalto para promover um armistício entre o presidente da República e o Judiciário. Bolsonaro e as togas que ele abomina travam nos últimos dias algo muito parecido com um tiroteio. Coube ao ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin realizar o penúltimo disparo. Ao suspender trechos de decretos e portarias armamentistas de Bolsonaro, restringindo acesso a armas e munições, Fachin como que engatilhou a língua do presidente para o 7 de Setembro.

Os articuladores da trégua enrolaram a bandeira branca. Nas palavras de um ministro de Bolsonaro, "não há como negociar a paz com quem cultiva a guerra". Os magistrados estariam fustigando o presidente, não o contrário. Nessa versão, Bolsonaro teria agido em legítima defesa ao chamar Alexandre de Moraes de "vagabundo" em discurso no último sábado. Reagiu à decisão do ministro do Supremo e presidente do TSE de autorizar operação da Polícia Federal contra empresários bolsonaristas que conversaram sobre "golpe" no Whatsapp.

Avalia-se no Planalto que Fachin, antecessor de Moraes na presidência do TSE, escolheu metodicamente a data para limitar o acesso dos chamados CACs —caçadores, atiradores e colecionadores— a armas e munições. O Supremo já havia tentado julgar ações contra a política armamentista do presidente. Mas o julgamento foi suspenso por um pedido de vista do ministro Kassio Nunes Marques, a quem Bolsonaro se refere como "10% de mim no Supremo."

Kassio mantém a encrenca engavetada há um ano, desde setembro do ano passado. Acionado por recursos do PT e do PSB, Fachin poderia decidir sobre a matéria depois das eleições. Optou por conceder os pedidos de liminar formulados pelos partidos que lideram a coligação de Lula às vésperas do 7 de Setembro sob o argumento de que "o risco de violência política torna de extrema e excepcional urgência a necessidade de se conceder o provimento cautelar" que impõe travas à proliferação das armas. A novidade chega cinco dias depois de o TSE ter proibido o porte de armas nas sessões eleitorais em dias de votação. Dá-se de barato no Planalto que Bolsonaro irá reagir.

Por Josias de Souza

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