segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Sim, será o maior ato golpista da história financiado por dinheiro público



Estamos a um dia e meio daquela que será, sem dúvida, a maior manifestação da história do Brasil. Há leitores surpresos? "Reinaldo, você concorda com os bolsonaristas? Vai ser o maior?" Em parte, sim: será o maior ato público golpista da história com apoio oficial.

Em 1964, houve manifestações em favor do golpe, organizadas e incentivadas por entidades que tinham financiamento estrangeiro, no contexto da Guerra Fria. Pesquisem a respeito de dois "think tanks" que se dedicavam à propaganda anticomunista: IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Socias) e IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática).

Ambos recebiam dinheiro do governo americano, mas o dindim de empresários brasileiros ou de altos executivos de empresas estrangeiras jorrava farto para as duas instituições. Havia nada menos de 300 empresas inundando de recursos a pregação golpista, lideradas por Light, Cruzeiro do Sul, Coemi Mineração e Listas Telefônicas Brasileiras.

Esses movimentos também buscavam atrair jornalistas e intelectuais — alguns, diga-se, iriam se voltar contra a ditadura militar mais tarde. Mas se deixaram cooptar pelo golpismo travestido de defesa da liberdade, como Antônio Callado, Carlos Heitor Cony e Alberto Dines — todos eles perseguidos, depois, pela ditadura. Callado se tornou uma referência na luta contra o regime. Uma nota: não eram vagabundos a soldo, como se vê hoje em dia. Foram cooptados pelo fermento intelectual golpista, um tanto mais sofisticado do que a conversa de milicianos que há atualmente por aí.

Acreditem: o assanhamento de milionários e bilionários contra a democracia não é coisa nova. Hoje, os partidários do rompimento da ordem são mais toscos, vamos dizer assim, nos fundamentos. É uma elite ainda menos letrada do que aquela de 64.

Parte da grande imprensa — que apoiou unanimemente a deposição de João Goulart e que agora critica a investigação autorizada por Alexandre de Moraes contra empresários que apenas "se expressavam livremente" — parece querer pagar para ver. De novo. Pode-se dizer que é gente que não esquece nada nem aprende nada.

As manifestações em favor da deposição do governo em 64 — e havia, sim, "povo normal" na rua — não tinham apoio oficial, é evidente. Os atos que antecederam o golpe eram contra o governo; os de depois de amanhã serão a favor. Assim, há de ser o maior da história porque inédito. Isso nunca aconteceu. Tudo está preparado para que as demonstrações de Exército, Marinha e Aeronáutica se misturem à pregação fascistoide.

A ministra Cármen Lúcia, do Supremo, e o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União já cobraram explicações porque, afinal, isso envolve dinheiro público. Se as manifestações de rua estão sendo financiadas por vigaristas, por pilantras na pele de empresários, as das Forças Armadas são sustentadas por verba do Orçamento. Verba que pertence aos brasileiros será empregada por forças regulares e permanentes do Estado, que vão se associar, por determinação do presidente da República, à pregação disruptiva. É claro que isso é muito grave.

Não acredite no Jair Bolsonaro manso da propaganda eleitoral. As páginas e perfis que dão suporte ao presidente nas redes sociais estão mais violentos e golpistas do que nunca. Não arredar pé um milímetro é próprio do "Mito". Ainda neste fim de semana, o chefe do Executivo foi ao Rio Grande do Sul e lá chamou um ministro do Supremo, Alexandre Morais, de vagabundo.

Se Jair Bolsonaro vencer a eleição, a canalha continuará a fazer muxoxos contra o voto eletrônico, mas, claro, vão sossegar um pouco, até porque têm um longo trabalho pela frente de destruição das instituições, não é? Se Lula vencer, continuarão a pregar o rompimento da ordem. Basta ouvir o presidente. Ele não disputa uma eleição. Finge estar numa luta do "bem contra o mal". A seu modo, tem razão.

Até onde se sabe, não há disposição da cúpula das Forças Armadas para sandices. A ver. Inegável é que estão sendo miseravelmente manipuladas por um arruaceiro e seus golpistas amestrados.

Por Reinaldo Azevedo

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