segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Eduardo Bolsonaro criou o desmentido-confissão



A pujança imobiliária fez da família Bolsonaro uma caricatura. Ao adquirir 107 imóveis em três décadas, 51 dos quais com o uso de dinheiro vivo, os Bolsonaro assumiram a missão inconsciente de desnudar a oligarquia patrimonialista brasileira. É como se desejassem desvendar a perversão cometendo-a. No ramo dos desvios, o segredo é a alma do negócio. A dinastia Bolsonaro subverte a alma do negócio. O desprezo pelo mecanismo do ocultamento levou Eduardo Bolsonaro a inventar o desmentido-confissão.

Num vídeo gravado a pretexto de contradizer notícias do UOL sobre a aquisição de imóveis pagos parcial ou integralmente com grana viva, Eduardo admitiu o que pretendia desmentir. Referindo-se a uma de suas aquisições, o Zero Três disse: "O apartamento custou R$ 160 mil [R$ 320 mil em valores de hoje], e nem um terço dele foi pago com dinheiro vivo." A forma de pagamento consta da escritura, disse o filho do presidente.

Foi justamente manuseando escrituras e outros documentos oficiais que a reportagem do UOL recolheu as pistas que a primeira-família produziu. O desmentido-confissão de Eduardo chegou junto com o esforço judicial do primogênito Flávio Bolsonaro para censurar o noticiário sobre os imóveis da família. Deu errado. Mas há transparência no desejo de ocultação. Só um suicida didático, tentaria encobrir a verdade com o manto translúcido da censura.

Dinheiro vivo em transação imobiliária emite um odor tão perturbador quanto o de excremento de vaca em alto mar. Se o sujeito sente o cheiro de dejeto de vaca no oceano, precisa correr para um porto seguro. Não existe vaca no mar. Isso é prenúncio de tempestade. Em condições normais, dinheiro vivo na compra de imóveis prenunciaria um escândalo de lavagem de dinheiro. Mas a família Bolsonaro não precisa correr para um porto seguro. Nos mares da política, depois da impunidade sempre vem a bonança.

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