quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Deputado Douglas Garcia ofende jornalista Vera Magalhães em debate dos candidatos ao governo de SP

A comentarista da TV Cultura, apresentadora do Roda Viva e colunista do GLOBO e da CBN Vera Magalhães foi hostilizada e agredida verbalmente pelo deputado estadual bolsonarista Douglas Garcia (Republicanos) após debate dos candidatos ao governo de São Paulo na noite desta terça-feira.


Vera estava sentada em uma área reservada a jornalistas quando foi abordada por Douglas Garcia, que se referiu a ela como "vergonha para o jornalismo brasileiro". A mesma frase foi utilizada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para responder a uma pergunta da jornalista no debate presidencial da TV Bandeirantes, no dia 28 de agosto.

O parlamentar, que estava no debate a convite da equipe do candidato bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), se dirigiu em direção à jornalista com um celular na mão, filmando as ofensas e provocações contra a profissional. O mediador do debate, o jornalista Leão Serva, interveio e tirou o celular da mão do deputado, arremessando o aparelho para longe.

Vera precisou sair escoltada do Memorial da América Latina por seguranças do debate. Em sua conta no Twitter, ela afirmou que irá registrar um boletim de ocorrência de ameaça contra o deputado. Depois do episódio, o candidato Tarcísio de Freitas ligou para Vera Magalhães para prestar solidariedade e repudiar a atitude do deputado. Ele publicou uma mensagem em seu perfil no Twitter:

O governador de São Paulo e candidato à reeleição, Rodrigo Garcia, também repudiou o episódio:

O candidato do PT, Fernando Haddad, também foi às redes sociais para condenar o ataque sofrido por Vera Magalhães:

Presidenciáveis comentam

Os candidatos à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) publicaram em suas redes sociais notas de repúdio ao ataque sofrido pela apresentadora. O ex-presidente Lula repudiou o desrespeito contra a jornalista: "Debates deveriam ser notícia pelas propostas, não por ataques contra mulheres jornalistas, promovidos por quem vive do ódio e não gosta da democracia", disse o petista.

O pedetista Ciro Gomes disse que os ataques chegaram ao "ponto máximo", e que atitudes como essa devem ser vistas como "múltipla ação terrorista" que afrontam as mulheres e o jornalismo.

Já a candidata do MDB prestou sua solidariedade à apresentadora, e chamou o caso de "barbaridade", e pediu providências da Polícia Civil de São Paulo, da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e do partido Republicanos.

Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, não comentou o fato até o momento. Seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, que participou ao lado do presidente e de Tarcísio de uma motociata em Presidente Prudente, interior de São Paulo, na manhã desta quarta-feira, usou o Twitter para criticar a postura de Douglas Garcia. Na publicação, o parlamentar lamentou o ocorrido e chamou de "constrangimento gratuito injustificável" o ataque de Garcia.

Eduardo também demonstrou preocupação com o desgaste político que a ação de Douglas Garcia pode causar:

"Já passou da hora de entendermos que, quando somos eleitos para o Congresso Nacional ou para o legislativo de um estado, não podemos agir como se estivéssemos na internet, já que nossas atitudes têm consequências para os nossos aliados e para nossos eleitores".

Jornalista narra a agressão

A jornalista recorreu às suas redes sociais para detalhar a agressão sofrida:

"Eu estava sentada na primeira fileira do debate, local destinado aos jornalistas que iriam fazer perguntas aos candidatos, quando esse senhor se ajoelhou na minha frente, começou a me filmar sem que eu percebesse, me xingar (...) e dizendo que eu ganho R$ 500 mil por ano, quando isso não é verdade. Eu ganho R$ 22 mil por mês da TV Cultura, desde o ano de 2020, num contrato que é público, que ele como deputado já requereu e ao qual ele tem acesso, e que eu já publiquei nas minhas redes sociais. Ele veio mentir novamente, me intimidar, achar que com isso vai me calar. Isso não é aceitável. O Brasil é uma democracia. Uma democracia pressupõe imprensa livre", declarou a jornalista em um vídeo em seu perfil no Instagram.

Vera Magalhães relembrou o ocorrido com Jair Bolsonaro e afirmou que desde o episódio da agressão naquele debate vem sofrendo "ataques violentos e virulentos de uma base bolsonarista autorizada pelo presidente, porque ele me atacou, e essa base se sente autorizada a repetir os ataques".

Leão Serva, diretor de Jornalismo na TV Cultura, precisou intervir durante a discussão entre o deputado e a jornalista, tomando o celular das mãos do parlamentar e atirando-o no chão. Num vídeo no Twitter, Serva explicou sua atitude:


Nota O GLOBO e CBN:

"É inaceitável sob todos os aspectos o ataque feito pelo deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos) à jornalista Vera Magalhães, colunista do GLOBO, da CBN e apresentadora da TV Cultura. Não há espaço para esse tipo de ataque contra profissionais de imprensa em um ambiente democrático. Ao ofender e constranger a jornalista, uma das mais respeitadas do país, o deputado desferiu um atentado à imprensa livre. A situação é agravada pelo fato de Douglas estar no debate como convidado do candidato Tarcísio de Freitas, que, menos mal, repudiou a agressão. O episódio também prova, para quem ainda tinha alguma dúvida, que a conduta violenta do presidente Jair Bolsonaro, que atacou a jornalista no debate da Band, há duas semanas, gera agressões subsequentes. Os ataques não impedirão que o jornalismo independente siga fazendo as perguntas necessárias a todos que ocupam, ou pretendem ocupar, cargos de poder".

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