sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Datafolha: Lula na boa; outros garantiriam 2º turno, não o Bolsonaro parado



A mais recente pesquisa Datafolha traz uma única boa notícia — talvez duas — para Jair Bolsonaro: a variação para cima, dentro da margem de erro, de quatro pré-candidatos e o crescimento de Simone Tebet (MDB). Também esse levantamento aponta que a possibilidade de o petista Luiz Inácio Lula da Silva vencer no primeiro turno vai ficando para trás. Se a eleição fosse hoje, ele teria 45% dos votos, oscilando dois pontos para baixo em relação há 15 dias, e seus adversários somariam 49%. Como a margem de erro é de dois pontos, dados os extremos, haveria, sim, possibilidade de vitória na primeira jornada — mas a possibilidade é remota. E a segunda boa notícia para o presidente em meio a más notícias? Com segundo turno, ele ganha mais 28 dias.

Antes que siga, vamos aos números dos demais postulantes: Bolsonaro manteve os 32% do levantamento anterior, o que, convenham, é um resultado pífio para um governo que recorreu a tantas ilegalidades para tentar virar o jogo. Há pelo menos três PECs que violam a ordem legal, com a qual o Supremo condescendeu para não botar fogo no circo: a dos Precatórios, a do ICMS e a dos benefícios sociais. E a vitória parece distante.

Ciro Gomes (PDT) avançou dois pontos, um crescimento na margem de erro, o que, convenham, é um desempenho magro para quem busca elevar tanto o sarrafo do debate, na linha "só eu quero mudar o modelo e sei como fazer". Tudo indica que o candidato do PDT mobilizou, sim, um grupo de fiéis, mas que vai se mostrando quase inelástico. Passa a enfrentar um risco.

E o risco que Ciro tem pela frente, do ponto de vista da reputação eleitoral ao menos, atende pelo nome de Simone Tebet, que avançou de 2% há 15 dias para 5% — e isso quer dizer que, tecnicamente, empata com o pedetista nos extremos da margem de erro. Seu bom desempenho no "Jornal Nacional" e, reputo, o excelente no debate da Band podem ter feito a diferença.

Soraya Tronicke (UB) e Pablo Marçal (Pros) — que não deve ser candidato — saíram do zero e marcam 1%. Luiz Felipe D'Ávila (Novo) conservou o 1% que já tinha. Quando menos, pode-se dizer que colaboram, com esses três pontos, para tornar quase impossível, tudo o mais constante, a possibilidade de o petista vencer no primeiro turno.

E SE TODOS DESISTISSEM?
"E se todos desistissem, Reinaldo, para apoiar Lula no primeiro turno e, assim, mandar Bolsonaro para casa, salvando, desde já, a democracia brasileira"? Pois é... Pode-se ter razoável certeza, porque hipótese já testada, de que a maioria dos votos de Ciro migraria para Lula, como deve migrar no segundo turno. Mas nunca se sabe o que aconteceria nos outros casos.

Notem: Bolsonaro estacionou, Simone avançou 3 pontos, e outros três candidatos, 1. Não se sabe se esses seis poderiam eventualmente se juntar ao atual mandatário. De todo modo, registre-se: hoje bastariam 6 dos nove pontos de Ciro para dar a vitória a Lula, ainda que todos os outros se juntassem a Bolsonaro — o que, convenham, seria improvável porque Lula também pegaria um pedaço. Alguma chance de Ciro desistir para tentar liquidar a fatura em 2 de outubro? Inferior a zero.

SEGUNDO TURNO E EVENTOS
No segundo turno, o ex-presidente oscilou de 54% para 53%, e o atual, de 37% para 38%. E isso quer dizer que nada pode ter acontecido em 15 dias, dada a margem de erro.

Antes que avance para tratar de alguns cortes, é preciso chamar, mais uma vez, a atenção para um erro de análise frequente. Lula teve um desempenho estupendo no Jornal Nacional e de mediano para ruim no debate da Band. Bolsonaro foi medíocre na entrevista e desastroso no embate com uma mulher jornalista. Adicionalmente, vieram a público suas lambanças imobiliárias. "Então tudo isso foi inútil?"

Quem disse? Simone Tebet é a prova de que não é assim. Ela só avançou de 2% para 5% porque teve oportunidade de se expor, antes inexistente. O confronto Bolsonaro X Lula nas redes é sanguinolento, com especial inclinação da turma do presidente para a baixaria. Não fosse a atuação soberba de Lula na entrevista e a militância hoje ativa do PT nas redes (o partido dormiu no ponto em 2018), talvez tivesse caído. Não fosse Bolsonaro tão evidentemente despreparado para uma vida civilizada, em que as mulheres são cada vez mais protagonistas, talvez houvesse subido.

Entenderam o ponto? É impossível testar como seria o desempenho de cada um sem as circunstâncias que estão dadas. Igualmente, reitere-se, não se pode dizer que as PECs ilegais de Bolsonaro são inúteis. Até agora, elas têm sido insuficientes. Sem elas, apenas seguindo a lei, já teria sido esmagado.

E PARA LULA?
Ainda que as chances de uma vitória no primeiro turno sejam hoje reduzidíssimas, é evidente que os números seguem excelentes para o petista. Está 13 pontos à frente do seu principal oponente no primeiro turno e 15 no segundo. E tem 40% dos votos espontâneos.

Bolsonaro, por sua vez, exibe óbvias dificuldades para falar com estratos do eleitorado que lhe são hostis desde o início da corrida e que lhe garantiriam hoje uma derrota sólida. É matéria do meu post seguinte.

E lá vai o bolsonarismo a espalhar freneticamente nas redes pesquisa de picaretas.

Por Reinaldo Azevedo

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