terça-feira, 13 de setembro de 2022

Ipec péssimo para Bolsonaro; há pesquisas "delivery"; dão até amor sincero



Não há uma única boa notícia para o presidente Jair Bolsonaro na mais recente pesquisa Ipec para a Presidência da República. A suposição a que levou a pesquisa Datafolha de que o 7 de Setembro tinha sido inócuo para Bolsonaro — com risco de ter sido contraproducente — se confirma com esse novo levantamento. Se a eleição fosse hoje, Luiz Inácio Lula da Silva poderia vencer a disputa no primeiro turno. Tudo indica que o ex-presidente ampliou a sua vantagem sobre o atual na simulação espontânea, no primeiro turno e no segundo.

O Ipec entrevistou 2.512 pessoas entre os dias 9 e 11 em 158 municípios, e a margem de erro é de dois pontos percentuais. Em relação à semana passada, Lula (PT) oscilou de 44% para 46%, e Bolsonaro (PL) manteve os mesmos 31%. Ciro Gomes (PDT) variou de 8% para 7%, e Simone Tebet (MDB) conservou seus 4%. Soraya Thronicke (UB) e Felipe D'Ávila (Novo) conservaram seu 1%. Brancos e nulos seguem sendo 6%, e os que não sabem ou não responderam passaram de 5% para 4%. Sendo assim, os adversários de Lula somam 44% contra seus 46%. Isso quer dizer que ele teria agora 51% dos votos válidos — há uma semana, 50%. Bolsonaro segue com 35%. O petista também deve ter melhorado seu desempenho da votação espontânea: de 42% para 44%. O atual presidente manteve seus 30%.

No segundo turno, também houve uma tendência de melhora para o ex-presidente, indo de 52% para 53%. Bolsonaro repetiu os 36% de antes. Uma diferença de invulgares 17 pontos. Aquele que lidera a pesquisa também não tem por que se queixar dos números relativos à rejeição: a sua variou para baixo — de 36% para 35% —, e a do seu principal oponente, para cima: de 49% para 50%

MULHERES
O governo agora decidiu, de última hora, lançar programas voltados para mulheres. Por ora, o "imbrochável" pode ter avançado dois modestos pontos no eleitorado feminino, contra três de Lula: o atual presidente passou de 26% para 28%, mas o petista passou de 45% para 48%. O grupo representa 53% do eleitorado. Entre os homens, a diferença é de oito pontos em favor de Lula: 44% a 36%.

BOLSA FAMÍLIA E MAIS POBRES
A intenção de Bolsonaro de pagar R$ 200 a mais no Bolsa Família (que ele chama "Auxílio Brasil") -- só até dezembro -- para ter o voto dos muito pobres parece mesmo ter saído pela culatra. Entre os beneficiários de programas sociais, a vantagem de Lula cresceu de 23 pontos para 29. O petista agora venceria por 55% a 26% nesse grupo (antes, 50% a 27%).

Entre os que recebem até um salário mínimo, Lula variou de 56% para 55%, e o presidente, de 21% para 24%. A diferença segue sendo brutal. Na faixa de um até dois, o ex-presidente manteve seus 49%, e o atual variou de 26% para 28%. Os dois contingentes representam 50% do total. Lula pode ter se recuperado no setor de renda média, indo de 34% para 40% entre os que recebem de dois a cinco mínimos. Está agora empatado com seu rival, que oscilou de 40% para 38%. O petista avançou também entre os que recebem mais de cinco mínimos: de 28% para 35. E o presidente variou negativamente: de 45% para 43%.

REGIÕES E COR DA PELE
Lula ampliou sua vantagem no Nordeste, o que havia sido percebido também pelo Datafolha. No Ipec, em uma semana, passou de 56% para 61%, com variação negativa de Bolsonaro: de 23% para 22%. Os nove Estados somam 27% do eleitorado. No Sudeste, região mais populosa do país (43%), o Ipec segue dando uma diferença de 10 pontos em favor do petista: de 41% para 42%, e seu adversário principal, de 30% para 32%. O petista está numericamente à frente no Norte/Centro Oeste (15%), indo de 35% para 40%, e o atual mandatário variou de 40% para 39%. No Sul, Bolsonaro oscilou dos pontos para cima -- de 39% para 41% --, e Lula, três para baixo: de 39% para 36%.

O ex-presidente lidera entre os brancos (43% do eleitorado): 41% a 35% (40% a 33% há uma semana). Entre os pretos e pardos, que somam 56% do total, a vantagem do petista cresceu: passou de 47% para 50%, e Bolsonaro variou de 29% para 28%.

RELIGIÃO
A eficácia eleitoral da guerra santa proposta por Bolsonaro -- o "Bem contra o Mal" -- parece ter chegado ao fim. Entre os evangélicos, que somam 27%, a vantagem do atual mandatário é realmente grande: oscilou de 46% para 48%. Mas Lula recuperou algum terreno: de 27% para 31%.

Ocorre que, entre os católicos (50%), Lula oscilou de 50% para 52%, e Bolsonaro conservou seus 26%. A vantagem é a mesma em cada grupo. Ocorre que os respectivos contingentes são muito distintos. Mais: há 23% que ou cultuam outras religiões ou que não têm crença nenhuma. O ex-presidente conserva seus 48%, e o atual oscilou de 23% para 24%.

CONCLUO
A eleição acabou?

Já vimos ser esse um governo de muitos truques, sem limites na arte do ludíbrio. Pode fazer qualquer coisa. Que a situação está difícil para Bolsonaro, bem, isso é inequívoco. Ciro Nogueira, desse modo, acaba perdendo credibilidade no seu ofício de hortelão da República, sempre disposto a plantar uma notinha. Mas ele sabe que sempre existe uma orelha em locação, não é?

Tudo indica que Bolsonaro já colheu o que tinha de colher com as PECs inconstitucionais e com o 7 de Setembro golpista. E ainda não foi desta vez. Resta apelar a puxadinhos de fundo de quintal ou a anexos de lobbies que reivindicam a condição de institutos de pesquisa, para produzir números ao gosto de quem encomenda — os chamados levantamentos "on demand/delivery". Pagando um pouco mais, devolvem a pessoa amada em três dias e podem prometer o amor verdadeiro.

E não. A eleição ainda não acabou. Só acaba quando termina.

Nenhum comentário: