terça-feira, 31 de outubro de 2023

As milícias não estão sozinhas


Criminosos incendeiam ônibus após morte de miliciano em confronto com a polícia em 23 de outubro de 2023 — Foto: Reprodução

Mais um episódio de violência, mais uma reação indignada das autoridades: “É um absurdo!”, dizem, como se não tivessem nada a ver com o ocorrido. A pressão popular aumenta e logo aparece a resposta padrão: “Vamos tomar providências enérgicas!” Apostam que a promessa será esquecida por quem já cansou de ouvi-la. Se não der certo, começa a cantilena da intervenção federal: “As Forças Armadas vão ajudar no combate à violência, investiremos em inteligência e blá-blá-blá”.

Um comboio de blindados percorre a Avenida Brasil, um tanque é fotografado na frente da Rocinha. Se espalham blitzes pelas ruas da Zona Sul, uma “ação” da polícia na Maré ou no Alemão deixa uma pilha de mortos. No fim, se descobre que os blindados foram superfaturados, que a “inteligência” foi usada para ganhos pessoais e que a pilha de mortos não tinha nada a ver com o episódio original.

Se o leitor tem mais de 40, quantas vezes viu esse roteiro do parágrafo anterior?

Desta vez é a milícia que está tomando conta. Se espalhou pelo Rio uma lenda, a de que ela é melhor que o tráfico. Foi alimentada, claro, por políticos com interesses bem específicos. Segundo a fábula, não se trata de uma organização criminosa, uma máfia, mas de meia dúzia de inocentes sargentos aposentados que protegem a sua comunidade em troca de uma pequena taxa.

O inacreditável é que ainda tem muita gente que compra essa mentira. Assim como tem gente que supõe que os milhões e milhões do tráfico ficam todos com um pé-rapado que vive para cima e para baixo do morro de bermuda, chinelo e fuzil, ou então que a corrupção se resume ao guarda que pede uma cervejinha para aliviar uma multa ou a um delegado pachorrento que faz vista grossa para o jogo do bicho. Não se iludam, já ultrapassamos esse estágio há muitas décadas. A situação se tornou muito pior do que imaginamos.

A milícia é tão nefasta quanto o tráfico, ou até mais, porque está entranhada no poder. Para controlar não um bairro, mas uma região inteira de uma cidade é necessária a colaboração — vamos chamar assim — de políticos com cargos importantes. Quando um bandido com dezenas de condenações consegue sair do presídio pela porta da frente, com aval da Justiça, é preciso muita fé para acreditar que o único motivo é uma vírgula errada no processo. Quando desaparecem metralhadoras de um quartel do Exército, é necessária muita ingenuidade para crer que o roubo contou só com a esperteza dos ladrões. O tráfico comprou a indiferença das autoridades, a milícia virou a própria autoridade.

Existe uma solução? Sim, mas não é mágica: chama-se voto. Os políticos envolvidos com o crime organizado não vieram de outra galáxia, foram eleitos aqui. Se o candidato não encara a segurança pública com seriedade ou é daqueles fanfarrões patéticos que querem resolver dando tiro na cabecinha, escolha outro, para o seu bem. Se no tráfico a conexão entre os pés-rapados com um fuzil a tiracolo e o engravatado morador da orla ainda é disfarçada, com as milícias se perdeu qualquer prurido, a ligação é clara e até festejada. Tem políticos por aí que posam abraçados a criminosos com orgulho. Nem é preciso muita pesquisa para saber de quem estou falando.

Basta não votar neles. Milagre não tem, mas com um pouco de bom senso a gente resolve.

Como o PT vê o nome de Michelle Bolsonaro no páreo contra Gleisi pela vaga de Moro


Michelle Bolsonaro e Gleisi Hoffmann — Foto: Isac Nóbrega/PR e Jorge William/Ag. O Globo

A pesquisa de intenções de voto no Paraná que, na semana passada, indicou que Michelle Bolsonaro venceria a disputa a eventual vaga de Sergio Moro no Senado teve dois efeitos sobre quadros do PT no estado. Ambos relativos ao desfecho da cassação do ex-juiz da Lava-Jato, alvo de processos movidos pelo PL.

O primeiro efeito, mais óbvio, foi a preocupação com o desempenho de Gleisi Hoffmann, presidente do partido, ante ao virtual favoritismo de Michelle. No levantamento, feito pelo Paraná Pesquisas, a ex-primeira-dama está à frente de Gleisi em todos os cenários em que se enfrentam. Sem Michelle, Gleisi ainda aparece atrás de Alvaro Dias (Podemos) e Rosangela Moro (União Brasil).

O segundo efeito é na interpretação jurídica das movimentações do PT no TRE do Paraná pela cadeira de Moro. Com Michelle na dianteira, há uma ala do partido avaliando que, agora, a artilharia na Justiça Eleitoral deixará de ser vista apenas como favorável à Gleisi, uma vez que a mulher de Jair Bolsonaro poderia ser favorecida com a cassação.

Há 20 anos governos sabotam plano nacional de segurança



O tema da segurança pública ressurgiu como uma unha encravada nos pés de barro do Estado brasileiro. Tornou-se um desafio suprapartidário. Expõe debilidades crônicas de governos estaduais de direita, como o do Rio de Janeiro, e de esquerda, como o da Bahia. Em âmbito federal, ameaça a popularidade de Lula. Envenenado por demandas emergenciais, o debate ofusca uma moléstia histórica. O Brasil possui diagnósticos sólidos. Dispõe também de um plano nacional consistente. O descaso e a inépcia negligenciam as prescrições e bloqueiam há duas décadas o uso do remédio disponível na prateleira.

A solução se chama Susp, Sistema Único de Segurança Pública. Nasceu de sugestões de especialistas em 2003, ano inaugural do primeiro mandato de Lula. Foi engavetado. Apenas em 2012, sob Dilma Rousseff, o Planalto enviou ao Congresso um projeto de lei. Permaneceu no freezer por seis anos. Em 2018, quando o então presidente Michel Temer decretou intervenção federal na área de segurança do Rio de Janeiro, a proposta foi aprovada em ritmo emergencial na Câmara e no Senado. Sancionada por Temer em junho de 2018, virou a lei 13.675.

Para satisfação do crime organizado, a nova lei virou letra morta. No essencial, encontra-se pendente de implementação. Com um pé no Ministério da Justiça e outro no Supremo Tribunal Federal, o ministro Flávio Dino acena com a hipótese de retirar a lei do papel. Neste domingo, Dino escreveu nas redes sociais: "Após anos de abandono, buscamos dar efetividade à lei 13.675, que regula o Susp (Sistema Único de Segurança Pública) e aprovou a Política Nacional de Segurança Pública."

Mal comparando, o Susp segue a filosofia de integração do SUS, o Sistema Único de Saúde. Prevê a integração das ações e o compartilhamento de dados de todos os órgãos de segurança do país em âmbito federal, estadual e municipal. Caberia à União coordenar o sistema. Junto com o Susp, instituiu-se o Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social.

Concebido como política de Estado, o plano seria elaborado pelo Ministério da Segurança Pública, então chefiado por Raul Jungmann, e atravessaria diferentes mandatos, com prazo de implementação de 10 anos. Em 2020, dois anos após a publicação da lei, estados e municípios deveriam ter levado à vitrine planos locais, sob pena de deixar de receber verbas federais. Àquela altura, o inquilino do Planalto era Bolsonaro, cuja política de segurança trocou medidas estruturais pela liberalização indiscriminada de armas.

Além de reforçar o arsenal do crime organizado, a estratégia de Bolsonaro deixou perneta outra novidade incluída na lei 13.675: o Sinesp, sigla de Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais, de Rastreabilidade de Armas e Munições, de Material Genético, de Digitais e de Drogas. Deveria funcionar como o Datasus, que reúne todos os dados da saúde pública no Brasil. Na área da segurança, o controle das armas virou ficção.

Flávio Dino reverteu a flexibilização armamentista. Mas responde às mazelas conjunturais com a adoção de medidas emergenciais que se revelaram historicamente ineficazes. Lula anuncia neste início de semana novas providências no setor de segurança. Tudo parecerá pouco sem a efetivação do compromisso de Dino de colocar o Susp em pé.

Tomando-se a lei ao pé da letra, isso incluiria a criação de conselhos estaduais e municipais de segurança, a fixação de metas aferíveis anualmente e a instituição de uma conferência nacional para avaliar, a cada cinco anos, a eficácia da estratégia unificada de combate à criminalidade.

Lula faz por pressão o que se absteve de realizar há 20 anos, quando refugou as sugestões de especialistas. Pesquisa realizada pelo Datafolha no mês passado revelou que a violência escala no ranking das preocupações do brasileiro. Disseram estar inseguros 71% dos entrevistados. Em manifestação espontânea, a violência foi citada como maior problema do país por 17% dos brasileiros, mesmo percentual atribuído à saúde. Na pesquisa anterior, feita em dezembro de 2022, a violência somava 6% das menções. A saúde, 21%.


segunda-feira, 30 de outubro de 2023

'Página virada' de Bolsonaro é negacionismo historiográfico


Imagem: O ex-presidente Jair Bolsonaro teria tentatado dar um golpe de Estado, segundo o relatório da CPMI dos Atos Golpistas. Foto: Tania Rego/Agência Brasil

Bolsonaro voltou a revelar neste sábado sua contrariedade com o resultado da sucessão presidencial. E repetiu que considera 2022 uma "página virada". Disse o seguinte:

"Quis Deus me dar segunda vida e quatro anos de presidente da República. Houve um desastre no ano passado. Ninguém entende o que aconteceu, mas vamos considerar página virada. Vamos continuar lutando pelo nosso Brasil. Temos um legado."

A declaração é pecaminosa, ofensiva, equivocada e alucinada. Bolsonaro pecou ao invocar o nome do Todo-poderoso em vão. Deus está em toda parte. Mas, de maneira geral, o Tinhoso controlou a Presidência do capitão.

A fala ofende a inteligência alheia, pois todos sabem que o "desastre" aconteceu durante os quatro anos em que Bolsonaro foi o inquilino do Planalto. O desfecho da disputa presidencial foi apenas uma consequência da ruína.

O equívoco da manifestação está estampado no trecho em que Bolsonaro supõe que ninguém compreende o que sucedeu. A coisa é clara como água de bica. O capitão foi à sorte das urnas. E tornou-se o primeiro presidente da história a não obter a reeleição desde que o instituto foi criado. Faltaram-lhe os votos: 58,2 milhões de eleitores pressionaram o número 22 nas urnas; 60,3 milhões de brasileiros preferiram o número 13.

A alucinação decorre do fato de que 2022 deixou de ser "página virada" no instante em que Bolsonaro conspirou contra a vontade popular. Tornou-se um livro aberto depois que o perdedor instigou os acampamentos de porta de quartel, absteve-se de passar a faixa presidencial ao eleito e fugiu para Flórida, numa tentativa vã de camuflar as digitais impressas na intentona de 8 de janeiro.

O ano de 2022 não terminou. O livro está sendo escrito. A plateia acompanhava os desdobramentos dos processos criminais estrelados por Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal à esperava do sinal de que o fim, ou pelo menos a encrenca terminal que empurraria a cena para um desfecho, estivesse próximo.

Aguardava-se o fato que justificasse o uso do ponto de exclamação que se escuta quando as pessoas dizem "não é possível!" O sinal foi dado quando vieram à luz os primeiros detalhes da delação do tenente-coronel Mauro Cid.

O ex-faz tudo de Bolsonaro disse à Polícia Federal ter testemunhado a reunião em que o então comandante supremo das Forças Armadas discutiu em reunião com os comandantes militares os termos de uma minuta golpista. Tudo passou a ser epílogo para Bolsonaro.

Se as declarações deste sábado serviram para alguma coisa foi para realçar que Bolsonaro continua com os dois pés plantados em sua realidade paralela. Exibe agora um negacionismo historiográfico. Para ele, a história continua sendo a mesma lenda, só que muito mais mentirosa.

Às voltas com a síndrome do que está por vir, Bolsonaro se comporta como passageiro que voa num avião sem se dar conta de que sua bagagem, com todos os excessos, viaja em outra aeronave. A turnê já inclui uma escala na inelegibilidade. E não pode acabar senão numa sentença criminal com pena de prisão.

sábado, 28 de outubro de 2023

Ao desprezar déficit zero, Lula sabota o seu próprio governo



Lula recebeu jornalistas para um café nesta sexta-feira. Durante a conversa, referiu-se com menosprezo ao objetivo traçado pelo seu ministro da Fazenda de zerar o déficit fiscal em 2024. "Nós dificilmente chegaremos à meta zero, até porque eu não quero fazer cortes em investimentos e obras", disse o presidente. "A gente não precisa disso." A questão não é que Lula sabota Fernando Haddad. O problema é que o presidente da República soa como uma espécie de quinta-coluna do seu próprio governo.

O mercado olha para Brasília com desconfiança. Um pedaço do PT se opõe aos planos de Haddad. O Congresso cria despesas e renova isenções tributárias que não ornam com a necessidade de elevação das receitas. Faz corpo mole em relação às propostas que vitaminam os cofres. Injeta no projeto de reforma tributária exceções que desfiguram os objetivos.

O êxito do novíssimo marco fiscal depende de um brutal aumento de arrecadação de tributos. A proposta de Orçamento federal para 2024 estimou essa coleta adicional em cerca de R$ 170 bilhões. O relógio joga contra. O ano termina em dois meses.

Num esforço para dar credibilidade ao esqueleto fiscal que substituiu o destelhado teto de gastos, a equipe econômica se autoimpôs missões severas: déficit de 0,5% do PIB neste ano de 2023, zero em 2024 e superávit de 0,5% em 2025. Lula e as torcidas do Flamengo e do Corinthians sabem que objetivos fiscais tão estritos dificilmente serão alcançados.

No íntimo, nem Haddad acredita que acertará o olho da mosca. Num país apinhado de desigualdades, seria insano submeter investimentos sociais e projetos de desenvolvimento a um torniquete indiscriminado. Mas conviria ao presidente da República manter viva ao menos a crença de que o governo trabalha para atingir um ponto qualquer próximo do alvo.

Lula não é um presidente debutante. No alvorecer do seu terceiro mandato, já deveria ter aprendido que, ao jogar a toalha tão prematuramente, dá asas aos conspiradores.

Acusação contra a PF é ridícula. Que se extinga a Abin e se crie a ABRAFO


Andrei Rodrigues, diretor-geral da PF: trabalho de delegado tem sido impecável até agora. Parece, no entanto, que os agentes da ABRAFO estão incomodados

A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) usou o software FirstMile para espionar juízes, políticos, jornalistas e adversários de Jair Bolsonaro. Tudo indica que o Exército fez a mesma coisa. A multiplicação e emprego de instrumentos para bisbilhotar a vida alheia é um fato. Pode até ser que um dia se chegue ao equilíbrio perfeito, não é? Todos escarafuncham a vida de todos e se neutralizam as chantagens... "Se você contar que eu assisto a vídeos do Latino na surdina, revelo que você tem um perfil falso para seguir o Jair Renan..." Ou ainda: "Fulano começa a comer a coxinha pelo lado errado". Vem o contra-ataque certeiro: "E você, que separa o biscoito recheado para ficar lubricamente lambendo o creme!?" Nota: "lubricamente" é palavra do tempo em que ainda se empregava "lubricamente"... Vamos ver.

A Abin anda sendo bem-sucedida em gritar primeiro "Fogo na floresta!" A acusação, sem autoria, coisa de "agentes", de que, na busca e apreensão realizada no órgão, a PF apreendeu material que não está relacionado à espionagem ilegal feita pelo FirstMile é, em si, ridícula. Essas operações, claro!, têm alvos. Quando se está em busca de um software, computadores e afins têm de ser apreendidos, ora essa. Queriam o quê?

Dizem as fontes que a PF levou junto uma "lista de fontes humanas (informantes) e de operações secretas ainda em andamento". É mesmo? Sei. Quais? Obviamente, não é possível revelar. Assim, temos "offs" assegurando que a PF acessou dados de "operações secretas". Que diabo será isso?

Vamos ver:
1: Antes que se examine o material, não é possível saber, só pelo faro, se o que foi apreendido era ou não pertinente à investigação, certo?

2: Não fosse assim, como se deveria proceder? Os agentes teriam de, "in loco", acessar arquivos e programas e proceder a uma pré-seleção sobre o que levar ou não?

3: E se, nessa pré-seleção, deixassem de lado dados que abonassem o investigado?;

4: Conforme a lei, a PF vai examinar o que tem e enviar ao Poder Judiciário. O juiz do caso descarta o que não serve à investigação e impõe o sigilo sobre as informações inúteis para o caso;

5: "Ah, mas sempre pode vazar..." É, sempre pode. Assim como sempre tem "agente secreto" falando em "off". Mas isso é do jogo. De outra forma, seria preciso colocar a Abin acima de qualquer possibilidade de investigação, mesmo diante da evidência de crime;

6: Ao se afirmar que a PF acessou "dados secretos", tem-se uma aberração lógica. Dada a natureza da investigação, os dados serão necessariamente secretos;

7: Acho que há gente querendo cavar a demissão de Andrei Rodrigues, o até agora impecável diretor-geral da PF. Quem?

QUEM FAZ O QUÊ?
A PF é a Polícia Judiciária para crimes federais. A ela cabe fazer a investigação, pouco importa o alvo. Sim, com a devida autorização judicial -- existe o controle da apuração -- pode investigar a Abin, mas o contrário, bem..., isso não é possível, certo?

A Abin, que integra o Sisbin (Sistema Brasileiro de Inteligência) tem estas competências:
- Planejar e executar ações, inclusive sigilosas, para obtenção e análise de dados para a produção de conhecimentos destinados a assessorar o (a) Presidente da República;

- Planejar e executar a proteção de conhecimentos sensíveis, relativos aos interesses e à segurança do Estado e da sociedade;

- Avaliar ameaças, internas e externas, à ordem constitucional;

- Promover o desenvolvimento de recursos humanos e da doutrina de Inteligência, e realizar estudos e pesquisas para o exercício e o aprimoramento da atividade de Inteligência.

E ela deve fazê-lo segundo a definição de sua natureza, a saber:
"A Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) é o órgão de Inteligência de Estado do Brasil. É responsável por produzir conhecimentos que são repassados à Presidência da República para subsidiar a tomada de decisões do (a) presidente."

Não cabe a uma agência de Inteligência espionar o Judiciário, os jornalistas ou os inimigos do presidente. Isso é coisa lá do seu ancestral, o SNI (Serviço Nacional de Informações), extinto em 1990. Fora formatado pelo general Golbery do Couto e Silva, que acabou espionado pelo ente que ele mesmo deu à luz. Ficou célebre uma frase a ele atribuída: "Criei um monstro".

Que fique claro: agentes da Abin cometeram crimes. Em "off". A PF só está cumprindo a sua função. Em "on". Vozes em "off" da agência querem criminalizar quem trabalha sob controle judicial.

Com a devida vênia, a Abin vinha sendo só um monstrengo de incompetência, de aparelhamento do Estado e, agora se vê, de futrica.

Com mais vênias ainda, Lula deveria pôr o comando todo na rua.

Ou mudar o nome da estrovenga: Agência Brasileira de Fofoca (ABRAFO).

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Embraer: Com 43 aeronaves no terceiro tri, entregas têm alta anual de 30%


Embraer (EMBR3): Com 43 aeronaves no terceiro tri, entregas têm alta anual de 30% © Reuters

A fabricante de aeronaves Embraer (BVMF:EMBR3) entregou 43 jatos no terceiro trimestre de 2023, uma alta de 30% em relação ao 3T22, quando foram entregues 33 aeronaves. De acordo com a Embraer, a aviação comercial registrou 15 entregas, expansão de 50% na mesma comparação. Na aviação executiva, foram 28 jatos entregues, elevação de 22% frente ao 3T22.

No acumulado do ano, foram entregues 105 aeronaves, sendo 39 comerciais e 66 executivas, um acréscimo de 33% em relação ao mesmo período de 2022. Considerando o acumulado do ano passado até o terceiro trimestre, haviam sido entregues 79 jatos, 27 deles comerciais e 52 executivos. No segundo trimestre deste ano, as entregas da Embraer apresentaram elevação de 47% em relação ao 2T22.

“A carteira de pedidos firmes da Embraer encerrou o período em US$ 17,8 bilhões, apresentando uma alta de US$ 500 milhões em relação ao segundo trimestre. Esse volume representa o maior nível do backlog em um ano. O backlog da aviação comercial subiu de US$ 8 bilhões para US$ 8,6 bilhões em relação ao 2T23, com vendas de 42 aeronaves até setembro”, informou a companhia.

As ações da Embraer fecharam o pregão de ontem em alta de 1,70%, a R$17,95. A média das estimativas de analistas compiladas pelo InvestingPRO é de um preço-justo de R$22,73, potencial de valorização de 26,6%.

NO PACOTE DE EXTORSÃO DA MILÍCIA, ATÉ MENINOS QUE VENDEM BALAS NAS RUAS PAGAM TAXAS


Vendedor de água: ambulantes também são alvo da extorsão por milicianos na Zona Oeste do Rio — Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo/Arquivo

Camelôs, flanelinhas, fretistas, barraqueiros de praia, motoristas de van, mototaxistas, meninos que vendem balas nos semáforos. Essas atividades tão diferentes entre si encontram, na Zona Oeste do Rio, um ponto em comum: todas são alvo da extorsão praticada pela milícia e precisam se submeter ao pedágio do crime. No segundo capítulo série especial em cinco capítulos sobre as milícias, dentro do projeto exclusivo para assinantes Tem Que Ler, O GLOBO mostra as histórias de quem é obrigado a pagar taxas aos criminosos para continuar trabalhando.

No início de 2017, o motorista José Carlos da Silva, de 48 anos, começou a trabalhar fazendo fretes para clientes de um supermercado em Vila Valqueire, na Zona Norte do Rio. A oferta de emprego veio de um amigo, que integrava um grupo de fretistas que trabalhava naquele ponto há 20 e sabia das dificuldades financeiras pelas quais José Carlos passava na época. Como estava endividado, o motorista precisou da ajuda do amigo até para financiar o carro que passou a usar. No entanto, a animação por ter conseguido uma fonte de renda logo deu lugar ao medo: em agosto daquele ano, milicianos do Morro do Campinho, vizinho ao mercado, foram ao ponto e comunicaram que, a partir daquele momento, cada fretista seria obrigado a pagar R$ 30 por dia à quadrilha.

A história escancara como a milícia sequestra o cotidiano e não poupa a parcela mais pobre da população, formada por trabalhadores autônomos e informais. Pelo menos 43 atividades econômicas diferentes fazem parte do portfólio de extorsão das milícias do Rio: do monopólio da venda de kit churrasco à exploração de estacionamentos; da extração de saibro à construção de prédios.

A TABELA DO CRIME

  • Meninos de sinal: crianças e adolescentes que vendem balas e outros produtos em semáforos em Santa Cruz e Campo Grande têm de pagar R$ 50 por semana. A área é dominada pelo bando do miliciano Zinho.
  • Vans: em Santa Cruz, os motoristas de vans precisam pagar à milícia R$ 780 todas as quartas-feiras. Em Nova Iguaçu, nas áreas sob controle dos milicianos Juninho Varão e Tubarão, a taxa semanal de R$ 730 tem de ser quitada toda segunda-feira. No Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste, onde atuam Zinho e uma facção do tráfico, as vans pagam R$ 550 por semana. O pedágio dos milicianos em Jacarepaguá, região disputada entre paramilitares e traficantes, fica em R$ 600 por semana.
  • Mototáxi: mototaxistas que atuam em áreas da milícia em Santa Cruz e Campo Grande precisam pagar R$ 90 todos os sábados para continuarem circulando. Em Nova Iguaçu, o pagamento também é feito aos sábados: R$ 75. No Recreio, a taxa do crime fica em R$ 60. Em Jacarepaguá, o valor é mais alto: R$ 80 por semana.
  • Gatonet: ter acesso ao sinal clandestino de internet tem um custo pago mensalmente nas áreas de milícia. Em Nova Iguaçu e Jacarepaguá, o serviço ilegal sai por R$ 60. Já em Santa Cruz e Campo Grande, a gatonet custa R$ 80 por mês. Em todos os casos, mesmo que o morador não tenha usado o sinal durante o mês, o valor tem de ser quitado.

José Carlos tentou enfrentar a tirania. Como, trabalhando das 8h às 22h, só conseguia juntar no máximo R$ 200 num dia, ele juntou seus colegas motoristas para ir à 30ª DP (Marechal Hermes) denunciar os milicianos. Três meses depois, na noite de 11 de novembro, o fretista foi executado com 12 tiros numa emboscada em Marechal Hermes, a pouco mais de um quilômetro do mercado.

Milicianos: Faustão, morto em Santa Cruz, é nº2 de Zinho; que, por sua vez, herdou a liderança da milícia do irmão, Ecko — Foto: Reprodução

Além de fretistas, camelôs, barraqueiros de praia, vendedores ambulantes, flanelinhas e até jovens e adolescentes que vendem balas e doces em sinais de trânsito também são obrigados a pagar taxas aos paramilitares. A folha de pagamento das milícias, no entanto, é diversificada: no outro extremo, estão empreiteiras com faturamentos milionários e obras espalhadas pelo país e sofisticadas empresas de energia solar, que pagam até R$ 70 mil de pedágio aos criminosos.

O aumento no leque de atividades fez o faturamento da milícia explodir. Em 2008, segundo estimativa do delegado Marcus Neves à CPI das Milícias, o grupo paramilitar que dominava Campo Grande e Santa Cruz faturava R$ 4,6 milhões mensais — em valores já corrigido. Em 2021, uma investigação da Polícia Civil apontou que o montante triplicou e chegou a R$ 15 milhões.

Os negócios da milícia

Prédios em construção na Muzema, área dominada por milícia — Foto: Marcelo Theobald / Agência O Globo



No total, centrão pode remover 7 mulheres da alta cúpula da Caixa



Sob Rita Serrano, a Caixa Econômica Federal tornou-se uma vitrine do alegado apreço de Lula pela igualdade de gênero. Das 12 vice-presidências do banco estatal, seis foram ocupadas por mulheres. "Comigo na presidência, são sete", celebrou Rita em 26 de maio, quando foi ao gabinete de Lula para "anunciar" que a Caixa tornara-se "o primeiro banco brasileiro a ter maioria de mulheres na alta administração." E Lula: "Parabéns, espero que logo você tenha as 12 mulheres".

Decorridos apenas cinco meses, Lula trocou Rita Serrano por Carlos Vieira, um homem branco da tribo do cacique Arthur Lira. Considerando-se que Lira se equipa para ratear todas as vice-presidências da Caixa entre representantes dos povos originários do centrão, uma etnia que traz a misoginia no DNA, o número total de escalpos femininos pode chegar a sete no final da ocupação predatória. Um massacre.

Morubixaba de um governo cuja autoridade é desafiada pelo cacique da Câmara, Lula tenta salvar da degola pelo menos Inês Magalhães, atual vice-presidente de Habitação. Ela cuida do financiamento de um dos programas que mais atiçam o apetite do centrão: o Minha Casa, Minha Vida.

Na quarta-feira, apenas uma hora depois de Lula ter enviado Rita Serrano ao olho da rua, a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, lançou um programa que já nasceu com cara de pão dormido. Chama-se "Brasil sem Misoginia". Tem o propósito de "apoiar mulheres em espaços de poder e de decisão". Rita havia gravado um vídeo para a cerimônia de lançamento.

Na quinta-feira, já com a cabeça apartada do pescoço, Rita escreveu nas redes sociais: "Ser mulher em espaços de poder é algo sempre desafiador. [...] Espero deixar como legado a mensagem de que é preciso enfrentar a misoginia..." Ela considera "necessário e urgente pensar em outra forma de fazer política e relações humanizadas no trabalho."

Nesse ritmo, as transações de Lula com Lira vão acabar inspirando a abertura de processo judicial com base na Lei Maria da Penha.

Lirismo de Resultado e Pachequismo de Sabotagem.

 COM REINALDO AZEVEDO:

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Embraer fecha acordo de US$ 1,1 bilhão para venda de 18 jatos E175 para Sky West


Embraer fecha acordo de US$ 1,1 bilhão para venda de 18 jatos E175 para Sky West

A Embraer fechou um acordo para a venda de 19 novos jatos E175 para a Sky West.

O comunicado foi feito pela companhia (BOV:EMBR3) nesta quinta-feira (26).

As novas aeronaves irão integrar a malha da United Airlines (NYSE: UAL), que já conta com 90 E175 em operação.

Os jatos irão voar pela United exclusivamente sob Contrato de Compra de Capacidade (CPA, na sigla em inglês).

O valor do contrato, que foi incluído na carteira de pedidos da Embraer do terceiro trimestre, é de US$ 1,1 bilhão, conforme preço de lista.

Os jatos de 70 assentos serão entregues na configuração de três classes, com as entregas sendo iniciadas no quarto trimestre de 2024.

“A SkyWest já é a maior operadora do E175 no mundo e, quando as entregas forem completadas, nós teremos mais de 250 jatos desse modelo. Esperamos continuar avançando para oferecer uma experiência de voo mais confortável e sólida aos nossos clientes”, afirma Chip Childs, Presidente e CEO da SkyWest. “Estamos satisfeitos com a evolução de nossa excelente parceria com a SkyWest. O E175 é uma aeronave muito versátil e é a espinha dorsal da aviação regional norte-americana”, afirma Martyn Holmes, CCO da Embraer Aviação Comercial.

Informações Financenews

Arthur Lira mostrou quem manda (Política brasileira perdeu o pudor)



A rapidez com que a Câmara votou a taxação de fundos, apenas horas depois da nomeação do indicado de Arthur Lira para a Caixa Econômica Federal foi acintosa, para mostrar quem manda. O poder de Arthur Lira está crescendo muito. Já tinha crescido com Bolsonaro, que entregou o comando da parte de legislação ao presidente da Câmara e ao centrão; não se metia mais, só queria saber de golpe. Lula tentou reagir num primeiro momento, e hoje está entregue. É parecido com o que aconteceu no primeiro governo dele, quando rejeitou um acordo com o MDB costurado por Zé Dirceu e depois teve que chamar o partido e outros, e fez o mensalão. 

Desta vez, está entregando áreas estratégicas do governo para o centrão e para Arthur Lira. É vergonhoso, porque a política brasileira está montada de tal maneira que nenhum presidente consegue governar sem se submeter ao Congresso. A submissão poderia ser boa – porque é ele que representa o povo brasileiro, desde que fosse na base de programas, de projetos para o país. Mas como é feito no Brasil - e não apenas por Lula - não tem projeto nenhum, é só toma lá dá cá. É uma vergonha, e além do mais, o filho de Arthur Lira tem uma empresa que tem negócios com o governo e com a Caixa Econômica Federal. Tem que haver limites, ou fica uma coisa absurda, de país de quinto mundo. Perdeu-se o pudor completamente. Precisamos mudar a maneira de fazer política e de encarar os grandes problemas nacionais, ou não vamos sair do lugar. Do jeito que a política partidária está montada, não tem jeito de melhorar.

Parte da imprensa paulista está a serviço do crime, afirma secretário



Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, ganhou mais um problema para resolver. Atende pelo nome de Guilherme Derrite, Secretário da Segurança Pública de São Paulo, bolsonarista e deputado licenciado pelo PL.

Em discurso para marcar os 10 meses de sua gestão, Derrite afirmou que parte da imprensa paulista é canalha, publica “fake news” e trabalha a serviço do crime. É a denúncia mais grave que saiu até aqui da boca de um auxiliar de Tarcísio.

Presume-se que não sairia se a Derrite faltasse provas do que disse. Ele deve tê-las, e deve ser obrigado a apresentá-las. Caso não disponha de nenhuma, é natural esperar que seja demitido. Não vale a desculpa de que foi mal interpretado.

Em setembro, após missão de emergência da polícia no litoral paulista, o Conselho Nacional de Direitos Humanos recomendou que Tarcísio interrompesse a Operação Escudo e denunciou violações que incluem assassinatos sumários e sequestros.

Derrite foi ovacionado por policiais e fabricantes de armas ao dizer que criminosos que atentarem contra a vida de policial civil ou militar serão caçados:

“Quando eu falo ser caçado, preferencialmente será preso. Eu sei que tem órgãos na imprensa aí que estão loucos para soltar uma notinha”.

Em seguida, encaixou:

“Os senhores acham que aquela conversa furada de uma imprensa, uma parte da imprensa canalha, que solta fake news dizendo que o indivíduo foi torturado, arrancaram as unhas e depois executado, nenhum laudo do Instituto Médico Legal apontou hematomas nem sinais de tortura.”

Como diria um ex-comandante meu: esses indivíduos, não é que eles torcem para o outro lado. Eles trabalham a favor do crime, esses covardes”.

Ao negar-se a dar nome aos bois, Derrite ofende todo o rebanho, preservando sua banda podre. E deixa a forte impressão de que é irresponsável e leviano por fazer acusações sem provas.

Potências fazem do Conselho de Segurança da ONU grande circo



No curto intervalo de dez dias, o Conselho de Segurança da ONU rejeitou quatro projetos de resolução sobre o conflito entre Israel e Hamas. Nesta quarta-feira, foram repelidos os dois penúltimos textos. Um, apresentado pelos Estados Unidos, foi vetado por Rússia e China. Outro, esgrimido pelos russos e combatido pelos americanos, não obteve o número mínimo de votos.

Horas antes, o premiê de Israel Benjamin Netanyahu alardeara que nada deterá a invasão da Faixa de Gaza por terra. Aguardada com pavor tétrico desde a chacina em que os terroristas do Hamas executaram 1.400 pessoas em solo israelense, a incursão terrestre adicionará um sem-número de vítimas, sobretudo civis, a uma pilha que já soma mais de 6 mil cadáveres.

Num instante em que o socorro humanitário continua entrando em Gaza num ritmo de conta-gotas, a diplomacia mundial encenou na ONU um espetáculo circense. Nele, os protagonistas americanos se juntaram a coadjuvantes russos e chineses numa exibição de raro talento para o malabarismo verbal e o trapezismo ideológico. O resultado foi um ilusionismo diplomático que favorece o aprofundamento da guerra.

Linda Thomas-Greenfield, a representante dos Estados Unidos, disse ter aproveitado em sua resolução trechos do texto negociado pelo Brasil na semana passada. O mesmo texto que a Casa Branca vetou sob a alegação de que não fazia menção ao "direito de Israel de se defender". Algo que ninguém ignora e que já está previsto na Carta da ONU.

O embaixador da Rússia, Vasily Nebenzya, propôs algo que Vladimir Putin sonega na Ucrânia: o "estabelecimento imediato de um cessar-fogo humanitário duradouro e totalmente respeitado". Disse que o documento americano "não visa salvar civis [em Gaza], mas reforçar a situação política dos Estados Unidos na região". Zhang Jun, da China, declarou que Washington "ignora o fato de que o território palestino está ocupado há muito tempo" por Israel.

Presente no picadeiro da ONU, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen, cutucou: "Como Moscou reagiria se grupos terroristas destruíssem toda sua vizinhança?", indagou. "Como Pequim responderia se genocidas decapitassem e assassinassem seus bebês? Acredito que qualquer pessoa no mundo sabe exatamente como vocês responderiam".

O problema desse tipo de espetáculo precário é que trapezistas da ONU dispõem do cinismo como rede de proteção. Não contam com redes protetoras os cerca de 200 reféns que o Hamas arrastou para dentro de Gaza e os mais de 2 milhões de habitantes do território sitiado. Para essa gente, que não se confunde com terroristas bárbaros nem com governantes ferozes, a inação da ONU assegura uma ração diária de bombas, tiros, irracionalidade e desumanidade.

Mauro Vieira, o chanceler brasileiro, disse que cogita articular uma quinta resolução humanitária. Terá que guerrear contra o relógio, pois o prazo de validade da presidência rotativa do Brasil no Conselho de Segurança expira no final do mês. Numa escala de zero a dez, a chance de aprovação é de menos onze.

Não é de hoje que o principal colegiado da ONU revela-se inútil. A diferença é que, dessa vez, as performances desenrolam-se debaixo de uma lona cada vez menos invisível. Há na comunidade internacional uma carência de decência e um déficit de vozes com autoridade moral para falar sobre paz.

Ao entregar Caixa Econômica ao centrão, Lula roda filme repetido



No Brasil, costuma-se dizer que o futuro a Deus pertence. Num instante em que Lula entrega ao centrão o controle da Caixa Econômica Federal, alguém poderia perguntar: E quanto ao passado? Quem se responsabilizará por ele? O toma-lá-dá-cá praticado no terceiro reinado de Lula ficou muito parecido com o balcão que funcionou em mandatos anteriores do PT. Lula roda um filme repetido. Nele, não há final feliz. De repente, o passado tornou-se o melhor profeta do futuro.

Lula enviou ao olho da rua Rita Serrano, a sindicalista que havia assumido a presidência da Caixa em janeiro. No lugar dela, será acomodado Carlos Antonio Vieira, um servidor aposentado do banco. Foi indicado por Arthur Lira. O compromisso assumido por Lula prevê a entrega da Caixa ao imperador da Câmara "de porteira fechada". Estima-se que, além da presidência, que passa às mãos do PP de Lira, as 12 vice-presidências da Caixa serão rateadas entre outros três partidos do centrão: Republicanos, PSD e União Brasil.

O efeito político do início da dança de cadeiras na Caixa foi instantâneo. Lira e o centrão haviam sequestrado o projeto sobre a tributação dos super-ricos que investem em fundos de investimento exclusivos e em contas mantidas nos paraísos fiscais. Uma proposta que deve render arrecadação extra de R$ 20 bilhoes em 2024. A entrega da caixa funcionou como um pagamento de resgate. Após sucessivos adiamentos, Lira acertou os ponteiros com Fernando Haddad, reuniu os líderes partidários e marcou a votação, com a velocidade de um raio, para a noite desta quarta-feira.

Os parafusos da poltrona de Rita Serrano estavam frouxos desde julho, quando a substituição começou a ser negociada. No mês passado, Lira declarou em entrevista que as indicações políticas para a Caixa "não devem ser criminalizadas". Atrasando-se o relógio, verifica-se que esse tipo de nomeação costuma ser criminalizada por políticos que cometem crimes. A Polícia Federal já investigou uma quadrilha de políticos e agentes públicos acusados de arrecadar propinas na Caixa.

Descobriu-se na época, por exemplo, que Geddel Vieira Lima guardava num apartamento em Salvador R$ 51 milhões em dinheiro vivo. Numa antiga gestão petista, a então presidente Dilma Rousseff havia loteado politicamente a Caixa. Indicado pelo MDB, Geddel foi guindado ao posto de vice-presidente de Pessoa Jurídica da instituição. Ali permaneceu de 2011 até 2013. Saiu quando quis.

Houve um tempo em que, quando se falava sobre bancos e assaltos, dava-se de barato que a coisa acontecia de fora pra dentro. A entrega da Caixa ao centrão submete o banco estatal ao risco de uma modalidade distinta da mesma perversão. A diferença é que o assalto costuma acontecer de dentro para fora.