sábado, 24 de setembro de 2022

Brasil convive com risco da transição apocalíptica



Há na política um ensinamento singelo sobre buracos. Quando alguém cai dentro de um, precisa adotar duas providências urgentes: parar de cavar e tentar alcançar a borda. Se as pesquisas dos institutos mais respeitados estiverem corretas nas tendências que apontam, a campanha de Bolsonaro caiu num buraco. Na rodada mais recente do Datafolha, o presidente chega à antessala da eleição ostentando 14 pontos percentuais de desvantagem em relação a Lula. Tomado por suas declarações mais recentes, Bolsonaro abandonou o hábito de cavar. Começou a jogar terra em cima do seu próprio projeto político.

Confirmando-se os movimentos esboçados nas pesquisas, Bolsonaro receberá uma notícia desagradável em 2 de outubro. Na pior das hipóteses, perderá a eleição para Lula no primeiro turno. Na melhor das hipóteses, passará para o segundo turno em situação desvantajosa, ostentando uma aparência de candidato favorito a eleger o seu rival. Bolsonaro contesta as pesquisas. Diz dispor de levantamento próprio. Teria 60% dos votos. Nessa versão, só não vencerá Lula no primeiro turno se houver fraude na apuração. O instituto de Bolsonaro é o "datapovo".

Nesta sexta-feira, Bolsonaro declarou que, reeleito, colocará um "ponto final" no "abuso" que existe em "outro Poder". Referia-se novamente ao Judiciário. Traz atravessada na traqueia a decisão do Supremo de suspender seus decretos armamentistas. Se a reeleição for um devaneio do presidente, como prenunciam as pesquisas, o Brasil está prestes a viver o pesadelo da transição apocalíptica.


Até aliados de Bolsonaro acham que sua campanha seria outra se ele evitasse os discursos radioativos e os confrontos irracionais. Os mais otimistas achavam que o presidente não sabe desfazer as crises que cria. Os mais pessimistas avaliam que a coisa mudou de patamar. Tem-se agora a sensação de que Bolsonaro planeja desfazer uma crise criando outra bem maior.

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