segunda-feira, 19 de setembro de 2022

'Nem eu sei para onde vai' a verba do orçamento secreto, declara Bolsonaro



De passagem por Londres, entre os compromissos institucionais e a agenda eleitoral, Bolsonaro encontrou tempo para uma entrevista ao SBT, uma de suas emissoras de estimação. Durante a conversa, tratou com hedionda naturalidade o inaceitável. Reconheceu que ignora —ou finge desconhecer— o destino dos bilhões que compõem o chamado orçamento secreto.

"É conhecido como secreto isso porque quem diz para onde vai o dinheiro é o relator-geral do Orçamento, ora um senador ora um deputado federal", disse Bolsonaro. "Isso tem que ser perguntado para ele, nem eu sei para onde vai esse recurso." Meia verdade.

Sempre que Bolsonaro manipula uma meia verdade, ele privilegia a metade que é mentirosa. O relator da Comissão de Orçamento do Congresso exerce na distribuição das emendas secretas o papel de preposto do centrão. Por trás dele estão o presidente da Câmara, Arthur Lira, e o chefe da Casa Civil Ciro Nogueira.

Lira administra a fila dos beneficiários das emendas secretas. Nogueira gerencia a chave do cofre. A Bolsonaro resta fingir-se de morto. "Apesar de ser publicado em Diário Oficial da União, você não sabe o nome do parlamentar que mandou o recurso e para que Estado", declarou o suposto presidente da República.

Em 2020 e 2021, o orçamento secreto consumiu R$ 38,1 bilhões. Neste ano eleitoral de 2022, sairão dos cofres R$ 16,5 bilhões. Para 2023, Bolsonaro reservou R$ 19,4 bilhões. Feitas as contas, a dinheirama cujo destino Bolsonaro diz desconhecer soma R$ 74 bilhões.

Bolsonaro é do ramo. Sabe para onde vai a verba: c-o-r-r-u-p-çã-o. As evidências do roubo ganham o noticiário e os inquéritos em conta-gotas. O mosaico logo irá compor um grande escândalo.

Na mesma entrevista, Bolsonaro diz ter certeza de que será reeleito dentro de duas semanas. "Se nós não ganharmos no primeiro turno, algo de anormal aconteceu dentro do TSE", afirmou. A essa altura, a constatação de que o presidente fabrica uma confusão tornou-se despicienda. É necessário indagar: se não faz questão de controlar o orçamento da República, por que Bolsonaro deseja permanecer na Presidência?

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