domingo, 18 de setembro de 2022

A rejeição de Bolsonaro



Bolsonaro precisa mudar para reduzir a sua elevada taxa de rejeição. Vá lá. Como? Para quê?

Em 2018, o capitão foi eleito numa onda antipetista propondo um governo conservador nos costumes, liberal na economia e independente na política.

Para explicar como armaria sua independência política, prometia basear-se no que chamava de “bancadas temáticas”. Eleito, ele ainda não tinha tomado posse, e o deputado Alceu Moreira (MDB-RS) ensinava:

“Quem disser que sabe qual é o resultado que esse novo modelo produzirá, de duas uma: ou é adivinho ou está mentindo”.

Não havia adivinhos no pedaço, e o modelo foi o de sempre: o governo aninhou-se no colo do Centrão.

O governo liberal na economia fechou o Posto Ipiranga e passou a vender picolés de carestia. Restavam dois temas: o conservadorismo nos costumes e o antipetismo. Conservador não é miliciano, não ofende mulheres e repele atitudes vulgares. Sobrava o antipetismo.

Ele existe, mas foi abalado por dois fatos. Uma foi a transformação da Lava-Jato em poeira pela desmistificação de seus cavaleiros. O juiz Sergio Moro começou prometendo liquidar o arranjo corrupto dos partidos políticos, tornou-se o todo-poderoso ministro da Justiça e Segurança de Bolsonaro e acabou comprando bermudas com dinheiro do Podemos.

A segunda circunstância foi produzida por Bolsonaro. Se ele é a alternativa ao PT, o resultado está no Datafolha: 45% para Lula e 33% para ele.

Bolsonaro sabe que precisa mudar. Seu último Sete de Setembro não teve a essência golpista do anterior. Dias depois, reconheceu que aloprou ao dizer tolices durante a pandemia. Insistiu na defesa da cloroquina e aí mostrou um aspecto da sua essência política. Quando ele começou a defender o fármaco, muita gente boa estava receitando-o e tomando-o. Sua excepcionalidade está no fato de que acredita em fórmulas mágicas, como o nióbio, o grafeno e a transmissão de energia elétrica sem fios. Muita gente que tomou cloroquina entendeu que a droga não funcionava. Bolsonaro continua acreditando na mágica.

Pode vir a existir um Bolsonaro calado, até mesmo um Bolsonaro eventualmente gentil, mas um Bolsonaro mudado não existe. Assim como nunca existiram as bancadas temáticas, o Posto Ipiranga e os efeitos da cloroquina. Continua existindo o antipetismo, mas o eleitor se vê sem alternativa.

Assim como a soberba petista diante das malfeitorias de suas administrações ajudou a produzir a maré de 2018 e Jair Bolsonaro, passados quatro anos, o capitão poderá produzir Lula.

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