A exemplo de Bolsonaro, Lula enxergou no lucro da Petrobras uma oportunidade para torpedear uma companhia da qual o seu governo é acionista majoritário. Em maio de 2022, quando a estatal trouxe à luz o resultado do primeiro trimestre —R$ 44,6 bilhões—, Bolsonaro tratou o lucro como "um crime", "um absurdo", "um estupro". Fechada a conta do ano passado, a empresa informa agora que obteve o melhor resultado de sua história: R$ 188,3 bilhões. Distribuirá aos acionistas R$ 215,7 bilhões em dividendos. "Não podemos aceitar", disse Lula. Gleisi Hoffmann, a presidente do PT, chamou os dividendos de "indecentes".
O que potencializa lucros e dividendos é a política de preços da Petrobras, que transfere para os consumidores a variação do preço do petróleo no exterior. A prática foi adotada em 2016, no governo Temer. Na campanha presidencial do ano passado, Lula chamou Bolsonaro de "embusteiro" por não alterar a regra. "Para aumentar o preço do combustível e transformar em preço internacional foi numa canetada", disse Lula. "Para tirar também pode ser numa canetada. Bolsonaro, se tivesse coragem, se não fosse um fanfarrão, um embusteiro, já teria feito isso."
Em pleno exercício do seu terceiro mandato, Lula parece afiar a caneta. Para retomar parte dos impostos federais sobre combustíveis que Bolsonaro havia isentado, o Planalto obteve um desconto da Petrobras. E taxou as exportações de petróleo cru. Mandou suspender a venda de ativos da petroleira. Empurrou um pedaço dos dividendos —R$ 6,5 bilhões— para dentro de uma "reserva estatutária" cuja destinação ainda não foi esclarecida. Organiza-se, de resto, um grupo de trabalho para revolver a política de preços dos combustíveis, que deve mudar em abril.
A movimentação do governo estimula o receio de que Lula repita na Petrobras erros cometidos sob Dilma Rousseff. Entre 2014 e 2015, submetida aos efeitos da roubalheira do petrolão e a uma política de represamento artificial dos preços, a Petrobras registrou prejuízo de cerca de R$ 80 bilhões.
Como acionista majoritário da empresa, o governo é o maior beneficiário individual da distribuição dos dividendos. O lucro de 2022 levou para os cofres do Tesouro Nacional R$ 78,9 bilhões. É dinheiro que o governo pode investir em ações sociais. A Petrobras recolheu, de resto, R$ 279 bilhões em impostos no ano passado.
Se quiser, Lula pode submeter a Petrobras à "canetada" que preconizou na campanha. Mas convém calibrar os movimentos. Nem todo mundo está convencido de que o lucro da maior estatal do país é um crime. Mas a maioria já aprendeu que o prejuízo é um suicídio.
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