sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Excesso de perversões estatais desfaz efeito benigno de prisões



Num único dia, foram penduradas nas manchetes três evidências de que o Estado brasileiro precisa cuidar para não ser confundido com uma outra ramificação do crime organizado.

A Polícia Federal prendeu no Rio de Janeiro quatro policiais civis e um advogado acusados de entregar 16 toneladas de maconha ao Comando Vermelho em troca de propinas. A polícia civil carioca recuperou oito das 21 metralhadoras desviadas do arsenal de guerra do Exército, em São Paulo, e comercializadas com uma narcomilícia que reúne milicianos e operadores do Comando Vermelho no Rio.

Na Bahia, um investigador da Polícia Civil foi preso sob a suspeita de atuar num grupo de extermínio que, nas horas vagas, opera no ramo das extorsões mediante sequestro. Simultaneamente, realizaram-se batidas de busca e apreensão nos endereços de um delegado e de quatro policiais militares baianos.

Os flagrantes provocam asco. É sempre desagradável dar de cara com a podridão. Vistos isoladamente, porém, estimulam um certo otimismo, porque consistem na descoberta de ilícitos que estavam escondidos. O desmascaramento de agentes públicos desonestos satisfaz a expectativa da sociedade. Se a perversão veio à tona, é porque o Estado não perdeu a capacidade de se purificar.

Entretanto, quando observados em conjunto, os crimes estatais, um atropelando o outro no noticiário, destroem o efeito benigno. A sensação é de cansaço. Potencializa-se a percepção de que a cada policial, delegado ou militar corrompido se sucederão outros iguais.

Dias atrás, o Conselho Nacional de Justiça afastou de suas funções o desembargador baiano Luiz Fernando Lima. Na madrugada de um final de semana de setembro, o doutor transferiu de uma cadeia de segurança máxima para a prisão domiciliar Ednaldo Ferreira, o Dadá. Bandido de mostruário, fundador de organização criminosa batizada de Bonde do Maluco, Dadá sumiu.

Consolida-se a impressão de que a criminalidade no país mudou de patamar. O crime é cada vez mais organizado porque o Estado se esculhambou. Em franco processo de mexicanização, o Brasil vive um momento de ultrapassagem. Aos pouquinhos, a banda desonesta da engrenagem pública vai vencendo a guerra.

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