sábado, 7 de outubro de 2023

Crime organizado pulveriza plano anticrime do governo



A criminalidade pulverizou o plano anticrime de Flávio Dino em menos de uma semana. Na segunda-feira, o ministro da Justiça lançou em Brasília o seu Enfoc, Programa Nacional de Enfrentamento às Organizações Criminosas. No capítulo emergencial, o embrulho continha reforço policial e monetário para Bahia e Rio de Janeiro. Na quinta, duas chacinas desafiaram as autoridades nessas dois estados.

Numa, quatro médicos paulistas foram crivados de balas na orla carioca. Três morreram. Noutra, uma família inteira foi passada nas armas na cidade baiana de Jequié. Os assassinos não pouparam nem mesmo uma criança de cinco anos. Houve seis mortes —sete se for levado em conta que uma das vítimas estava no nono mês de gravidez. Ficou mais uma vez entendido que o crime organizado não teme o estado brasileiro.

Pior: os criminosos incorporam suas vernissagens de cadáveres à paisagem das autoridades. Flávio Dino desembrulhava seu pacote de segurança em Salvador, ao lado do governador petista Jerônimo Rodrigues, quando os corpos da chacina de Jequié foram pendurados nas manchetes. Nesta sexta-feira, descobre-se que a polícia do Rio localizou os corpos de bandidos suspeitos de participação na execução dos médicos. Teriam sido condenados à morte pelo tráfico por ter matado as pessoas erradas. O alvo seria um miliciano parecido com um dos médicos.

O crime é autossuficiente. Elege os alvos, financia a execução e mata os matadores em caso de erro. O Estado é mais lento. Afora o atendimentos às emergências baiana e carioca, o plano anticrime de Dino possui cinco eixos genéricos e uma promessa de que serão detalhados posteriormente. O ministro talvez precise incluir no seu cronograma o planejamento do insolúvel.

A percepção de que a insegurança se tornou algo indissolúvel produz um fenômeno nefasto. Há uma certa domesticação do horror. O país passa a tratar a morte e a violência como anormalidades da vida normal.

No Rio, o quiosque onde foram assassinados três médicos foi reaberto na manhã desta sexta-feira como se o sangue não tivesse escorrido entre suas mesas na véspera. O congresso de medicina que antecipou o encontro dos médicos paulistas com a morte manteve sua agenda.

É como se o país negligenciasse a própria derrocada para manter a criminalidade à margem de sua realidade paralela. O diabo é que a reincidência do crime conspira contra o desejo de fingir. O problema da segurança pública no Brasil não é político nem jurídico. É dramático!

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